QUANTO CUSTA APUNHALAR A FPU?

O coordenador do projecto político PRA-JA Servir Angola, Abel Epalanga Chivukuvuku, acredita que o mesmo se tornará partido político em 2023. Claro. Nada de novo. Uma condecoração, uma promessa, uns milhões de dólares e uma faca para apunhar (pelas costas) o líder da Frente Patriótica Unida, pela qual foi candidato a vice-presidente, nas eleições de 2022.

Por Orlando Castro

Em Malanje, Abel Chivukuvuku diz estar confiante e afirma haver normas que determinam as formalidades para a legalização de um partido político e foram cumpridas: “Neste momento, nós determinamos como agenda este ano de 2023 legalizar o Pra-JA Servir Angola, e há muitos caminhos. Todos eles do fórum judicial, e pensamos que até Setembro ou Outubro nós temos o Pra-JA legalizado”.

De acordo com a VoA, Abel Chivukuvuku descarta qualquer reintegração na organização criada por Jonas Savimbi. Vejamos a explicação da nova aquisição do MPLA, uma espécie mais moderna de Jorge Valentim e de um partido que aceita desempenhar o papel de uma cópia da UNITA-Renovada.

“Não. Primeiro não considero a hipótese do Pra-JA não ser legalizado, porque os órgãos judiciais têm que respeitar os trâmites, as normas”, afirma Abel Chivukuvuku, para quem “felizmente, agora estamos todos a assistir o descrédito total do sistema judicial, o Tribunal de Contas, Tribunal Constitucional, Tribunal Supremo está tudo em baixo”.

Quanto à FPU, o antigo líder da CASA-CE afirma que ela está viva e corporizada através do grupo parlamentar da UNITA, que realiza concertações de liderança com os presidentes daquele partido e do Bloco Democrático, ressalta o papel dos partidos políticos da oposição.

O coordenador do Pra-JA diz que o Governo pode fazer mais e garantir melhores condições de vida para o cidadão, e não perpetuar a vergonha que se vive por todo país, desde as condições dos casebres à falta de alimentação.

Este é o mesmo Abel Epalanga Chivukuvuku que há dias foi condecorado por João Lourenço com a “Ordem da Paz e Concórdia, 1.º Grau”, e aceitou.

Não, não é certamente o mesmo Abel Epalanga Chivukuvuku que, em 2017, prometeu construir uma cadeia exclusiva para gestores públicos Governo, no quadro de um plano anticorrupção. Quando em vez de valor se tem preço, dá nisso. Só fica a faltar apunhalar, pelas costas, Adalberto da Costa Júnior… Como agora se vê, Chivukuvuku está ao lado do líder da UNITA, mas não está do seu lado. Estará sim do lado do… MPLA.

Em caso de vitória nas eleições de 2017, o então presidente da CASA-CE, que por sinal era Abel Chivukuvuku, prometeu construir uma cadeia exclusiva para gestores públicos do Governo, no quadro de um plano anticorrupção.

O anúncio foi feito em Benguela, onde Abel Chivukuvuku falou de pobreza e das políticas públicas. Antes de avançar para a construção da cadeia, o líder da CASA-CE prometeu melhorar a situação social do trabalhador angolano.

Perante centenas de militantes da CASA-CE e representantes da sociedade civil, Abel Chivukuvuku deixou claro que a situação de pobreza, que atinge 60 por cento da população, mereceria destaque na sua campanha eleitoral.

Na altura parecia que Abel Chivukuvuku jogava ao ataque e queria ganhar. Depois passou a jogar para empatar. Agora pretende apenas perde… por poucos golos.

Na época (só foi em 2017), Abel Chivukuvuku disse não ser sensato que se castigue o agente da polícia que pede uma «gasosa» ao automobilista, enquanto o ministro se mantém impune. Até parecia um político sério, íntegro, patriota, com coluna vertebral erecta e cérebro no sítio certo. Ledo engano.

“Vamos criar uma polícia especial contra a corrupção como os sul-africanos tinham chamada Scorpions, mas com ordens para começar a apanhar de cima, e vamos construir no Sumbe uma cadeia especial para os mais velhos”, garantiu Abel Chivukuvuku. O Povo aplaudiu. Afinal, na rifa, saiu uma marioneta nas mãos de João Lourenço.

(Auxiliar linguístico. Marioneta: Boneco manipulável, geralmente através de cordéis e engonços ou através da mão introduzida numa espécie de luva que constitui o corpo do boneco. Pessoa subserviente, sem carácter, facilmente manipulável)

O então presidente da Convergência Ampla de Salvação de Angola falou também em colonialismo doméstico e teceu duras críticas ao Governo devido ao que chamou de falta de projecto de Nação.

“Agora são José Eduardo dos Santos, Manuel Vicente, Kopelipa, colonialismo doméstico, e a partir daí entrámos no tal ciclo de reprodução da pobreza: uns começaram a ter, e são os novos colonos domésticos, e outros deixaram de ter porque são os excluídos”, acusou Abel Chivukuvuku.

Entretanto, para aquele político da Oposição, o Executivo podia não ser o único culpado pela situação de extrema pobreza em Angola. “O mais grave das nossas sociedades é o espírito de resignação voluntária do cidadão e ausência do espírito de reivindicação”, concluiu Abel Chivukuvuku, que lamentou que “aceitamos a pobreza”. Quem te viu e quem te vê. É claro que o manipulador da marioneta é mestre na matéria.

Em Junho de 2017, Abel Chivukuvuku, defendeu a proposta de lei do MPLA que visava dar regalias e o título de emérito ao presidente cessante, nunca nominalmente eleito e nos poder há 38 anos, José Eduardo dos Santos. A esmagadora maioria dos angolanos, onde se incluem os 20 milhões de pobres, estava contra. Mas isso é um pormenor sem interesse…

A proposta de um estatuto especial, nesta circunstância, para um Presidente que, entre muitas outras mais-valias igualmente eméritas, conseguiu colocar Angola no “ranking” dos países mais corruptos do mundo, conseguiu pôr o país a liderar o índice da mortalidade infantil no… mundo e, num país com perto de 33 milhões de habitantes, teve o engenho e arte de criar 20 milhões de pobres, deve ser unanimemente apoiada por todos.

Ora aí está. Já altura, Abel Chivukuvuku estava reconhecido ao MPLA – só lhe ficou bem, diga-se – ao seu actual patrono (primeiro a José Eduardo dos Santos e depois João Lourenço) e esqueceu-se (o que é fácil) de quem dele fez um homem: Jonas Malheiro Savimbi. Aliás, trata-se de um agradecimento a quem o pôs a comer lagosta e o socorreu quando foi ferido. “Consta” que quando Savimbi disse que preferia ser livre de barriga vazia do que escravo com ela cheia, Abel Chivukuvuku quase desmaiou… de fome!

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