«O TUP – Teatro Universitário do Porto cumpre 75 anos de actividade ininterrupta este ano. O trabalho artístico e associativo destes 75 anos marcam a história cultural e política da cidade do Porto e do país. A importância desta instituição é reconhecida pelos seus pares, pelos profissionais que de lá saíram ou que por lá passaram, pelo seu corpo associativo; o mesmo não pode ser dito relativamente às entidades de que depende, aos responsáveis pelas políticas culturais municipais e nacionais, à comunicação social. Esta carta é um manifesto de dois membros do TUP, presentes e activos nas várias frentes da associação ao longo de mais de dez anos.
Dirigimo-vos esta carta com o propósito sincero de evidenciar a relevância e pertinência que o TUP – assim como outras associações e grupos considerados não-profissionais – tem tido e continua a ter na sociedade que partilhamos.
Criado a 13 de Dezembro de 1948 pelo Professor Hernâni Monteiro e o seu corpo estudantil como organismo da Universidade do Porto, o então Teatro Clássico Universitário do Porto conheceu, ao longo do tempo, diversas conquistas, posicionamentos políticos, personalidades incontornáveis do contexto cultural português, ao qual acrescentou outras tantas. Conheceu diversas casas provisórias. Deu a conhecer autores inéditos no país, criações que expandiram os limites do possível e do aceitável. Ao longo das últimas décadas, o TUP criou e ofereceu liberdade: liberdade de ver, de ouvir, de conhecer; liberdade de fazer, de criar, de experimentar; liberdade de ser e de participar. O TUP cria e oferece liberdade a todas as pessoas que querem senti-la, vivê-la, com a responsabilidade que a acompanha. O TUP cria e oferece a possibilidade de uma cidadania mais empática e mais consciente.
O TUP habita desde 2018 a sua mais recente casa provisória. Estas instalações foram cedidas pela Universidade do Porto na sequência da alienação do seu Antigo Colégio Almeida Garrett. Iam servir uma curta estadia, dado que já estava em curso o projecto de arquitectura da Nova Sede do Teatro Universitário do Porto, na Rua da Boa Hora: uma proposta da UP para que, finalmente, o TUP tivesse uma casa com as condições necessárias. No entanto, os responsáveis pela Universidade mudaram, alterando também os planos.
O TUP permanece, por isso, num edifício onde chove, onde não cabe arquivo e onde não há água potável. Nada disto é novo: o corpo associativo, que remonta ainda aos anos iniciais, assim nos diz, tal como o fazem diversos registos da recorrência desta situação. Os decisores, nas suas várias escalas, não vêem o TUP, não o querem conhecer. Recusam-se a aceitá-lo como espaço fundamental na missão de uma universidade, de uma cidade.
As sucessivas direcções do TUP, que integramos ou integrámos, mantêm viva a associação e a defesa da formação informal e gratuita, continuam o trabalho artístico, a formação de públicos, a democracia cultural que a Constituição da República consagra. A associação, no seu todo, continua a lutar pelo seu direito de existir e pelo que a sua existência representa para a cidade e para a sociedade.
A escrita e o envio desta carta acontecem como objecto artístico de pleno direito: escrevemo-vos perante o nosso público, na performance Uma carta, integrada na programação das Noites no Pátio do Museu, da Casa Comum. Fazemo-lo como manifestação partilhada da esperança que teimamos em ter de que o TUP possa ter da Universidade e da cidade o retorno de tudo aquilo que dá. Fazemo-lo como chamada de atenção: o TUP faz 75 anos. Isso merece não passar despercebido.
Gratos pela atenção e disponíveis para o que possa ser pertinente,
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