Em 15 de Julho de 2012, o secretário para informação do MPLA, Rui Falcão, defendeu (isto é como quem diz) um jornalismo responsável que tivesse sempre em consideração a liberdade de opinião.
Por Orlando Castro
Discursando no lançamento da “Revista Juventude”, da JMPLA, Rui Falcão afirmou que a educação dos jovens continuava no centro da atenção do MPLA. Pois continuava. Pois continua. Isto, parafraseando João Lourenço, se “haver” necessidade de educar alguém.
Em relação à “Revista Juventude”, o secretário para a Informação do MPLA disse que era um alicerce seguro na formação e informação da juventude angolana. Para o êxito da publicação, que tinha 60 páginas, Rui Falcão considerou fundamental a existência de uma equipa jornalística actuante e dinâmica.
Lançada pelo secretariado nacional da JMPLA, a revista homenageou (obviamente) o Presidente José Eduardo dos Santos, pelo que tinha feito pela melhoria das condições de vida dos angolanos e pelo desenvolvimento do país, disse o primeiro secretário nacional, o malogrado Sérgio Luther Rescova, na cerimónia de lançamento.
Abra-se um parêntesis para informar a ERCA e DIP (Departamento de Informação e Propaganda do MPLA), que “malogrado” significa, em português, “que teve um fim prematuro”.
Por sua vez o então vice-ministro da Comunicação Social, Manuel Miguel de Carvalho “Wadijimbi”, afirmou que a “Revista Juventude” servia para aumentar a informação e fortalecer a democracia em Angola, principalmente no período que antecede as eleições gerais.
Em Janeiro de 2011, o porta-voz da Polícia Provincial de Luanda, superintendente Jorge Bengui disse à Rádio Ecclesia que os agentes da Polícia não prenderam o secretário-geral da JURA (organização da juventude da UNITA), Mfuka Fuacaca Muzemba e os seus acompanhantes mas – isto é que é democracia – que os levaram até à esquadra da IV divisão da polícia para lhes ensinarem algumas leis e procedimentos legais.
Jorge Bengui, certamente depois da leitura da cartilha leninista do MPLA, disse (importa não esquecer) que os líderes juvenis que se encontravam na altura à porta da Assembleia Nacional foram levados para não incomodar os deputados que estavam a trabalhar. Por outro lado, Mfuka Muzemba desmentiu o porta-voz da Polícia, tendo denunciado que foram ameaçados pelo segundo comandante daquela divisão policial com palavras grosseiras.
Os jovens encontravam-se concentrados junto da Assembleia Nacional, para uma manifestação pacífica, que previa a distribuição de panfletos que protestavam contra o dia 14 de Abril, que consagra o dia da juventude do MPLA, em memória de Hoji Ya Henda, o patrono da JMPLA.
A Direcção da UNITA na pessoa do seu porta-voz, Alcides Sakala, deplorou e condenou tal prática da polícia considerando-a anti-democrática.
Mfuka Muzemba disse também que “o governo angolano não quer nada com a liberdade, pois o que se viu é um tipo de repressão feito nos regimes de partido único e uma ditadura à moda marxista-leninista que se vai implantando no país”, acrescentando que, “o dispositivo da polícia estava montado a partir do Primeiro de Maio à Maianga, e que tudo indica que a arrogância que o efectivo da polícia demonstrou, estava claro de que tinham orientações para impedir qualquer acto pacífico”.
Todos os actos de repressão, ou de defesa da democracia segundo regime, evitavam-se se todos aqueles que não são do MPLA aprendessem que Angola é do MPLA e o MPLA é Angola.
Aliás, num seminário de formação de formadores que há uns anos marcou o lançamento do programa de formação política e patriótica dos dirigentes, quadros, militantes e amigos da JMPLA, curiosamente levado a cabo na colónia angolana de Cabinda, já se confirmava qual era e é o objectivo do regime.
Tal e qual comos nos tempos da militância marxista-leninista do pós-independência (11 de Novembro de 1975), o regime angolano continua a reeducar o povo e não só o povo (veja-se o que estão e reeducar, entre outros, Isabel dos Santos e Tchizé dos Santos) tendo em vista a militância política e patriótica. E tanto a militância política como a patriótica são sinónimos de MPLA. Quem pensar diferente ou vai para os campos (ou esquadras) de reeducação, ou leva um tiro na cabeça.
Basta ver, mas sobretudo não esquecer, o exemplo dos Pioneiros, uma organização similar à Mocidade Portuguesa dos tempos de um outro António. Não António Agostinho Neto mas António de Oliveira Salazar.
Num Estado de Direito, que Angola diz – pelo menos diz – querer ser, não faz sentido a existência de organismos, entidades ou acções que apenas visam a lavagem ao cérebro e a dependência canina perante quem está no poder desde 1975, o MPLA, nem perante um presidente não eleito que esteve no poder 38 anos e outro que está há cinco anos.
Dependência essa que, como todas as outras, apenas tem como objectivo o amor cego e canino ao MPLA, como se este partido fosse ainda o único, como se MPLA e pátria fossem sinónimos. Como se, agora e com a morte de José Eduardo dos Santos, João Lourenço tivesse recebido por correio divino o certificado de único representante de Deus em Angola e países contíguos.
Na acção levada a cabo pelo regime na sua colónia de Cabinda, os trabalhos incidiram sobre “Princípios fundamentais e bases ideológica do MPLA”, “Discurso do Presidente José Eduardo dos Santos na abertura do VI Congresso do partido”, “Princípios fundamentais de organização e funcionamento da JMPLA” e ” O papel da juventude na conquista da independência Nacional e na preservação das vitórias do povo angolano”.
Nem no regime de Salazar se fazia um tão canino culto do regime e do presidente como o faz o MPLA. Basta, aliás, ver que os pastores das Igreja Evangélica Sinodal de Angola já dizem que José Eduardo dos Santos era “o escolhido de Deus”.
Não nos esqueçamos também que, por exemplo, o regime tem comandantes militares cuja exclusiva função é a Educação Patriótica.
Dezenas de anos depois da independência, 20 depois da paz, a estrutura militar continua a trabalhar à imagem e semelhança dos Khmer Vermelhos de Pol Pot.
Recorde-se que em Setembro de 2010 o então substituto do comandante da Região Militar Norte para Educação Patriótica do MPLA, Coronel Zeferino Sekunanguela, enaltecia, no Uíge, o contributo do primeiro presidente de Angola, António Agostinho Neto na luta de libertação nacional.
O oficial superior da tal “Educação Patriótica”, que falava na palestra sobre “Vida e obra de Doutor Agostinho Neto”, disse que Neto foi o Fundador do movimento nacionalista, da Nação angolana e contribuiu para a luta de libertação nacional.
Assim sendo, “Educação Patriótica” é sinónimo do culto das personalidades afectas ao regime do MPLA, banindo da História de Angola qualquer outra figura que não se enquadre na cartilha do partido que, cada vez mais, não só se confunde com o país como obriga o país a confundir-se consigo.
O oficial superior da tal “Educação Patriótica” reconheceu então que o primeiro presidente de Angola foi um grande estadista e político que contribuiu também para a libertação de outros povos africanos rumo à independência dos seus países.
Só é pena que Agostinho Neto não tenha nascido há uns séculos para ser possível dizer que também contribuiu para a independência de Portugal. Mesmo assim, é de crer que o oficial superior da tal “Educação Patriótica” sempre pode dizer que Neto ajudou também a democratizar o regime português.
Segundo o oficial superior da tal “Educação Patriótica”, graças à sabedoria de Agostinho Neto é que o povo de Angola conseguiu libertar-se da escravatura e da colonização portuguesa e de todas os crimes promovidas pelos inimigos de Angola.
O oficial superior da tal “Educação Patriótica” explicou também a contribuição de Neto como médico profundamente humano, como escritor e político de renome internacional. De facto, ao que parece, melhor do que Agostinho Neto só seria, foi mas já não é, José Eduardo dos Santos. Agora é a vez de João Lourenço.