DO MESTRE AGOSTINHO NETO AO APRENDIZ PINOCHET

Massacres são massacres. Ou será que há massacres de primeira e de segunda? Ou será que é mais grave massacrar brancos do que massacrar negros? Ou será que é mais grave Augusto Pinochet ter massacrado mais de três mil chilenos, do que Agostinho Neto (MPLA) ter massacrado mais de 60 mil angolanos?

Por Orlando Castro

Vários chefes de Estado e de Governo de países ditos civilizados, democracias e estados de direito, incluindo o primeiro-ministro português, António Costa, estão no Chile para participar nas cerimónias do 50.º aniversário do golpe em que Augusto Pinochet tomou o poder ao derrubar o Presidente Salvador Allende.

Como certamente justificará António Costa, ou Marcelo Rebelo de Sousa, todo o mundo sabe que o MPLA – logo a seguir à doação de Angola ao partido de Agostinho Neto – só usava armas inteligentes (já para não falar dos seus militares) que distinguiam os alvos: se fossem militares… acertavam, se não fossem… desviavam. Já as da UNITA matavam tudo quanto aparecesse pela frente.

Todos sabem também que se o MPLA praticou algum tipo de terrorismo e vários massacres que, contudo, eram inequivocamente um terrorismo e massacres bons. O que se passou no dia 27 de Maio de 1977 (60 a 80 mil mortos) é prova disso.

Aliás, o terrorismo/massacres é qualificado em função do número de vítimas e de os seus dirigentes serem, ou não, primeiros-ministros ou presidentes. Por ser responsável por três mil desaparecidos, Augusto Pinochet e o seu governo são uns monstros. Já por ter morto Nito Alves e apenas mais 60/80 mil compatriotas, o MPLA é um exemplo para a humanidade.

Sabe-se que no massacre de Luanda que visou o aniquilamento da UNITA e cidadãos Ovimbundus e Bakongos, e que se saldou no assassinato de 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili, foi tudo resultado pedagógico de um massacre… bom. É isso, não é, senhores Marcelo Rebelo de Sousa, Augusto Santos Silva, António Costa e Luís Montenegro?

Sabe-se que o massacre do Pica-Pau em que no dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados no Comité de Paz da UNITA em Luanda… foi tudo obra dos tais massacres bons e profilácticos.

Sabe-se agora que o massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção foi tudo obra dos tais massacres bons e profilácticos.

Sabe-se que o facto de, entre 1978 e 1986, centenas de angolanos terem sido fuzilados publicamente nas praças e estádios das cidades de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 patriotas e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda… foi tudo obra dos tais massacres bons e profilácticos.

Sabe-se agora que o facto de no dia 29 de Setembro de 1991 ter sido assassinado, em Malange, o secretário Provincial da UNITA Lourenço Pedro Makanga, a que se seguiram muitos outros na mesma cidade foi tudo obra dos tais massacres bons e profilácticos.

Sabe-se que o facto de em Junho de 1994, a aviação ter bombardeado e destruído a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores que o facto de entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, a aviação ter bombardeado indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis, foi tudo obra dos tais massacres bons e profilácticos.

Sabe-se que o facto de entre Abril de 1997 e Outubro de 1998, na extensão da Administração ao abrigo do protocolo de Lusaka, terem sido assassinados mais de 1.200 responsáveis e dirigentes dos órgãos de Base da UNITA em todo o país… foi tudo obra dos tais massacres bons e profilácticos.

«Por estranho que pareça, as atrocidades cometidas no Chile de Pinochet, se comparadas com o que se passou, de 1977 a 1979, no país de Agostinho Neto, assumem modestas proporções. E o mais chocante é que, no caso de Angola, nem sequer atingiram inimigos, mas sim membros da própria família política,» escreveram Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus no livro “Purga em Angola”, que certamente nem António Costa nem Marcelo Rebelo de Sousa leram.

Só nos falta ver, um dia destes, Marcelo Rebelo de Sousa (ou qualquer outra besta similar) condecorar – mesmo que a título póstumo – os grandes exemplos dos bons genocidas angolanos, casos de Agostinho Neto, Lúcio Lara, Iko Carreira, Costa Andrade (Ndunduma), Henriques Santos (Onanbwe), Luís dos Passos da Silva Cardoso, Ludy Kissassunda, Luís Neto (Xietu), Manuel Pacavira, Beto Van-Dunem, Beto Caputo, Carlos Jorge, Tito Peliganga, Eduardo Veloso, Tony Marta, José Eduardo dos Santos.

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