Ilídio Manuel escreveu hoje: “Amílcar Xavier foi ao seu “baú de memórias” onde resgatou e trouxe de volta ao espaço público o “desaparecido” economista Fernando Heitor. Lembram-se dele? Do antigo dissidente da UNITA que, depois de devidamente “espremido” pelo ” M”, foi atirado para as sarjetas do esquecimento?” Recordemo-lo. A ele e a outros.
O Jornal de Angola, na sua qualidade de órgão oficial do MPLA, pode berrar, saltar e comer as pontas às bissapas. Tem esse direito. Existe exactamente para isso. Tal como existem mercenários e sipaios na UNITA que preferem ser escravos de barriga cheia do que livres com ela vazia…
O volume dos guinchos do Jornal de Angola (tal como da TPA, RNA, Angop, etc.) não incomodam. O que nos irrita é o silêncio criminoso e as traições de pessoas que pensávamos ser de bem, sobretudo dos organismos internacionais que deveriam, dizemos bem – deveriam, evitar que isto se passasse nos órgãos de comunicação em geral, e nos públicos em particular.
Há uns anos, Agosto de 2008, o Jornal de Angola guinchou com todos os decibéis disponíveis, dizendo que “Fernando Heitor, com tiques savimbistas de triste memória, com esgares de Jack o Estripador, também falou de milhões de dólares desaparecidos no pântano da corrupção. Heitor e a UNITA devem saber para onde foram os biliões de dólares dos diamantes de sangue”.
Mesmo sem ter frequentado as aulas de educação patriótica (ainda está a tempo), o ex-deputado da UNITA resolveu em 2017 saltar a barricada e passar-se para o lado do MPLA. Na altura não estava em questão saber o montante da compra mas, apenas, esperar o que iria dizer o Jornal de Angola sobre esta comprada conversão.
Não há dúvida que o MPLA estava com a corda no pescoço. Estava (como está) a ver que do outro lado da bissapa está o caçador pronto a acabar com tantos guinchos. Estão os angolanos prontos para apostar na mudança e, finalmente, mandar para as latrinas onde foram gerados todos aqueles que vegetam à sombra do dinheiro roubado ao Povo?
Ainda segundo o Jornal de Angola, “Fernando Heitor, no seu discurso, ainda escorria umas gotas de raiva pelos cantos da boca. Um rapaz desempoeirado apareceu com a camisola do MPLA, disse que “o dinheiro é nosso” e despiu a camisola. Ficou nu da UNITA para cima. O dinheiro dos diamantes de sangue voa baixinho, como o galo negro”.
Pois é. Mas, depois, certamente o comportamento de Fernando Heitor será purificado e o ex-deputado (como outros ex-altos dirigentes da UNITA) passaria de besta a bestial para mais tarde regressar à bestialidade. É claro que Fernando Heitor não estava preocupado. Os valores são outros e, como esperado, iria dizer cobras e lagartos de Jonas Savimbi e acrescentar que nunca ouviu falar dos princípios do Muangai.
O desespero do MPLA era, na verdade, cada vez maior. Já não sabiam o que fazer. Tentaram (tentam) tudo. Ofereceram carros, motas, bicicletas, comida, bebida e dinheiro mas, pelos vistos, os angolanos estão mesmo dispostos à mudança. Compram deputados da oposição interna, jornalistas, políticos e magistrados portugueses. Mas temem que o princípio do fim esteja aí ao dobrar da esquina.
O MPLA tenta tudo. O presidente da República (nunca nominalmente eleito) chamou todos os seus generais para a frente de combate, comprou tudo o que podia (observadores, políticos internos e externos, jornalistas e outros similares) mas parece que não é suficiente.
O MPLA teme (e vamos lá ver qual será a última jogada – que tal uma razão qualquer para encetar mais uma purga?) a derrota e já concluiu que nem a sua “Força Aérea” consegue impedir o voo, cada vez mais alto da contestação dos escravos.
O caso Fernando Heitor
A13 de Março de 1966, um grupo de nacionalistas liderado por Jonas Malheiro Savimbi, começou a escrever uma importante parte da história de Angola. Militantes como Fernando Heitor continuavam a enterrar o espírito que deu corpo ao que se decidiu no Muangai.
Jonas Savimbi disse-nos, em 1975, no Huambo: “a UNITA, tal como Angola, não se define – sente-se”. Mas para sentir é preciso ser muito mais que um mercenário, que um sipaio, não é Fernando Heitor?
Foi no Muangai, Província do Moxico. Daí saíram pilares como a luta pela liberdade e independência total da Pátria; Democracia assegurada pelo voto do povo através dos partidos; Soberania expressa e impregnada na vontade do povo de ter amigos e aliados primando sempre os interesses dos angolanos.
Resultaram também a defesa da igualdade de todos os angolanos na Pátria do seu nascimento; a busca de soluções económicas, priorização do campo para beneficiar a cidade; a liberdade, a democracia, a justiça social, a solidariedade e a ética na condução da política.
Será que Fernando Heitor sabe quem disse: ”Eu assumo esta responsabilidade e quando chegar a hora da morte, não sou eu que vou dizer não sabia, estou preparado”?
A UNITA mostrou até agora, é verdade, que sabe o que é a democracia e adoptou-a definitivamente. E é exactamente por isso que permitiu que no seu seio se gerasse gentalha como Fernando Heitor, Geraldo Sachipengo Nunda ou “Black Power”. Mas também é verdade que gerou Gente como Alda Sachiango, Isaías Samakuva, Alcides Sakala, Paulo Lukamba Gato, Samuel Chiwale, Jeremias Chitunda, Adolosi Paulo Mango Alicerces, Elias Salupeto Pena, Jonas Savimbi, António Dembo ou Arlindo Pena “Ben Ben”.
Isaías Samakuva mostrou, apesar de ter sido um líder rendido aos benefícios da lagosta, ao mundo que as democracias ocidentais estavam a sustentar um regime corrupto e um partido que quer perpetuar-se no poder. E de que lhe valeu isso? De nada. Esse regime corrupto continua, entre outros crimes, a comprar no mercado da UNITA.
O líder da UNITA conseguiu juntar alguns bons jogadores mas esqueceu-se que não bastam bons jogadores para fazer uma boa equipa. Esqueceu-se que, como dizia Savimbi, os inimigos mais perigosos são os que julgamos amigos mas que nos apunhalam pelas costas. Estaria o Mais Velho já a antever o que Fernando Heitor faria um dia?
Muitos desses craques (Fernando Heitor é apenas um exemplo) não conseguem olhar para além do umbigo, do próprio umbigo. Habituaram-se de tal maneira à lagosta que esqueceram a mandioca, que esqueceram que Savimbi também ensinava que era preferível ser livre de barriga vazia do que escravo com ela cheia.