A TENTATIVA DE DECAPITAR A UNITA

A 2 de Novembro de 1992 morria Jeremias Kalandula Chitunda, braço direito de Jonas Malheiro Savimbi e vice-presidente da UNITA, perfurado por balas depois do veículo em que viajava de regresso à província do Huambo, ter capotado durante um ataque nas proximidades do actual Distrito Urbano do Sambizanga, município de Luanda, província com o mesmo nome.

Por Geraldo José Letras

Jeremias Chitunda morreu em dois de Novembro de 1992 quando viajava de regresso a província do Huambo, saindo de Luanda, onde fora enviado em representação de Jonas Savimbi para assinar o memorando que determinaria a realização da segunda volta das primeiras eleições presidenciais de 1992 em Angola.

A escolta armada da caravana que levaria o vice-presidente da UNITA de regresso ao Huambo de carro foi providenciada pelo brigadeiro Katokessa membro da segurança de Savimbi.

Jeremias Kalandula Chitunda, uma das mentes mais brilhantes da história da UNITA, nasceu em 20 de Fevereiro de 1942, estudou Geologia na Universidade do Arizona, EUA, e aderiu à União Nacional para a Independência Total de Angola em 1966.

Do Estado de Arizona, Jeremias Chitunda fixou residência na capital norte-americana, Washington DC, para representar a UNITA e actuar como principal mentor dos jovens enviados para Washington enviados de Angola, de que são exemplos Alcides Sakala e Alfredo Kakunda com os quais trabalhou até regressar a Angola para assumir outras responsabilidades na guerrilha, em meados de 80, além de ir ocupar as pastas de Vice-presidente da UNITA, com a missão de cuidar da administração interna do movimento.

Além da política, chefiou o Departamento de Engenharia Industrial e de Minas de uma empresa americana. Publicou obras de temas científicos sobre sistemas mecânicos de estabilização de escavações subterrâneas. Ainda nos EUA, Jeremias Kalandula Chitunda destacou-se como dono da patente chamada “Key Booster”, que consistia no uso de dinamite na indústria extractiva de forma horizontal.

No governo de transição, entre os três movimentos de libertação, MPLA, UNITA e FNLA, Jeremias Kalandula Chitunda foi nomeado Ministro dos Recursos Minerais pela UNITA, tendo sido o único governante que apresentou um plano de governo para a sua área.

A partir da província do Huambo, onde se encontrava refugiado devido ao momento político tenso que se vivia em função dos resultados das eleições presidenciais que levou os três partidos à discórdia, Jonas Malheiro Savimbi, não deixou de lamentar a morte do seu Vice-presidente, Jeremias Kalandula Chitunda, para quem “a morte do Vice-Presidente, Senhor Engenheiro Jeremias Chitunda, tocou-nos profundamente. Chitunda não era apenas Vice-Presidente, não era apenas um engenheiro. Era um cientista. Na escola onde estudou, inventou um equipamento de pesquisa de minérios, hoje patenteado na América. Matar um homem desse calibre é uma perda para a UNITA, uma perda para a família e, acima de tudo, uma perda para Angola”.

Nesse verdadeiro genocídio (mais um) levado a cabo, na época, pelo MPLA, e que visava o aniquilamento da UNITA e de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, e que se saldou no assassinato de 50 mil angolanos, foram também assassinados o secretário-geral Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.

Importa, nesta altura, recordar, em homenagem às vítimas, o massacre do Pica-Pau em que no dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados pelo MPLA, no Comité de Paz da UNITA em Luanda.

Recordar, em homenagem às vítimas, o massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados pelo MPLA, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de cerca de 80.000 angolanos terem sido torturados e assassinados pelo MPLA em todo o país, por ordem de Agostinho Neto, depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores ao regime.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de, entre 1978 e 1986, centenas de angolanos terem sido fuzilados publicamente pelo MPLA, nas praças e estádios das cidades de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 patriotas e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de no dia 29 de Setembro de 1991, o MPLA ter assassinado em Malange, o secretário Provincial da UNITA naquela Província, Lourenço Pedro Makanga, a que se seguiram muitos outros na mesma cidade.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de nos dias 22 e 23 de Janeiro de 1993, o MPLA ter desencadeado em Luanda a perseguição aos cidadãos angolanos Bakongos, tendo assassinato perto de 300 civis.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de em Junho de 1994, a aviação do MPLA ter bombardeado e destruído a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, a aviação do MPLA ter bombardeado indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de entre Abril de 1997 e Outubro de 1998, na extensão da Administração ao abrigo do protocolo de Lusaca, o MPLA ter assassinado mais de 1.200 responsáveis e dirigentes dos órgãos de Base da UNITA em todo o país.

Foto. Lisboa, Maio de 1991 – Jeremias Kalandula Chitunda lidera a delegação da UNITA que negociou com o MPLA a constituição de uma comissão mista político-militar para fiscalizar o cessar-fogo e preparar as eleições em Angola.

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