Sou nada! Nada sou, neste mundo satânico, que em 46 anos de independência material, vem banalizando os sonhos e a vida dos milhões de autóctones, pior do que no período colonial do fascismo português.
Por William Tonet
O torrão gregário vê escorrer pelas faces empobrecidas dos seus filhos, rios de sangue, consumindo-os, lentamente, até à morte. Inglória! Ontem, hoje e amanhã. É o calvário.
Para desgraça colectiva, temos homens insensíveis na liderança do Estado, incompetentes na elaboração de um “projecto-país”, com todas as forças vivas do território.
Aristotelicamente, enquanto homem, sou um animal político.
Todos somos! Logo, as acções ilícitas, dos decisores públicos, despidos de higiene intelectual, ao inviabilizarem, que à mesa de cada cidadão haja educação, saúde, pão, sal, água, três vezes ao dia, estão sujeitas ao escrutínio popular.
Condenar os defensores dos direitos humanos, bispos, pastores, que denunciam as atrocidades, apelando à declaração do estado de calamidade no sul do país, é típico dos masoquistas de palanque.
“Na análise da situação do País, os Bispos da Igreja Católica constataram:
a) Um acentuado grau de desconhecimento do documento a utilizar no dia das eleições, o que requer, por parte das autoridades, uma maior divulgação do mesmo, colocando os serviços inerentes ao alcance de todos os cidadãos;
b) Há uma acentuada violência no discurso político e nas acções, (por parte dos actores políticos, da sociedade civil e dos cidadãos) com tendência a um extremar de posições. Há necessidade de diálogo sério e patriótico entre as lideranças para ajudar a amainar os ânimos;
c) Tendo em conta os sinais de violência dos últimos tempos, o processo de paz e reconciliação nacional deve ser uma grande prioridade para o nosso País. Muito contribuiria para este desiderato uma comunicação social despartidarizada e isenta, comprometida com os valores ético-morais. Igualmente, apela-se ao uso responsável das redes sociais por parte dos cidadãos;
d) Reiteramos que a situação da seca e da fome em muitas regiões do País, sobretudo no Sul, exige a declaração do Estado de Emergência, por forma a proporcionar ajuda internacional”.
Os homens do evangelho, no ponto 6.º do comunicado da 1.ª Assembleia da CEAST, realizada de 01 a 07.02.22, em Benguela, colocaram, idilicamente, a cruz de Cristo, ao lado dos menos favorecidos.
Denunciado, o clima de tensão capaz de resvalar o país para convulsões sociais ou militares imprevisíveis, apelando ao aperto de mão, entre as principais lideranças políticas, é sinónimo de humildade e sabedoria.
Só gente politicamente demente, invertebrados bajuladores e assassinos de carácter é capaz de organizar procissões condenatórias, contra quem ergue lenços de paz.
A tribo política, que governa o país, cujos valores de mando repousam na ponta do fuzil e dos canhões, ao adjectivar fenómenos reais, esconde a incompetência incubada, danosa e dolosa, que a caracteriza. A realidade está aí… Na esquina! Nas esquinas de cada olhar sensível e humano. Os contentores de lixo, não mentem!
Os cidadãos nunca foram tão, conscientemente, empurrados para o desemprego, fome e miséria extrema, como nos últimos cinco anos, face à dantesca política económica neoliberal.
O Titular do Poder Executivo e o ministro de Estado para a Economia, Manuel Nunes Júnior, demonstram um total desprezo pelos angolanos, ao adoptarem, cegamente, as imposições do Fundo Monetário Internacional (FMI), que agravam a situação social dos cidadãos.
Nesta senda satânica é estranha a bênção do FMI, ao aumento das despesas públicas, por motivações políticas, ao tapar os olhos e assobiar para o lado, a aquisição de património de privados, como o Grupo Media Nova, dos generais Dino do Nascimento, Hélder Kopelipa, para gastar mais de 380 milhões, por ano, para alimentar, salários, despesas administrativas, peças sobressalentes, materiais novos, etc., das unidades, TV Zimbo, Rádio Mais, Jornal “O País” e a gráfica Dammer… Insanidade de gestão, por aumentar, indevidamente, as despesas públicas, em função de uma guerra de egos entre o João e o José, levando a factura a ser paga por todos os cidadãos.
O país, nas últimas duas semanas, tem assistido à subida da tensão e intolerância de todas as barricadas políticas, evidenciando mais sinais de confrontação do que de conciliação.
Ninguém parece comprometido a não apagar o fogo com gasolina, para preservar a paz, em nome da ética, da moral, liberdade, democracia e transparência eleitoral.
Hoje não existe, infelizmente, com a morte de Jonas Savimbi e reforma de José Eduardo dos Santos, um verdadeiro político, despido de vaidades umbilicais à frente dos destinos do país.
É preciso estender o cajado da responsabilidade, para dialogar com os diferentes e opositores, em nome de um bem maior: a conciliação e a paz!
A imagem do regime está desgastada por ter um projecto de poder, desde 1975, que arruína a vida de 20 milhões de pobres, carentes de um projecto de sociedade, capaz de aglutinar todas as energias cidadãs.
É PRECISO MUDAR O CHIP
A alternância é hoje a palavra mais falada, no país, amedrontando as mentes anti-democráticas, os intelectuais de pacotilha e magistrados do Ministério Público e judiciais, que adulteraram, conscientemente, a lógica constitucional republicana, concentrando poder num homem só, qual imperador de Angola, dela (alternância), agora, têm medo como o diabo da cruz.
E nesta senda, antecipadamente, poderá assistir-se à saída de muitos ratos do barco, por receio de ser materializada, no pleito eleitoral de Agosto/2022, a mudança de regime, ante o aumento dos exércitos do desemprego, desmobilizados, fome, miséria, discriminados e de uma juventude, cuja literacia poderá, neste ano, ou nos subsequentes, determinar a tão ansiada nova aurora.
No dia 07.02.22, um dos subscritores da atípica constituição de Fevereiro de 2010, indicado primeiro presidente do Tribunal Constitucional, Rui Ferreira, poderá ter dado o mote, ao reconhecer ter a CRA (Constituição da República de Angola) “vários problemas, entre eles o modo de eleição do Presidente da República e a natureza unipessoal do poder executivo”.
Antes tarde do que nunca, o reconhecimento… Os malefícios causados por quem tinha o dever de ser escravo do direito e não das mordomias, “jaguarianas”, foram e são muitos, porquanto, a Lei Mãe foi convertida num instrumento atípico, banal, desalinhado, ao ponto de consagrar a concentração de poder num homem só, qual extraterrestre, fragilizando os demais órgãos de soberania.
Um autêntico regabofe jurídico-constitucional, liderado, conscientemente, por homens de direito, que tinham ciência dos malefícios que causariam ao país…
Hoje o temor é dos poderes constitucionais criados para beneficiar, exclusivamente, o líder do regime, poder mudar de mãos e fazer-lhes o mesmo.
É dentro desta senda, mais do que a declaração dos bispos católicos, que está a tirar o sono aos diferentes autores do partido no poder e sucursais… Daí a feroz campanha de diabolização da UNITA com laivos de racismo, tribalismo e discriminação, na velha lógica do partido único de o MPLA ser Angola e Angola o MPLA.
Referenciar, em Fevereiro 2022, um fenómeno real, como lesivo à sobrevivência humana, não constitui crime, pelo contrário, é calcorrear as lavras e os rios da interioridade de cada “EU”, atingidas severamente, por uma fome atroz.
Uma fome não é relativa, quando real e absoluta, principalmente, se o pobre é, expressamente, excluído do orçamento e condenado a não fazer três refeições ao dia, mas meia por semana, recorrendo aos contentores de lixo… Nem na guerra da Hiroshima, tão pouco na seca da Etiópia, houve algo parecido.
Esta fome do executivo lourenciano é dantesca! É absoluta!
Logo, taxar a fome, como um refrão político, é dantesco, principalmente quando a música desta desgraça é alimentada por políticas neoliberais erradas, promotoras do desemprego, encerramento de empresas, aumento de impostos, baixos salários, juros altos e incremento da corrupção.
A maioria dos cidadãos pobres, nas esquinas da vida, impotentes, ante a ferocidade da fome são transformados em mercadoria, sem direito a funeral digno, mas os descendentes que tendo sido obrigados a aprender a viver sem comer, que sobreviveram a este “holocausto” de alimentar-se nos contentores, assumiram o compromisso solene de devolver dignidade à expressão: “a soberania reside no povo”, depositando, conscientemente, não com o coração, mas com a mente, o seu voto, na urna da alternância.
Não é possível aldrabar um povo durante todo o tempo. Por isso, hoje, gostaria de ter os olhos visionários de meu pai, quando utopicamente, ao levar-me, com três anos, para os húmus libertários, dizia sonhar com um país onde as regras imperiais seriam, a honestidade, a moral, a ética e o respeito pela “rés publica”.
Infelizmente, estão ausentes dos “dicionários mentais” e físicos dos seus próprios camaradas de percurso, que assassinaram o sonho da tão ansiada República, defensora dos direitos mais sublimes dos cidadãos.
Os ditos revolucionários, libertadores, chegados ao poder, limitaram-se a substituir os colonos portugueses, exaltando o carácter assimilado de melhor comerem com talheres e maltratar os criados pretos, logo, pergaminhos, para serem os legítimos representantes da extensão colonial.
Os “news-neocolonialistas”, tal como confirmou o político português Almeida Santos, para justificar a violação dos Acordos de Alvor, em 1974, para privilegiar, exclusivamente, a ascensão ao poder do mais assimilado e complexado dirigente angolano, Agostinho Neto, líder do MPLA. A FNLA e a UNITA ao serem excluídas, foram por Portugal empurrados para a guerra… É preciso Lisboa assumir este passivo.
2022 alberga todas estas contradições e, antes de uma possível explosão social, os bispos católicos apelaram, sabiamente, no 07.02.22, à contenção verbal e ao bom senso entre os líderes políticos angolanos, para quem detém o poder, não ser tentado a imitar o imperador Nero (Nero Claudius Cæsar Augustus Germanicus – nasceu a 15 de Dezembro de 37 d.C, em Roma e morreu aos 09 de Junho de 68). Ao subir ao poder o jovem imperador, fez uma série de promessas, quanto à gestão do império e de coabitação pacífica com a Corte e o Senado, mas pouco depois inverteu todas as promessas, começando por perseguir, prender e matar elementos da corte, tais como o pretor Antíscio, Fabrício Vejento, Caio Calpúrnio Pisão, Palas, Rubélio Plauto e Fausto Sula, entre 62 e 63, tudo para consolidar o seu poder, visando ainda o controlo do legislativo. Em 54, prometeu devolver ao Senado, os poderes que o órgão detinha na época republicana, mas cerca de 10 anos depois, os senadores denunciavam Nero de não cumprir a sua palavra, tendo-se iniciado uma conspiração; a de Pisão. Recorde-se, que em 64, fruto da pressão, face ao incremento dos impostos, as obras faraónicas (como a Casa Dourada e o canal navegável através do Istmo de Corinto) e a corrupção, Nero mandou incendiar Roma, para acusar os cristãos.
Se existir, em Angola, alguma semelhança com as práticas do extravangante imperador romano, podem não ser meras coincidências.