A noite ia começar. Estava uma brisa miúda, quando na porta do meu bunker, cai a mensagem. Não era mais uma, mas a menos esperada, pese a programação secular da certeza da sua chegada, naquela hora e dia: “O kota Félix, foi-se!” (sic).
Por William Tonet
Pela frieza percebi, não ter ido, para o calor da família, no outro lado do oceano.
Era o aviso de ter morrido. Ido para a eternidade, deixando-nos, para todo o sempre, o frio da tua ausência.
Não terei mais a chamada, para partilhar ideias, da Jamba guerrilheira e da Jamba sobrinha, conhecedoras, cada uma destas duas trincheiras ideológicas, a vitalidade e importância do nosso passado e futuro comum, condenados a trilhar juntos, nas nossas avenidas mentais. Porquê, logo agora? Porquê uma realidade tão cruel de um paludismo continuar sem cura, nas nossa unidades hospitalares? Morrer desta forma, revolta, pelo vazio que cria.
Félix Miranda era sonhador. Trocou, chegado à capital, Luanda, a redacção da VORGAN, pela do Folha 8, deixando do lado de fora a visão guerrilheira e propagandística de tratar a notícia.
Aqui (Folha 8) era e é o império da imparcialidade, da não censura e lá (Jamba/UNITA/Guerrilha), reconhecia, por razões óbvias, da parcialidade. Tinha noção! Teve-a, de a separar, no calor da redacção, onde chegou a editor-chefe. Sempre, sempre me foi fiel, até mesmo quando impávido e sereno, viu um familiar desviar uma viatura da redacção, que lhe estava atribuída: “Chefe Indígena vou assumir a responsabilidade e tudo fazer para pagar a viatura que tanta falta faz à redacção”.
Sublime! Olhei-te nos olhos e partimos para a reunião semanal de pauta. Trilhamos sempre caminhos de construção de uma comunicação plural e, quando abraçaste o projecto da CASA-CE, integrando a ERCA, já, à época, ficamos pobres, pois era incompatível a função de conselheiro da Entidade Reguladora, com a de jornalista no activo.
Foi aí que a relação se esticou um pouco mais, mas nunca ao ponto de encerrar o contacto entre nós e de quantos contigo trabalharam. Os mais novos, carinhosamente, incluindo o meu filho, tratavam-te e tratam de Ti Félix…
Hoje, nesta hora, em que transpiram os dedos, ao teclar a carta de acreditação, da nossa eterna amizade, companheirismo e cumplicidade, o clamor de todos na redacção do F8 e TV8 é de tristeza, pelo vazio. Mas, aí, na esquina ardente, projectada, para todos nós, recebe o nosso sentido e sublime. ATÉ BREVE!