O Presidente angolano, general João Lourenço, declarou hoje que segue “com grave preocupação” a situação em São Tomé e Príncipe, após o ataque a um quartel, e apelou às autoridades para que procurem agir “com espírito de justiça e serenidade”, coisa que não está a conseguir implementar no conflito entre a RDC e o Ruanda e em que falhou (“espírito de justiça e serenidade”) no seu próprio reino.
Na “qualidade de Presidente da República de Angola e na de Presidente ‘pro tempore’ [para não se enganar a escrever “temporário” ou “provisório” optou por derivar para o latim] a CPLP, tenho seguido com grave preocupação os acontecimentos ocorridos recentemente na República Democrática de São Tomé e Príncipe, onde há registos de perturbação à ordem democrática e constitucional, e em cujo contexto há a lamentar a perda de vidas humanas”, escreveu João Lourenço numa declaração divulgada através do seu gabinete de imprensa.
Durante a madrugada de sexta-feira, quatro homens, civis, atacaram o quartel militar em São Tomé, numa acção que o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, descreveu como “uma tentativa de golpe de Estado”.
Face aos acontecimentos, João Lourenço apelou às autoridades são-tomenses “no sentido de procurar agir com espírito de justiça e serenidade para clarificar a situação e tomar as medidas pertinentes em estrita observância da legislação vigente no país e dos princípios dos direitos humanos”.
Esta referência de João Lourenço aos direitos humanos foi a cereja no topo do bolo, ou não fosse ele o rei da razão da força em vez da força da razão. Para que conste, também em latim, “verba volant, scripta manent” (as palavras voam, os escritos ficam).
Angola vai continuar a acompanhar a situação e manifesta-se disponível para desempenhar o papel que lhe for requerido no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), “com vista à construção de uma base de amplo entendimento entre todas as forças vivas da nação santomense”. Exactamente o contrário do que o MPLA faz em Angola.
O ataque, que se prolongou por quase seis horas, com intensas trocas de tiros e explosões, foi neutralizado com a detenção dos quatro assaltantes e de alguns militares suspeitos de envolvimento no ataque.
Dos quatro atacantes, três morreram, bem como o suspeito Arcélio Costa, que tinha sido levado pelos militares para o quartel às primeiras horas da manhã de sexta-feira, disse fonte ligada ao processo.
Ao início da manhã de sexta-feira, os militares detiveram, nas suas respectivas casas, o ex-presidente da Assembleia Nacional, Delfim Neves, actualmente deputado pelo movimento Basta, e Arcélio Costa, antigo oficial do ‘Batalhão Búfalo’ que foi condenado em 2009 por uma tentativa de golpe de Estado, alegadamente identificados pelos atacantes como mandantes.
Os assaltantes teriam actuado com a cumplicidade de militares no interior do quartel, tendo pelo menos três cabos sido detidos. No exterior, cerca de 12 homens aguardavam, em carrinhas, e alguns fugiram durante as trocas de tiros com os militares.
Os atacantes e os militares envolveram-se em confrontos, tendo o oficial de dia sido feito refém e ficado ferido com gravidade após agressões.
Em conferência de imprensa, na sexta-feira, o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, que assumiu o cargo há duas semanas, disse que a situação no país estava “calma e controlada” e elogiou a actuação das Forças Armadas. O chefe do Governo disse ainda esperar que a justiça faça o seu trabalho e pediu “mão firme” para os responsáveis da tentativa de golpe.
O Ministério Público de São Tomé e Príncipe abriu dois processos-crime para investigar o ataque ao quartel militar e o alegado homicídio e tortura de quatro suspeitos, disse hoje fonte judicial.
Folha 8 com Lusa