PRÉMIO PARA O REALIZADOR CARLOS CONCEIÇÃO

O realizador luso-angolano (ou angolano-português) Carlos Conceição foi distinguido com o Prémio Nacional de Cultura e Artes (PNCA) de Angola, edição 2023, pelo conjunto da sua obra, com destaque para o filme “Nação Valente”.

Carlos Conceição (foto), realizador que nasceu na província angolana do Cunene e cresceu na cidade do Lubango e também com nacionalidade portuguesa, venceu a categoria de cinema e audiovisual.

O júri do PNCA edição 2023 justifica a atribuição do prémio, na sua deliberação, pelo conjunto da obra de Carlos Conceição, destacando o filme “Nação Valente” pela abordagem “estética, cultural, histórica e pela dimensão internacional”.

“Nação Valente”, segunda longa-metragem do realizador produzida em 2022, invoca os fantasmas do passado colonial angolano, enquanto abraça o poder simbólico da cinematografia de terror.

Para a categoria das artes visuais e plásticas, o júri decidiu atribuir o prémio à artista angolana Ana Susana David “Kiana” pela sua obra baseada numa “constante experimentação de materiais sustentáveis que não prejudicam o meio ambiente”.

Na categoria da literatura, o distinguido foi o escritor João Tala, poeta e prosador angolano, que “se destaca pelo prestígio e fortuna crítica que a sua produção artística possui, bem como seu pensamento de valor multifacetado”, argumenta o júri.

O músico, compositor e instrumentista Miguel Francisco dos Santos Rodolfo “Kituxi”, com mais de 50 anos de carreira, foi galardoado na categoria de música “pelo seu percurso e contributo para a preservação dos estilos e instrumentos musicais tradicionais angolanos”.

A sua valorização e preservação do hungo, puita, kissanji, dikanza, mukindo e ngoma (instrumentos musicais tradicionais de Angola), como forma de afirmação e salvaguarda da cultura angolana também concorrem para a distinção do conhecido líder do “Agrupamento Kituxi e seus acompanhantes”.

Em ciências humanas e sociais foi distinguido o colectivo de autores da colectânea “Várias Línguas, uma Nação: Construamos o Futuro”, porque, observa o júri, a obra composta por nove títulos indissociáveis entre si vale pela sua interconexão.

O júri da 24.ª edição do PNCA, presidido por Maria José Faria Ramos, galardoou também o grupo “Palasa Dance Company”, na categoria de dança, pelo “destaque e excelência” que apresentou na Casa das Artes o seu espectáculo “Dose Dupla”, uma “versão mais curta que não perdeu a linha narrativa de dois espectáculos do seu repertório”.

E na categoria de teatro, o júri decidiu atribuir o prémio ao projecto Amostra Nacional de Teatro pelo “contínuo esforço empregue na promoção e valorização da actividade teatral em Angola, do impacto social, didáctico, cultural e artístico” do mesmo.

A Amostra Nacional de Teatro é um evento que visa promover o teatro angolano com acções formativas, turismo e espectáculo, incentivar a unidade entre os grupos teatrais em Angola e mostrar o teatro que é produzido na província do Uíje à comunidade nacional e internacional.

O Prémio Nacional de Cultura e Artes é a mais importante distinção cultural do Estado angolano para reconhecer e incentivar a excelência artística, cultural e das ciências humanas e sociais.

O Prémio Nacional de Cultura e Artes é o maior reconhecimento do Estado pelo trabalho desenvolvido pelos artistas que o MPLA, partido que governa Angola há 48 anos, considera angolanos nas suas mais variadas formas de expressão artística.

O galardão visa incentivar a criação artística e cultural, bem como a investigação científica no domínio das ciências humanas e sociais

Referências das artes e cultura nacional como Óscar Ribas, Viteix, Zé Keno, Rui Duarte de Carvalho, Boaventura Cardoso, Ngola Ritmos, Pepetela, Bonga, Waldemar Bastos, Óscar Gil, António Ole, Jorge Macedo, Maria João Ganga, Nguxi dos Santos, Carlos Lamartine, dentre outros, fazem parte da lista de vencedores do Prémio Nacional de Cultura e Artes.

Recorde-se que, em 2022, o júri do Prémio Nacional da Cultura e Arte atribuiu por unanimidade o galardão na categoria de literatura, a António Agostinho Neto, o único herói nacional permitido pelo MPLA e genocida responsável pelo assassinato de milhares e milhares de angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977.

No texto de justificação a organização menciona que “o poeta merece a distinção no ano da comemoração do seu centenário de nascimento pela transversalidade e valor multifacetado da sua obra e pensamento, pelo modo como se abre às problemáticas das culturas em Angola, das línguas nacionais, à filosofia africana, à questão da mulher e o seu entrelaçamento com as outras disciplinas artísticas, tais como a música, a dança, o cinema, o teatro e a literatura universal”.

Os textos de Agostinho Neto, um dos três fundador da nação angolana (os outros são Holden Roberto e Jonas Savimbi), sublinha a organização do prémio, “produzem significação que os traduz como poéticas do múltiplo e escrituras expandidas nas séries da cultura. Trata-se de um poeta que nos ajuda a consolidar a política que nos deve orientar na construção da unidade nacional, assente no respeito pela diversidade cultural dos diferentes povos que constituem Angola; além disso, estes textos permitem-nos construir nos domínios do ensino e aprendizagem e da investigação, problemas de ordem intelectual e prática ao serviço dos nossos mais profundos e elevados valores”.

Folha 8 com Lusa

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