MILAGRE. BISPOS ADOPTAM TESES DO FOLHA 8

Os Bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) consideram que Angola, após 21 anos de paz (e, acrescente-se, 47 de independência), “precisa de uma nova Constituição”, por “na prática” as instituições estarem “reféns do partido no poder”, o MPLA. Louvado seja Deus! A Igreja Católica defende agora as teses que o Folha 8 advoga há muitos, muitos anos.

A Comissão Episcopal de Justiça e Paz da CEAST, numa mensagem para a Jornada Nacional da Reconciliação e Paz 2023, recorda que o calendário nacional estabeleceu o 4 de Abril como feriado nacional para celebrar os acordos de paz que puseram fim a anos de “guerra intestina”.

Com efeito, sublinha o documento divulgado neste domingo, na abertura da jornada que se prolonga até 4 de Abril, passaram 21 anos desde que se calaram as armas, “sendo o mais longo período de ausência de guerra” que Angola registou nos seus quase 48 anos de independência.

Para essa “ingente” tarefa de edificação de “uma paz com conteúdo para todos e cada cidadão deste portentoso país”, Angola “necessita de uma nova Constituição de acordo com as exigências da hora presente”.

Para a CEAST, a “prática actual faz com que as instituições do país sejam reféns do partido no poder”, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder desde 1975.

“As instituições vão perdendo credibilidade a nível nacional e internacional por causa da corrupção e da impunidade, embora a mídia estatal se esforce em querer mostrar outra imagem de Angola”, referem os bispos na nota.

A mensagem, alusiva à 22ª Jornada Nacional da Reconciliação e Paz, promovida desde 1996 pela Igreja Católica angolana, foi apresentada no domingo, durante uma missa presidida, no Seminário Maior de Luanda, pelo presidente da CEAST, arcebispo José Manuel Imbamba.

“Aprendei a Fazer o Bem e Buscai a Justiça” é o lema das jornadas que, segundo a CEAST, “impelem a buscar o bem e a aprender na escola da Sagrada Escritura, a buscar a justiça em atenção aos mais vulneráveis”.

Nesta jornada da reconciliação, a igreja católica convida “a uma introspecção e reflexão profunda sobre os males” que “afligem: mentalidade feiticista, ódio, intolerância, falta de transparência na gestão da coisa pública, busca incessante do poder a qualquer preço e a instrumentalização dos meios de comunicação públicos”.

A justiça “é como um tesouro que deve ser procurado e desejado”, sustenta.

“É o objectivo da nossa acção pastoral. Praticar a justiça ajuda-nos a aprender a fazer o bem. É saber captar a vontade de Deus, que é o nosso bem”, salienta a mensagem.

Angola assinala em 4 de Abril os 21 anos de paz e reconciliação nacional, feriado nacional alusivo à assinatura dos acordos de paz em 2002.

A Comissão Episcopal de Justiça e Paz da CEAST reconhece que ao longo deste período “muitas coisas mudaram em Angola”, enaltece as “conquistas alcançadas”, questionando, no entanto, os benefícios atuais da paz na vida dos cidadãos.

“É verdade que a guerra aberta acabou, mas será que pode afirmar que todos os angolanos e angolanas vivem segundo as exigências da dignidade humana? É verdade que o país, em termos económicos, cresceu nos últimos anos, mas podemos dizer que este crescimento afecta, positivamente, todas as classes sociais do nosso país?”, perguntam os bispos.

“Estas interrogações podem ser respondidas com honestidade por cada um de nós”, apontam ainda.

Os bispos católicos angolanos, nesta mensagem assinada pelo arcebispo Gabriel Mbilingi, presidente da Comissão Episcopal de Justiça e Paz da CEAST, propõe também uma jornada que “busque a cura da degradação e da corrupção que o pecado provocou em nós”.

“Por isso, sugerimos que, em cada lugar, se proporcionem momentos de reflexão e de um verdadeiro exercício para a busca da justiça e do bem”, assinala.

O Dia da Paz e da Reconciliação Nacional “deve despertar em nós a consciência de cidadania e a responsabilidade de nos sentirmos construtores da paz. Acreditamos que, recordar este dia, faz com que cada um se comprometa, a partir do âmbito que lhe corresponde”, acrescenta ainda a mensagem.

E assim fala(va) Lopo do Nascimento

O antigo primeiro-ministro Lopo do Nascimento lamentou no dia 27 de Junho de 2018 a perda de oportunidade de Angola ter desenvolvido a sua agricultura e indústria quando o país vivia tempos favoráveis, com o preço alto do petróleo.

Primeiro-ministro de Angola entre 11 de Novembro de 1975 (data da proclamação da independência) e Dezembro de 1978, Lopo do Nascimento foi nesse dia conferencista principal no I Congresso da Produção Nacional, organizado pela Confederação Empresarial de Angola, em Luanda.

Lopo do Nascimento, também antigo secretário-geral do MPLA, partido no poder desde a independência, recordou o lema lançado na época pelo primeiro Presidente da República, António Agostinho Neto, que “a agricultura é a base do desenvolvimento e a indústria o factor decisivo”.

Sobre esse lema, Lopo do Nascimento usou o trocadilho “o contrato é a base e a comissão o factor decisivo” para criticar “o abandono do lema, com o argumento da guerra”, na altura em que foi chefe de Estado José Eduardo dos Santos (38 anos, recorde-se), que substituiu António Agostinho Neto pelo seu falecimento.

“Mas, depois de alcançada a paz, não soubemos aproveitar a conjuntura favorável, proporcionada pelo aumento da produção do petróleo e o do seu preço, para o desenvolvimento do binómio agricultura/indústria, na perspectiva de Agostinho Neto. Substituiu-se o lema por um novo lema: o contrato é a base a comissão o factor decisivo”.

Segundo Lopo do Nascimento, Angola possui “enormes extensões de terras ociosas que não têm qualquer utilidade, porque os seus utentes não investem e não criam empregos para as populações da zona”.

“Temos no interior do país uma situação um pouco incompreensível. A agricultura não se desenvolve, porque não há comércio e o comércio não atrai ninguém, porque não há produção agrícola, fica toda a gente à espera de um projecto do Estado, que permite acesso a créditos – que não se pagam como aconteceu com o BPC [Banco de Poupança e Crédito] – de divisas que geralmente se utilizam para outros fins”, referiu.

Recordou que em Angola, mais de 60% da área cultivada é feita com o uso predominante da enxada, situação que considerou “um enorme desafio e uma oportunidade extraordinária para se investir no aumento da produtividade, através da mecanização gradual, tractores e outros equipamentos agrícolas ligados à produção”.

Ostentando, na altura, o cargo honorífico de administrador não executivo da petrolífera estatal Sonangol, Lopo do Nascimento lembrou que o país continuava a ser caracterizado por um deficiente ambiente de negócios e pela falta de incentivo das políticas governamentais para o crescimento dos empresários.

“E um exemplo disso foi o modo como foi concebido, gerido e implementado o programa de um milhão de casas [compromisso eleitoral do MPLA nas eleições legislativas de 2008], em que perdemos a oportunidade para desenvolver a indústria dos materiais de construção e as empresas de construção”, criticou Lopo do Nascimento.

Lopo do Nascimento manifestou-se contra a construção de uma Angola com base em realidades diferentes à identidade do país, pelo que sempre coloca dúvidas “em relação a projectos em que a componente interna se resume à terra, à água ou à força de trabalho não qualificada”.

O dirigente angolano apelou aos empresários para que se preparem para os novos desafios da cooperação económica regional, lembrando que “os tempos das divisas fáceis já lá vão e não voltarão”, havendo necessidade de se inverter a situação que se vive actualmente.

A Lopo do Nascimento só faltou aconselhar, como tem feito o Folha 8, a que se faça um “reset” ao país, mas sobretudo ao MPLA, o único partido que pode, e deve, ser responsabilizado pelo desastre em que estamos.

Folha 8 com Lusa

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