Racistas cospem no prato onde comem

Milhares de pessoas assinaram uma petição pública que exige a deportação do activista luso-senegalês Mamadou Ba, após comentários racistas sobre o mais condecorado militar português, tenente-coronel comando Marcelino da Mata.

“Mamadou Ba, ex-acessor do Bloco de Esquerda e dirigente da Associação SOS Racismo, proferiu declarações caluniosas no Twitter contra o Militar mais condecorado da História Portuguesa, o Tenente-Coronel Marcelino da Mata, um dia depois do seu falecimento”, lê-se na petição.

Os peticionários querem que a “expulsão” do activista “sirva de exemplo”: “Serve a presente petição pública para que a Assembleia da República vote favoravelmente pela expulsão de Portugal de alguém que não se sente bem em Portugal nem com a nossa cultura e valores. Que esta expulsão sirva de exemplo”.

De salientar que, segundo a legislação, “qualquer petição subscrita por um mínimo de 1.000 cidadãos é, obrigatoriamente, publicada no Diário da Assembleia da República e os peticionários são ouvidos em sede de comissão parlamentar e, caso haja mais de 4.000 cidadãos subscritores, a mesma tem de ser apreciada em reunião plenária da Assembleia da República”.

Recorde-se que Mamadou Ba criticou o facto de o CDS-PP ter apresentado um voto de pesar pela morte “do sanguinário Marcelino da Mata”, alegando que este terá declarado que nunca entregou “um turra (calão para combatente independentista africano) à PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado do regime fascista de Salazar)”, antes “cortava-lhes os tomates, enfiava-lhos na boca, e ficava ali a vê-los morrer”.

“Queixam-se do uso displicente do qualificativo ‘fascista’ e refutam a filiação ideológica ao fascismo. Mas investem na homenagem a figuras sinistras como Cónego Melo, Kaúlza de Arriaga e Marcelino da Mata. Marcelino da Mata é um criminoso de guerra que não merece respeito nenhum”, disse.

No domingo, o CDS-PP acusou o activista de “usar o ódio e preconceito para ter existência política” e exigiu a sua “saída imediata” do grupo de trabalho para a Prevenção e o Combate ao Racismo e à Discriminação. O líder centrista, Francisco Rodrigues dos Santos, defendeu ainda que Mamadou Ba “ofende portugueses, insulta a nossa história, denigre a nossa cultura e agora desrespeita os símbolos e figuras nacionais”.

Tenente-coronel comando, Marcelino da Mata nasceu em 1940. É o militar mais condecorado de toda a história das Forças Armadas Portuguesas. Fez várias comissões na Guiné como operacional nos grupos de comandos negros. Foi instrutor das tropas que invadiram a Guiné-Conacri.

Inimigo total da PAIGC, a quem acusou de ter feito mal à sua família por razões políticas, entrou para o Exército português na Guiné no dia 3 de Janeiro de 1960. Fez a recruta de cinco meses e a especialidade em quatro. A primeira operação que efectuou foi com um batalhão de açorianos, o Batalhão 356.

Avesso a quem, como dizia, sabia tudo mas não fazia nada, Marcelino da Mata entrou em colisão com alguns dos superiores e para arejar inscreveu-se no curso de Comandos. E foi como Comando que fez uma operação em Morés. “Fomos lá dar porrada aos gajos”, afirmava com um humor que lhe era típico.

Devido a um caso de saias, “sai” dos Comandos e vai para Farim, no Norte, e com a ajuda do 2° comandante, o tenente-coronel Agostinho Freire, do Batalhão 1887, forma um grupo especial à sua medida. O inimigo começou a perder batalhas atrás de batalhas.

Marcelino da Mata afirmava que participou em todas as principais batalhas na Guiné. A mais difícil, dizia o mais condecorados dos militares portugueses, passou-se em Portugal.

“Fomos traídos, abandonados. Eu estava aqui no Regimento de Comandos da Amadora, em 1974, a comandar uma companhia, a 123, e obrigaram-me a pedir a nacionalidade portuguesa. Será que eu era mercenário aqui dentro? Um militar fardado, dentro de uma unidade a comandar uma companhia, a fazer todos os serviços que fossem precisos, e obrigarem-no a requerer a nacionalidade! Mas eu nunca renunciei à nacionalidade portuguesa”, contava com a dor que nunca sentiu em combate.

“Houve um animal, na Administração Interna, que me disse: O senhor foi colonizado. Eu disse: Eu nunca fui colonizado! Os meus antepassados foram colonizados, mas eu não. Eu nasci numa nação chamada Portugal!”, recordava Marcelino da Mata.

Recordando que veio para Portugal deitado numa maca e que a sua família sofreu fortes humilhações nas mãos do PAIGC, Marcelino da Mata afirmava que “tudo o que o Mário Tomé e o Melo Antunes dizem é mentira”, e garante que a Guiné tinha as companhias africanas, de comandos africanos, destacamentos de fuzileiros e milícias especiais capazes de assegurar o referendo.

Com uma coragem que nem a idade alterou, dizia que a única preocupação que o Estado português teve na Guiné foi desarmar o exército africano e entregá-lo ao PAIGC. E acrescenta que se o general Spínola continuasse mais dois anos na Guiné, o PAIGC entregava-se.

No dia 25 de Abril Marcelino da Mata estava no mato na fronteira com a Guiné-Conacri. Tinha ido patrulhar a única base que o PAIGC ainda lá tinha. No regresso o 2.º comandante do batalhão perguntou-lhe de onde é que vinha. Ele respondeu que vinha do mato. “Então você anda no mato? Não sabe que a guerra já acabou?”, disse o comandante. “Eu mandei-o à fava”, recordava.

Mas ao meio-dia, quando estava na messe a comer, ouviu na rádio que Spínola tinha feito um golpe em Portugal e que a guerra estava suspensa. Quando chegou a Bissau, tinha sido destacado para Bula. Na altura que desce do carro, um dos seus soldados (Mário Dantas) deixou cair duas granadas. A explosão deixou no corpo de Marcelino da Mata 117 estilhaços. Foi evacuado para Portugal, então era alferes do Quadro Permanente.

Marcelino da Mata dizia que o PAIGC só entrou na cidade de Bissau depois dos comandos e fuzileiros serem desarmadas. Dizia, aliás, que quem desarmou os comandos foi Carlos Fabião e acrescentava que a 15.ª Companhia, em Mansoa, não aceitou o desarmamento. Resultado? “A maioria deles foram fuzilados.” Fuzilados pelos amigos, democratas e impolutos cidadãos elogiados por Mamadou Ba.

Recorde-se que o luso-senegalês Mamadou Ba evocou que “é preciso matar o homem branco, assassino, colonial e racista” de forma a “evitar a morte social do sujeito político negro”. As declarações de Mamadou Ba foram feitas durante a conferência online organizada pelo canal online Pensa Africanamente dedicada ao tema “Racismo e Avanço do Discurso de Ódio no Mundo”.

As palavras de Ba foram equívocas, conforme se pode verificar na visualização do vídeo do evento. Não é claro se o antigo assessor do Bloco de Esquerda assumiu aquele pensamento ou se apenas estava a citar (concordando com ele, presume-se), “Frantz Fanon”, um filósofo francês oriundo da Martinica que se especializou na psicopatologia da colonização.

No encontro digital, que juntou activistas brasileiros contra o racismo, o também dirigente do SOS Racismo afirmou ainda que “a refutação faz parte da capacidade propositiva, mas o que mais importa para combater o discurso do ódio é propor uma nova narrativa”.

O Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas e o chefe do Estado-Maior do Exército estiveram presentes no funeral do tenente-coronel Marcelino da Mata, esta segunda-feira, no cemitério de Queluz.

Recorde-se que aquele que é o militar mais condecorado do Exército português morreu aos 80 anos, na quinta-feira passada, no Hospital Amadora-Sintra, vítima da Covid-19.

A cerimónia religiosa foi celebrada pelo bispo das Forças Armadas, Rui Valério, e pelo capelão do Regimento de Comandos, alferes Ricardo Barbosa. Marcaram também presença, além de Marcelo Rebelo de Sousa, o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, almirante Silva Ribeiro; o Chefe do Estado-Maior do Exército, general Nunes da Fonseca; representantes da associação de comandos, ex-militares, muitos com a boina vermelha dos Comandos, força de elite da qual Marcelino da Mata foi fundador.

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One Thought to “Racistas cospem no prato onde comem”

  1. Carlos Pinho

    Tomo a liberdade de colocar aqui a última estrofe dos Lusíadas
    ……..
    Ou fazendo que, mais que a de Medusa,
    A vista vossa tema o monte Atlante,
    Ou rompendo nos campos de Ampelusa
    Os muros de Marrocos e Trudante,
    A minha já estimada e leda Musa
    Fico que em todo o mundo de vós cante,
    De sorte que Alexandro em vós se veja,
    Sem à dita de Aquiles ter enveja.

    E chamo a atenção para a última palavra desta estrofe e consequentemente desta obra.
    A palavra final dos Lusíadas é aquela que melhor qualifica os portugueses. O resto é conversa!

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