O Folha 8 acaba de publicar, sob o título “Cada um tem a sua verdade”, um texto da Lusa a propósito da livro, escrito por José Eduardo Agualusa, “Vidas e mortes de Abel Chivukuvuku”. Abel promete, aliás, mais livros onde irá contar a sua verdade. “Best-sellers” garantidos.
Por Orlando Castro
Por falar em verdades, recorde-se que Abel Epalanga Chivukuvuku foi condecorado por João Lourenço com a “Ordem da Paz e Concórdia, 1.º Grau”, e aceitou. Será o mesmo Abel Chivukuvuku que, em 2017, prometeu construir uma cadeia exclusiva para gestores públicos Governo, no quadro de um plano anticorrupção? Na minha opinião, se preferirem na minha pequena verdade, quando em vez de valor se tem preço, dá nisso. Será que em algum dos seus garantidamente “best-sellers” Abel irá falar dos manos que apunhalou pelas costas?
Em caso de vitória nas eleições de 2017, o então presidente da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, prometeu construir uma cadeia exclusiva para gestores públicos do Governo, no quadro de um plano anticorrupção.
O anúncio foi feito em Benguela, onde Abel Chivukuvuku falou de pobreza e das políticas públicas. Antes de avançar para a construção da cadeia, o então líder da CASA-CE prometeu melhorar a situação social do trabalhador angolano.
Perante centenas de militantes da CASA-CE e representantes da sociedade civil, Abel Chivukuvuku deixou claro que a situação de pobreza, que atinge 60 por cento da população, mereceria destaque na sua campanha eleitoral.
Abel Chivukuvuku considerava que existia um fio condutor capaz de ligar a corrupção aos actuais níveis de pobreza.
Aqui chegado, disse não ser sensato que se castigue o agente da polícia que pede uma «gasosa» ao automobilista, enquanto o ministro se mantém impune.
“Vamos criar uma polícia especial contra a corrupção como os sul-africanos tinham chamada Scorpions, mas com ordens para começar a apanhar de cima, e vamos construir no Sumbe uma cadeia especial para os mais velhos”, garantiu Chivukuvuku.
O presidente da Convergência Ampla de Salvação de Angola falou também em colonialismo doméstico e teceu duras críticas ao Governo devido ao que chamou de falta de projecto de Nação.
“Agora são José Eduardo dos Santos, Manuel Vicente, Kopelipa, colonialismo doméstico, e a partir daí entrámos no tal ciclo de reprodução da pobreza: uns começaram a ter, e são os novos colonos domésticos, e outros deixaram de ter porque são os excluídos”, acusou Abel Chivukuvuku.
Entretanto, para o mano (ou camarada) Abel, o Executivo podia não ser o único culpado pela situação de extrema pobreza em Angola. “O mais grave das nossas sociedades é o espírito de resignação voluntária do cidadão e ausência do espírito de reivindicação”, concluiu Abel Chivukuvuku, que lamentou que “aceitamos a pobreza”. Quem te viu e quem te vê.
Em Junho de 2017, Abel Chivukuvuku, defendeu a proposta de lei do MPLA que visava dar regalias e o título de emérito ao presidente cessante, nunca nominalmente eleito e nos poder há 38 anos, José Eduardo dos Santos. A esmagadora maioria dos angolanos, onde se incluem os 20 milhões de pobres, estava contra. Mas isso é um pormenor sem interesse…
A proposta de um estatuto especial, nesta circunstância, para um Presidente que, entre muitas outras mais-valias igualmente eméritas, conseguiu colocar Angola no “ranking” dos países mais corruptos do mundo, conseguiu pôr o país a liderar o índice da mortalidade infantil no… mundo e, num país com perto de 33 milhões de habitantes, teve o engenho e arte de criar 20 milhões de pobres, deve ser unanimemente apoiada por todos.
E, assim sendo, Abel Chivukuvuku estava apenas a assumir e transmitir o pensamento de um povo sofredor cuja figura mais emblemática era então Isabel dos Santos, a multimilionária Presidente do Conselho de Administração da Sonangol. Reconheça-se, em abono da tese do então emérito líder da CASA-CE, que esta posição foi digna de um rasgado elogio e de um diploma de mérito por parte do MPLA. Não teve esse diploma na altura, mas acabou por receber a “Ordem da Paz e Concórdia, 1.º Grau”.
Na defesa da tese do MPLA, o então presidente da CASA-CE disse que “é algo necessário e normal em todas as sociedades democráticas para que haja serenidade, transmita-se confiança e segurança para aqueles que tiveram um determinado papel em determinado tempo e que quando saem precisam que o estado lhes garanta segurança, tranquilidade mas sobretudo dignidade”. Abel Chivukuvuku foi, aliás, mais longe ao dizer que a questão das regalias previstas “é o menos importante”.
Ora aí está. Abel Chivukuvuku estava reconhecido – só lhe fica bem, diga-se – ao seu actual patrono (primeiro a José Eduardo dos Santos e depois João Lourenço) e esqueceu-se (o que é fácil) de quem dele fez um Homem: Jonas Malheiro Savimbi. Aliás, trata-se de um agradecimento a quem o pôs a comer lagosta e o socorreu quando foi ferido.
Que importa(va), afinal, que o MPLA tenha liderado o massacre de Luanda que visou o aniquilamento e de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, onde morreram 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili?
Que importa(va), afinal, que o MPLA tenha liderado o massacre do Pica-Pau em que, no dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados no Comité de Paz da UNITA em Luanda?
Que importa(va), afinal, que aviação do MPLA, em Junho de 1994, tenha bombardeado e destruído a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores, e que, entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, tenha bombardeado indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis?
Nada disso importa(va). “O mais importante era, é, – segundo Abel Chivukuvuku – transmitir confiança, segurança e sobretudo dignidade para aqueles que desempenharam determinadas funções”, e com isso “transmitir confiança ao país”.
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