Os teus pais têm motivos de sobra para serem respeitados, independentemente do que te tiverem feito de errado ou do tipo de pessoa (de más atitudes) que tenham demonstrado ser nos últimos tempos da tua história de vida. Eles são, acima de serem teus pais, seres humanos, portanto, por natureza, falíveis.
Por Fernando Kawendimba
Psicólogo e escritor
Devemos respeitar alguém pelo que é, mas também pelo que devia ter sido. Há aqueles que não assumem a paternidade, não oferecem assistência socio-económica, não transmitem valores, para além dos contra-valores que deles recebes pelos seus comportamentos eticamente reprováveis. Essas e outras situações constituem uma bateria de problemas que merecem o seu devido tratamento nas diversas instâncias, mas resiste: não herdes nada que não te permita o desenvolvimento humano. Se já adquiriste esse impedimento por hereditariedade ou influência social, em consequência das relações que têm estabelecidas desde o início da concretização da tua existência, livra-te de tais efeitos. Será muito bom para a tua saúde emocional.
Foca-te naquilo que de bom os teus pais tiverem para te oferecer; geralmente é (quase) tudo construtivo, mas, nem sempre percebes as suas intenções, os seus propósitos, os seus planos referentes a ti. Precisarás que algumas pessoas te ajudem a compreender a postura dos teus pais diante de inúmeros assuntos contigo relacionados. Não condiciones o respeito. Ele é verdadeiro quando não é baseado em valores de ordem material. Não respeites alguém pela aparência, pelo poder económico ou por conveniência. Todo o ser humano merece o teu respeito enquanto humano. Respeita o outro.
Se achares que alguém não merece o teu respeito porque não te respeita, ainda assim não lhe deixes faltar o teu respeito. É uma tarefa dificílima para a maioria das pessoas. Mas, o as relações familiares em especial podem ser melhoradas se tivermos a coragem de as gerir sob esses princípios. E tu, assume esse compromisso. Sê aquele que respeita o ser humano nos teus familiares. Cumprimenta, desculpa-te, agradece, obedece – quando as ordens forem razoáveis e benevolentes, se não, dialoga negociando – ajuda, colabora. Tens de ter disponibilidade também para os outros. Respeito é coisa do peito, suplemento do coração para as relações contigo mesmo e com os outros.
As famílias podem viver momentos conturbados. Todos os problemas sociais passam necessariamente pela família. Há pai que viola a filha, mãe que aborta o filho, filha que sequestra a mãe, filho que maltrata o pai, irmão que inveja o irmão, irmã que trai a irmã, bem como outras situações excêntricas ou não que possas imaginar. Se calhar protagonizaste ou assististe a algum problema na tua família que te deixou escandalizado. Crê que muitas famílias vão se degradando por essas situações todas.
Não permitas que a tua família declare falência emocional sem que tenhas feito uma intervenção para a prevenir de uma relação deficiente ou tratá-la das suas feridas do corpo e da alma. Os pequenos gestos têm se demonstrado os mais eficazes. Cumprimenta a família, interessa-te pelo seu estado ao acordar expressando esse interesse por palavras e atitudes, serve o que te for possível ou atingível por uma boa dose de sacrifício, desempenha bem o teu papel na tua relação com cada um dos teus parentes.
Sabes que o comportamento é socialmente transmissível? Quando ele é recorrente, persistente e belo, provoca a paixão dos outros que o adoptarão tarde ou cedo. Não te canses de ser bom. Às vezes somos tentados a desistir do bem sobretudo quando não há incentivos ou talvez ninguém mais manifeste a mesma benevolência. É difícil… dificílimo. Mas, essa pitada de dificuldade é a garantia de um sabor inesgotável do bem-estar connosco mesmos e com os outros. A falta de respeito é sinal e sintoma de decadência da humanidade.
Não tens a determinação de ser inútil, não tens a determinação de ser imaturo, não tens a determinação de ser indiferente. Faz o que for favorável; se não estiver ao teu alcance, ajuda quem fizer algo plausível pela família. Compreende os outros e solidariza-te sempre. Tu não és tudo o que os outros são, por isso, precisarás demonstrar que tens potencialidades que podem ser permutadas por outras que não tenhas.
Se te abres para receber um valor, não te feches para dar os que tiveres. Não exijas mais aos outros do que a ti mesmo. Cada indivíduo tem os seus dons. Na família cada um desempenha o seu papel, mas cada um pode ajudar o outro naquilo que for possível pois o bem é comum. Na verdade, a distribuição de papéis facilita a organização, mas não pode matar a criatividade da solidariedade familiar.
Aprende a gerir os teus bens materiais e os da tua família. Evita o desperdício. Se não precisares de algo, por mais insignificante, ultrapassado ou inútil que penses ser, pensa que alguém, algures perto de ti, está a precisar. Em honra às pessoas afectadas pela pobreza, faz o uso mais adequado e racional do teu dinheiro, das tuas roupas e calçado, do teu material e do teu ideal, enfim, do que for teu e de quem fores tu. Tu também podes ajudar os teus pais quando eles precisarem, mesmo com um valor económico que um dia eles te tenham oferecido. Não roubes. Essa prática, para além de ser em si mesma anti-ética e multidimensionalmente prejudicial para a vítima, é viciante para o seu autor. Não vejas vantagem alguma no roubo: porque objectivamente não há e porque subjectivamente é possível achar. Quem rouba tem a dignidade humana assaltada.
O perdão é parte da identidade do amor. Ama com todas as energias que puderes produzir. Ama-te a ti mesmo e ao próximo, ama o teu amigo. Sobretudo, sendo que a condição humana é falível, perdoa-lhe sempre que for necessário, sempre que falhar, te frustrar, faltar ao compromisso, à aliança de amizade. Ele poderá não pedir perdão. Às vezes esse tem sido o procedimento dos que cometem erros ligeiros, moderados ou graves. Mas tu, para o bem do teu equilíbrio emocional e do bem-estar da tua amizade, perdoa-lhe. Essa será, com certeza uma atitude que cedo ou tarde transformará a perspectiva da tua relação amical.
O perdão curar-te-á as feridas que ofensas provocaram ao teu coração. Concomitantemente, enxugarão as lágrimas da vossa amizade que terá começado no prenúncio de uma prosperidade. Lembra-te sempre do entusiasmo do início da vossa relação. A amizade exige de ti sacrifício. Nem tudo é fácil, como deves pensar, imaginar, sentir.
Outro ingrediente que não deve faltar nas tuas relações, especialmente no contexto da amizade, é o diálogo. Tu, enquanto ser humano, és uma obra, um ser em construção. Os teus amigos são pessoas com um grande potencial para te edificarem. Todas as falhas que se apresentarem deverão ser ultrapassadas, os problemas resolvidos. Dialogar é fundamental. Abre-te! Ouve! Presta atenção ao outro. Compreende os contextos das suas palavras e acções. Tem interesse em compreender. Julga sem pressa, evita condenar. Conversa. É disso que os amigos precisam: pessoas com as quais possam fazer permuta de qualidades, de virtudes, de pontos fortes da alma. Conhece-se e consegue-se o melhor dos indivíduos quando o respeito norteia as relações humanas.
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