O actual presidente do MPLA e da República não soube interpretar Maquiavel, quando este disse: “o príncipe tem de ter virtude e fortuna”. João Lourenço tem fortuna, falta-lhe a virtude. João Lourenço tem armas, falta-lhe a virtude. João Lourenço tem poder, falta-lhe a virtude. João Lourenço tem a legalidade, falta-lhe a virtude da legitimidade.
Por William Tonet
O quadro é de rejeição ao regime (47 anos de poder autocrático), ao presidente do MPLA, João Lourenço, ao Presidente da República, João Lourenço e ao comandante-em-chefe, João Lourenço.
É triste, hoje, ter de reconhecer que o presidente João Lourenço, tal como o MPLA, mostra-se cada vez mais avesso e incompatível com os pergaminhos de um Estado de Direito e democrático. Ele é, definitivamente, um anti-democrata.
Os cinco anos, impostos pela força das armas e controlo dos órgãos de Defesa e Segurança e tribunais, serão piores que os anteriores.
No final, se nada for feito, seremos escravos do Islão, cultural e economicamente.
Os angolanos conseguem, hoje, discernir, ter vivido, nos primeiros cinco anos do conturbado consulado de João Lourenço, o mundo das trevas, piores do que nos 38 anos de épica ditadura de José Eduardo dos Santos.
Era ditadura! É ditadura! Eu senti, na pele! Muitos dos leitores, também. Infelizmente, o problema em relação à governação não é endémico mas sistémico.
No epicentro do mal está sentado o MPLA, o grande cancro da ditadura e da corrupção angolana…
Triste! Muito!
Assassinaram a utopia libertária e patriótica.
Fui parido, “ideologicamente” na 1.ª Região político-militar do MPLA, com direito a assento de naturalidade, de cidadão 843, cunhado pelo meu progenitor, cuja utopia o levava a imaginar um país polido e isento de brutamontes depois da longa noite colonial.
Enganou-se, redondamente…
O MPLA esfarelou-se, descaracterizou-se, mais em cinco anos do que nos 45 anteriores, vendendo a ideologia, a alma ao diabo, o programa maior e o sonho proletário, ao pior lado do capitalismo: neoliberalismo e ao imperialismo ocidental, que combateu estoicamente, até um passado recente.
O MPLA de João Lourenço, aliado a uma alcateia, montou uma máquina de raiva e ódio, para apagar o passado comum de roubalheira comunista, catalogar uns e perseguir até a morte José Eduardo dos Santos, eleito marimbondo. Confisco de património dos filhos, forçados ao exílio e os próximos de JES acorrentados, apontados como o cerne do mal, como se, também, não fossem estes do MPLA: cancro da sociedade!
A máquina de informação, capitaneada por Rui Falcão, complexada e assimilada, ruidosa e discriminatória, pois vilipendia o passado e ante um perfil dúbio ataca sem saber da história, impõe o monopólio da comunicação social, assassinando a liberdade de imprensa e desempregando centenas e centenas de jornalistas.
Apadrinha uma linguagem abjecta de dupla nacionalidade, mas esconde a podridão de dentro de casa, como o filho automobilista (bom, na verdade), que corre pela bandeira de Portugal, na Europa…
E acreditar que são estes dirigentes, do MPLA, oh que estirpe, que combate a dupla nacionalidade dos outros…
O MPLA, como partido político, apresenta-se como de Esquerda (estando indevidamente, na obtusa Internacional Socialista), mas age como de extrema-direita, submisso ao capital estrangeiro, ao neoliberalismo económico ocidental, a quem vem entregando as riquezas da soberania angolana, principalmente nos últimos cinco anos, contra o empobrecimento do empresariado angolano. Uma verdadeira farsa ideológica.
O MPLA abandonou, definitivamente, para quem ainda tinha esperanças, a prática democrática, quer interna, como externamente. O exemplo mais acabado, a nível interno, foi dado com o “assassinato de carácter” do militante concorrente, António Venâncio e a sequência de actos de fraude, batota e violação aos Estatutos, no VIII Congresso do MPLA, onde o presidente e candidato à sucessão, com a respectiva equipa, não só inviabilizaram a existência da comissão eleitoral, como dirigiram, ao arrepio dos Estatutos as comissões e trabalhos do congresso, inviabilizando a segunda candidatura, que seria um verdadeiro teste ao fim da ditadura do proletariado.
Com todo este histórico nebuloso, o que esperar do discurso de 15 de Outubro de 2022? Muito, pouco de nada, porque, seguramente, o país real, da fome, seca, desemprego, injustiça e discriminação, será esquecido, ante a ficção do país das maravilhas.
A perspectiva de ser configurado, no discurso mental de João Lourenço, um país com independência económica real, empoderando mais de 80% de empreendedores e empresários, não vingará. Seguramente!
O actual Presidente da República, não nominalmente eleito, no Estado da Nação tem de perspectivar, o país de amanhã, não o do passado, arruinado pelas más políticas económicas e políticas raivosas, implantadas…
Ninguém, no seu juízo perfeito, esperará, que João Lourenço seja capaz de ousar apresentar um balanço retrospectivo de obras de betão, sem eficácia na vida real dos cidadãos, ante os fracassos do Executivo, responsáveis pelo maior índice de desempregados, de falência empresarial, de inflação, de falta de sonhos.
O Presidente da República terá, esperemos, hombridade de reconhecer os erros cometidos, nos cinco anos, dentre os quais a perseguição a Eduardo dos Santos, até a morte?
A entrega e submissão do país ao FMI? A divisão do MPLA? A politização do Tribunal Constitucional?
A “venda” da soberania comercial primária, aos radicais islâmicos, que, passaram, no seu primeiro mandato, a controlar 90% das lojas e armazéns alimentares e de bebidas? O desemprego de inocentes de boa fé, por raiva dos donos de algumas empresas, seus camaradas de partido, que “comiam” da mesma gamela? Que a transformação dos governadores provinciais em primeiros secretários do MPLA é uma forma de manter acesa a chama do peculato e corrupção, alimentando as acções do partido, com fundos locupletados do Estado?
CONDENAR E ACABAR COM O ASSÉDIO ELEITORAL
O bom senso, peregrino dos homens do bem, ingenuamente, acreditam poder haver, bom senso de João Lourenço, publicamente, no palco legislativo, condenar o trabalho escabroso, a corrupção eleitoral e os procedimentos anti-democráticos, praticados pela CNE, primeiro e o Tribunal Constitucional, depois que legalizaram a ilegalidade saloia, a fraude e a batota eleitoral. Será quase impossível, mas esperemos…
Apelar um novo ciclo de higiene intelectual, solicitando o afastamento da suspeição geral, que calcorreia no oceano mental colectivo, admitindo a confrontação das Actas-síntese eleitorais, satisfazendo uma exigência legítima da oposição e sociedade civil. Será possível? Esperemos.
João Lourenço terá, no 15.10.22, a magnanimidade em reconhecer, no “discurso à nação”, ter sido traída a real soberania do eleitor, por um regime ditatorial, que ele encarna, resistindo a conversão democrática? Reconhecerá, ante os deputados eleitos (de todas bancadas), ser um Presidente da República LEGAL, mas não LEGÍTIMO?
A resistência da CNE em contabilizar cada voto, destapam a ilicitude dos procedimentos eleitorais, violando o art.º 107.º da Constituição e o n.º 3 do art.º 15.º da Lei do Registo Eleitoral Oficioso, bem como da LOEG (Lei Orgânica das Eleições Gerais), manchando a credibilidade de todo processo…
Condenará, João Lourenço, o assédio eleitoral, praticado pelo MPLA, durante o período de campanha, ao comprar, com dinheiro, bebidas e sexo ao vivo (as jardadas, são exemplo a mão de semear), votos para capitalização de X’s, nas urnas, para benefício da lista do seu partido?
Um político, presidente do MPLA, João Lourenço, Presidente da República, João Lourenço, Comandante em chefe das FAA, João Lourenço, em final de mandato, comprometido com a incipiente democracia e o n.º 2 do art.º 113.º: “Cada cidadão pode exercer até dois mandatos como Presidente da República”, conseguirá provar e transmitir, neste segundo e último mandato (2022-2027), que não hasteará a bandeira da ditadura, violando e alterando a Constituição, para se perpetuar no poder? Veremos, no dia 15.10.22!
Demonstrará, João Lourenço, um sério compromisso de combate a promiscuidade e partidocracia fascistóide, nos órgãos do Estado, nomeadamente, Forças Armadas, Segurança de Estado, Polícia, Tribunais, Procuradoria, Comissão Nacional Eleitoral, Função Pública, para deixar, ao menos um legado de despartidarização das instituições do Estado? A democracia se lhe impõe! A ditadura, não!
Finalmente, acredito, ouviremos, no dia 15 de Outubro de 2022 a denúncia de João Lourenço condenando o facto das Forças Armadas serem partidárias, em clara violação ao art.º 207.º, por o actual Comandante em Chefe, ser líder de um partido político: o MPLA! Se não falar, acreditemos, a ditadura terá uma pista livre de consolidação, para desgraça dos democratas.