MPLA PROMOVE, 47 ANOS DEPOIS, NOVO COLONIALISMO

A esquina 47 é aqui: Fome & Pobreza! A próxima, esquina 47, é ali: Discriminação e injustiças. O ali, qual Morro do Mbinda (Uíge-Norte), pelas três tribos políticas, em disputa (1974-75) para o controlo do Reino do Kongo, com o “vencedor” a esmerar-se, competentemente, no assassínio do bago vermelho (café), 3.º produtor mundial (230.000 ton.) e, mais grave, ainda, foi a desconstrução total da geografia mental do Mbinda do Morro e de todos outros, cuja geografia mental, que sem curvas territoriais geográficas, caboucava nas mentes sonhadas de milhões, canções de independência imaterial e liberdades democráticas.

Por William Tonet

A independência de Angola ocorreu na madrugada de 11 de Novembro de 1975. Havia esperança. Sonhos. E quase certezas, de milhões, numa nova aurora.

Eu estive lá. Fui cúmplice! Naquela madrugada comandava uma companhia de pioneiros e jovens, porta estandarte, para o hasteamento da nova bandeira, audição do novo hino, que não os heróis do mar e os símbolos. Mariano de Almeida, Toninho Van Dúnem, Dino, Mateus, Paulo e tantos outros estão, ainda aí, por saberem, que soubemos do que foi a data.

Foi uma decepção, vi subir, no mastro, a mesma bandeira do partido (preto amarela e vermelha), ecoar o hino “pelo poder popular”, que banaliza os reinos e os seus heróis: Mandume, Ngola Kiluange, Nzinga Mbandi, Nimy ya Lukeni, heróis da Baixa de Kassanji, reconhecendo somente os do “4 de Fevereiro”. Foi a morte do sonho, pois não nascia um país, uma República, mas um Estado partidocrata.

Comecei a contestar a partir daquele dia, daquela madrugada, pois esperava uma verdadeira República e não a supremacia do MPLA na República, que tinha o poder legislativo, encarnado pelo “Conselho da Revolução”. Infelizmente, até hoje, nada mudou…

47 anos depois, a água da nascente dos rios (uma das maiores bacias hidrográficas do mundo) não chegam à foz, para farfalhar o oceano, onde navegam os sonhos dos povos e micro nações angolanos, que auguravam, também, o jorrar de água potável, nas torneiras e o acender de luz, em cada casa.

Os detentores do poder foram incompetentes na criação de um país, que nunca deveria ser singular, mas plural como rubricado nos Acordos de Alvor.

Uma Angola integradora, conciliadora, seria capaz de infundir uma pátria, hino, bandeira e símbolos, transversais a todos os cidadãos e não reféns da ditadura do proletariado, sinalética partidocrata do MPLA, até hoje.

Os povos e micro nações têm sido traídos, na esquina da independência, com vários crimes de genocídio, mesmo depois dos fuzilamentos de 1975/76, no campo da Revolução, com a morte de Sotto Mayor e do 27 de Maio de 1977, onde foram barbaramente assassinados 80 mil angolanos, caricatamente, todos do MPLA, a mando de Agostinho Neto. Hoje a procissão segue com a Sexta-feira santa; assassinatos de Cassule, Kamulingue, Hilbert Ganga, Monte Sumi, Joana Cafrique, Silvio Dala, Inocêncio da Mata, Kafunfu, continuam, sem a comoção e indignação geral.

O benefício da dúvida concedido em 1974/5 ao líder do MPLA, depois da demonstração do seu carácter bárbaro, com métodos dantescos, superiores aos do colonialismo, em tão pouco tempo de poder, deram alento a instauração da ditadura do proletariado fascistóide.

Na justiça, não havendo pena de morte, no texto constitucional, os assassinatos são uma imagem de marca do poder, afastando, como se vê, hoje, 47 anos, com Walter Filipe, Isabel dos Santos, Augusto Tomás, o justo processo legal, o contraditório e o sistema acusatório, que foram enterrados, ainda no tempo de Agostinho Neto, para legitimar a barbárie, inspirada no sistema inquisitorial.

É a desgraça colectiva de quem acreditou, ingenuamente, que a independência seria um marco supremo para a restauração do sonho de liberdade e soberania dos povos de Angola.

A omissão e resignação da intelectualidade, ante o uso da força militar, fascista, ditatorial e a partidarização do sistema judicial, contribui para a procissão das ilegalidades do regime, liderado por um grupo de pseudo-revolucionários, cujo objectivo nunca foi o de liderar um projecto-país, mas substituir o “branco, fascista, colonial português”, com a institucionalização do mono-partidarismo encapotado, num texto democrático, cujo fim é o de inviabilizar a consolidação da incipiente democracia.

O MPLA implantou mal a economia centralizada e convive mal com a ascensão de um capitalismo selvagem partidocrata, alimentado por dinheiro público, que escancara as portas à nova colonização, agora, trasvestida em investidores.

O MPLA, 47 anos depois, deixou cair do seu programa a esquerda social, para se aliar às corporações de Bretton Wodds (FMI e BM) e aos especuladores ricos estrangeiros, justificando este imperativo, como exigência da economia de mercado.

A incompetência e os crimes de responsabilidade têm fustigado os pobres, tornando-os vulneráveis à saga especuladora do investidor internacional, que, 47 anos depois de poder absoluto do MPLA, controla mais de 95% da soberania comercial e industrial. Estamos pior do que no tempo do outro colonialista: regime fascista português.

A nova colonização tem, para desgraça dos angolanos, o beneplácito da mais alta liderança do MPLA, cujos dirigentes complexados e capachos do Ocidente, visam a subjugação de Angola e dos angolanos, a TAAG é disso o mais vergonhoso exemplo.

Neste 11 de Novembro de 2022, o MPLA exibe um masoquismo fascista de domínio total, dos órgãos judicial, legislativo, executivo, das Forças de Defesa e Segurança e da Comunicação Social Pública, cujo comportamento os coloca como prisioneiros e escravos do poder.

47 anos depois não existem instituições capazes de hastear a bandeira da democracia e imparcialidade, incluindo os tribunais, Supremo, de Contas e Constitucional, aliados dos sucessivos golpes de Estado constitucionais, sem indignação e contestação.

Os maus consolidam terreno desbaratando a implantação de uma sólida democracia, muito pela divisão e vaidades umbilicais de intelectuais, em cujas persianas o poder ventila “dólares de corrupção” para condicionar as consciências.

Nos últimos 5 dos 47 anos de poder absoluto, o programa económico neoliberal de Manuel Nunes afundou as empresas, promoveu o desemprego e aumentou a fome e miséria, consumando a subjugação da maioria dos angolanos, ao capital externo, que controla, hoje, as melhores terras, bens financeiros, imóveis, móveis e ex-empresas públicas, como prova do novo colonialismo económico, com a bênção do Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e MPLA.

A venda da soberania económica, não é economia de mercado, mas crime de mercado, pelo carácter assassino do programa.

A luta contra a corrupção longe de ter sido o apogeu de restauração do sistema judicial e judiciário, está a ser um logro, pela selectividade dos visados e a inversão do modus operandi e recuperandi de capital. Ela tem servido como ajuste de contas para acirrar guerras fúteis e sem fim entre gangues no interior do MPLA, cujo objecto é o enriquecimento ilícito de quem, agora, domina o poder, na condição de nova elite da corrupção gourmet, que sangra os cofres públicos do Estado.

O desmonte, desde 1978, do vigoroso sector industrial, herdado do colonialismo, na maioria das grandes cidades do país, tornando as fábricas em armazéns, constituiu uma punhalada no projecto de auto-suficiência e independência comercial ambicionada pelos verdadeiros patriotas, que o viam (indústria) integrada com a agricultura, num novo modelo económico, capaz de garantir, a maioria dos angolanos, três refeições ao dia.

Infelizmente, a ambição desmedida dos assimilados “entregacionistas”, nestes 47 anos, tem na traição, o maior legado do MPLA em benefício dos barões, dos ex e novos colonialistas…

Hoje, quando se percorre os carreiros, becos, estradas e avenidas, de cidades e vilas, vê-se o semblante de cada mulher, velho, jovem e, principalmente, criança, carregado de tristeza, desilusão e falta de crença, num amanhã diferente, ao ser-lhes retirado o direito à saúde, programas sociais, caderno, lápis, borracha, como as crianças da Escola 5008, em Viana, que viram o assassinato de carácter do professor Bernardo Diavava, por emprestar solidariedade a reivindicação por carteiras escolares.

Em sentido contrário, de forma torpe e vil, o Executivo, promove a alfabetização de meninos, jovens e velhos para aprenderem a sobreviver, alimentando-se de restos de comida deitados nos contentores ou monturos de lixo.

Os líderes do MPLA, cada um ao seu nível, têm mais empatia pelo dinheiro público, os esquemas de evasão e fuga ao fisco, do que aos pobres, severamente combatidos pelos exércitos policiais e militares, pela nova classe capitalista partidocrata e especuladora estrangeira.

Nestes 47 anos, o MPLA demonstra ter um sério conflito com os ditames da democracia, levando-o a subverter e corromper todo sistema eleitoral, para se perpetuar no poder, não se coibindo de corromper magistrados e subornar a restante máquina e agentes eleitorais (CNE, INDRA, SIFIC, etc.).

Na última eleição geral (24.08.22), as cifras apontam investimentos, do partido no poder, na ordem de mais de 250 milhões de euros, insuficientes, para através dos votos conseguir um resultado positivo, ante o aumento da literacia dos jovens e intelectualização dos pobres, através dos livros da fome absoluta.

A oposição: UNITA/FPU, com escassos USD 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil dólares), explorando as debilidades sociais: desemprego, falta de educação e de saneamento básico, saúde primária, programas sociais, inflação, domínio neocolonial de barões e estrangeiros, derrotou, nas urnas, o poderoso “Golias” (MPLA).

O “juiz confirmador” do atrás vertido é a própria CNE (Comissão Nacional Eleitoral), que ante as tibiezas numéricas, instada à confrontação das Actas-síntese, em posse das partes eleitorais, se escusou a fazê-lo, por ter ciência que a contabilidade documental confere vitória ao Galo Negro.

Assim, o MPLA não ganhou as eleições de 24 de Agosto de 2022, mas não perdeu o poder.

A UNITA ganhou a legitimidade, nas urnas, mas não alcançou o poder.

A razão é a inexistência de tribunais independentes, Polícia, Forças Armadas e Segurança de Estado republicanas. As decisões de políticos sedentos de poder têm um custo humano assombroso, principalmente para os desempregados, os pobres e miseráveis, que pululam pelas várias ruas da discriminação e rejeição…

Ainda a procissão vai no adro, no segundo mandato, de João Lourenço e já milhões de famílias estão a ser perseguidas, como lixo humano, pelas forças policiais, impedindo-os de ganhar a vida, honestamente, vendendo nas ruas, únicos empregos, para contornarem os exércitos da delinquência e prostituição.

A saúde converteu-se no mais ignóbil vampirismo clínico, que discrimina os pobres, tal como a maioria dos colégios e universidades, trancadas para quem não tenha capacidade monetária, para custear os estudos dos filhos.

A insensibilidade transformou o MPLA igual aos clubes de fascistas, vigaristas, racistas, criminosos, charlatães, teóricos dos falsos golpes de Estado, com muita incompetência, corrupção e um neoliberalismo falido, que assassina milhões, com a ajuda da nova colonização, árabe, chinesa e ocidental.

Um dos grandes problemas de Angola e dos angolanos, ao longo destes 47 anos de independência é o de se resignarem ante a ascensão dos tolos. Na omissão e cumplicidade dos bons está a capacidade dos tolos se multiplicarem, com ambição grosseira e desmedida de controlarem todos os sectores e órgãos do poder de Estado.

Para esta tribo, intolerante e avessa à alternância democrática, a liberdade significa a capacidade de perseguir, odiar, manchar a honra e bom nome, atacar fisicamente, os adversários políticos, ao ponto de retirá-los, em juízo, da possibilidade de terem um justo processo legal e a imparcialidade dos juízes, comprometidos com a ideologia partidária, privando milhões de angolanos do direito à liberdade, lotando as cadeias.

O 47.º aniversário de independência veio, para desgraça colectiva, destapar o maquiavelismo financeiro do partido no poder, que tem gasto milhões e milhões de dólares para financiar membros de partidos da oposição, contestatários e bajuladores, através da instalação de um “gasoduto financeiro” na Casa Militar da Presidência da República, como denunciado, em sede de audiência de julgamento, por altos oficiais militares, no célebre Caso Lussaty.

Num país sério, as denúncias dariam a extinção do MPLA, pela gravidade, face ao esquema da criação de sacos azuis, com dinheiro público, para benefício de uma tirania, igual às da China, Rússia, Coreia do Norte, Hungria, entre outras. É uma ilusão acreditar na capacidade de regeneração de uma matilha, habituada a esfolar as presas até à morte. Angola foi quebrada. Precisa ser refeita. Por uma nova e comprometida geração de políticos, comprometidos com a República, os Pobres, as Liberdades e a Democracia.

O MPLA, partido do meu pai, que me arrastou para os húmus libertários, aos 3 anos de idade, honestamente, não tem unhas para tirar o país dos escombros, onde, incompetentemente, o empurrou.

Aqueles que se cala(ra)m de forma cúmplice e covarde, ajudaram a quebrar Angola. E, quando me perguntam o que poderiam fazer se não existem órgãos de soberania independente e a Polícia e FAA são partidárias, a minha resposta é simples; quem conhece os malefícios da porcaria, não é obrigado a chafurdar, eternamente, nela, logo, deve abandonar um partido não comprometido com os povos, pobres e República.

Angola não foi proclamada como um ente jurídico nacional e internacional republicano, mas partidocrata na máxima expressão ideológica de partido único e ditadura do proletariado, bastando interpretar a crueza do art.º 60.º da Lei Constitucional de 10 de Novembro de 1975: “O presente diploma entra em vigor às zero horas do dia 11 de Novembro de 1975. Aprovada por aclamação pelo Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola, aos 10 de Novembro de 1975.

Publique-se.
António Agostinho Neto, Presidente do MPLA”.

Por aqui se vê a pequenez do MPLA (partido onde me formei, política e militarmente) e de Agostinho Neto, que poderiam contar, havendo higiene intelectual, com o concurso dos intelectuais e nacionalistas das células clandestinas das cidades, para dar um viés republicano, afastando a lei constitucional da ostensiva vinculação partidária, inclusive de Agostinho Neto ter preferido assinar como presidente do MPLA, quando deveria ser como de Presidente da República Popular de Angola. Abjecto!

Os ditos novos revolucionários, não se mostraram melhores que o governo fascista colonial português, eles eram os menos maus, melhor, tornaram-se no mal mais eficaz, ante a fraqueza militar dos restantes subscritores dos Acordos de Alvor: FNLA/Holden Roberto e UNITA/Jonas Savimbi. Hoje, 11 de Novembro de 2022, carrego a tristeza de estar, de novo, sob jugo colonial e carecer de nova libertação e independência, verdadeira e angolana.

Tenho fé e esperança de um dia ver ser hasteada uma nova bandeira, hino, símbolos nacionais, transversais ao arco-íris de todos os povos e micro nações que habitam este portentoso território.

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