As comemorações do Dia Mundial da Língua Portuguesa, que se assinala hoje, decorrem em 44 países, com mais de 150 actividades, em formato misto, presencial e virtual. Proclamado em 2019 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), este é o segundo ano em que se celebra o Dia Mundial da Língua Portuguesa.
O programa, coordenado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, contempla iniciativas que decorrerão em todas as regiões do mundo e abrangem as dimensões geográfica, da investigação, de tradução, da ligação a outras artes e de mobilização das populações.
A agenda inclui conferências, colóquios, concertos, concursos literários e de poesia e iniciativas académicas.
A data é marcada com uma sessão solene, em Lisboa, com a participação do chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, e do secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Francisco Ribeiro Telles.
Durante esta sessão, serão transmitidas mensagens em vídeo do secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, do Presidente de Cabo Verde Jorge Carlos Fonseca — actualmente presidente em exercício da CPLP — e do chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa.
O ano passado, António Guterres, considerou a proclamação pela UNESCO do Dia Mundial da Língua Portuguesa, como “um justo reconhecimento” da relevância global do idioma.
“Portugal em Linha”, lembram-se?
“A proclamação do 5 de Maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa é o justo reconhecimento da sua relevância global” disse António Guterres, numa mensagem alusiva à data.
O ex-primeiro-ministro português foi uma das personalidades lusófonas que participou em 2020 na cerimónia ‘online’ que assinalou o primeiro Dia Mundial da Língua Portuguesa, juntando-se a mais de duas dezenas de personalidades lusófonas da política, letras, música ou desporto.
O secretário-geral das Nações Unidas destacou a diversidade e multiculturalidade da língua portuguesa, considerando que esta se enriquece “no dia-a-dia de vários povos de todos os continentes”.
“Assumindo um papel fundamental na mobilização do conhecimento, com uma presença cada vez mais visível em diversas facetas culturais, adicionando valor nas dinâmicas globais da economia, da ciência e das parcerias internacionais, o português é efectivamente uma língua de comunicação global”, disse.
Recordando que, enquanto primeiro-ministro de Portugal, foi um dos fundadores da Comunidade dos Países de “Língua” Portuguesa (CPLP), António Guterres considerou que a “comunidade que se tem aprofundado e fortalecido”, congregando um número cada vez maior de observadores associados.
“A CPLP é também a comunidade das pontes de língua portuguesa. Estou seguro que estas pontes continuarão a ser moldadas nos […] valores do multilateralismo efectivo e que o futuro da língua portuguesa continuará a ser moldado pela diversidade de todas as suas vozes”, disse.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) declarou 5 de Maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa, mediante proposta de todos os países lusófonos apoiada por mais 24 Estados, incluindo países como a Argentina, Chile, Geórgia, Luxemburgo ou Uruguai.
O português é falado por mais de 260 milhões de pessoas nos cinco continentes, ou seja, 3,7% da população mundial.
É língua oficial (não obrigatoriamente usada) de nove países-membros da CPLP (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) e Macau, bem como língua de trabalho ou oficial de um conjunto de organizações internacionais como a União Europeia, União Africana ou o Mercosul.
O Presidente da República português (nominalmente eleito), Marcelo Rebelo de Sousa, disse há um ano que a “força comum” da língua portuguesa é feita do génio de todos os povos lusófonos e de ser uma língua de “futuro, viva e diversa”.
Numa mensagem, a propósito do Dia Mundial da Língua Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que a força da “nossa língua comum” é feita do “génio de angolanos, brasileiros, cabo-verdianos, guineenses, moçambicanos, são-tomenses e portugueses, falando há séculos em casa e nas diásporas”.
O chefe de Estado português evocou, neste contexto, grandes nomes das letras da lusofonia, de Camões (Portugal) a Craveirinha (Moçambique), de Jorge Amado (Brasil) a Hélder Proença (Guiné-Bissau), de Pepetela (Angola) a Germano Almeida (Cabo Verde), de Fernando Silvan (Timor-Leste) a Alda Espírito Santo (São Tomé e Príncipe).
Estranho. Então o Presidente português cita Pepetela e não Agostinho Neto que, segundo o MPLA é o maior de todos os tempos?
O chefe de Estado português sublinhou também o potencial de futuro da língua portuguesa, bem como a sua diversidade (bem patente como língua não falada na Guiné Equatorial) e dispersão geográfica.
“O génio de ser uma língua de futuro, viva, diversa na unidade, que muda no tempo e no espaço, continuando a ser a mesma no essencial”, disse.
Na mensagem, Marcelo Rebelo de Sousa enviou ainda “um abraço muito forte” e “em português” a todos os lusófonos num tempo em que é preciso união “perante um vírus, um inimigo comum”, numa alusão à pandemia da Covid-19.
Ter memória e lembrar os que fazem
Há uns anos, isto antes da chegada ao poder em Portugal de carradas de políticos “nescafé” (mistura-se água e… já está), quando se abria o portal do Governo português, na secção Lusofonia encontrava-se o seguinte: “Mais virado para as notícias sobre cada um dos países lusófonos, encontra-se o portal Portugal em Linha.”
Com o assalto ao poder por parte desses (supostos) governantes que não são sérios e nem se preocupam em parecê-lo, essa ligação desapareceu. É natural. O criador do “Portugal em Linha” não era, nunca foi, nunca será, um acólito sabujo dos donos do poder, esteja este onde estiver, em Lisboa ou em Luanda. Muito menos em Malabo. Prefere comer mandioca de pé do que lagosta de cócoras.
Ainda pouco se falava de Lusofonia quando, em finais de 1996 (um ano depois do nascimento do Folha 8), António Ribeiro (é dele que falamos e é a ele que prestamos homenagem) decidiu criar, na Internet, um espaço privilegiado para a comunicação entre todos os falantes da língua de Camões, independentemente do local de habitação.
Sabia, à partida, que este era um espaço necessário e que ninguém decidira ainda cobrir. Estava-se nos primórdios da Internet. Sempre partindo do princípio de que todos temos interesse em saber o que se passa de relevante nos outros países irmãos ou, estando fora do seu país, querem saber o que por lá vai acontecendo.
Assim, em Outubro de 1997, um ano depois do nascimento do Portugal em Linha, nascia o Notícias Lusófonas. Desde essa data publicou, primeiro mensalmente, depois quinzenalmente e, por fim – sempre respondendo às solicitações dos leitores – semanalmente, uma súmula de notícias acerca do que ia acontecendo um pouco por todas as Comunidades Lusófonas.
Nesse tempo, as informações eram enviadas por e-mail aos subscritores. Não foi um trabalho fácil e teve algumas interrupções.
“Mentiríamos se disséssemos que nunca tivemos apoios. Tivemos. Dos muitos milhares de leitores e amigos que sempre nos incentivaram com palavras de apreço e de estímulo. Sempre foram eles que nos deram o alento para continuar, mesmo quando o desânimo pela falta de apoios “mais materiais” sobre nós se abatia”, recorda António Ribeiro.
Sempre com meios próprios e animado da velha paixão pela Lusofonia, resolveu em Outubro de 2002 renovar o Notícias Lusófonas e fazer – uma vez mais – o que não existia em toda a Comunidade Lusófona: um jornal (digno desse nome) online com notícias dos vários países lusófonos e das comunidades lusófonas espalhadas pelo mundo, com actualização dinâmica e diária, contendo ainda entrevistas e artigos de opinião.
Para essa nova aposta, que se revelaria um êxito editorial pioneiro na informação lusófona, muito contribuiu o apoio, a dedicação e o conhecimento profissional de alguns jornalistas amigos.
“Encetamos a formação de uma Redacção e aqui, mais uma vez, fomos pioneiros. Aproveitando a força e as potencialidades das novas tecnologias, o Notícias Lusófonas passou a ser feito em todos os cantos do Mundo onde estavam os nossos colaboradores”, recorda António Ribeiro.
Assim, a Redacção não tinha espaço físico e existia onde estivessem os seus jornalistas e demais colaboradores, fosse em Angola, Timor-Leste ou em qualquer outro recanto onde existisse um computador.
Embora muita da informação fosse colocada online pelos seus jornalistas, o Notícias Lusófonas contava igualmente com agências de informação, casos da France Press, Lusa e Reuters.
Parafraseando Luís de Camões, o Notícias Lusófonas cantou o peito ilustre lusitano e, na prática, recordou que a ele obedeceram Neptuno e Marte. Além disso, importa dizê-lo, manda cessar (se para tal todos os lusófonos tiverem engenho e arte) “tudo o que a Musa antiga canta”. Fá-lo na certeza de que “outro valor mais alto se alevanta”.
Por culpa (mesmo que inconsciente) dos poucos que têm milhões, continuam os milhões que têm pouco à espera que a chamada comunidade lusófona acorde do longo e se calhar irreversível estado de coma em que se encontra. É claro que, como em tudo na vida, não faltarão os que dirão que não é possível entregar a carta a Garcia. Dirão isso e, ao mesmo tempo, apontarão a valeta mais próxima.
Mas não é com esses que se faz a História da Lusofonia, tal como não é com esses que se fez o Portugal em Linha ou o Notícias Lusófonas, apesar de muitos deles teimarem em flutuar ao sabor de interesses mesquinhos e de causas que só se conjugam na primeira pessoa do singular.
Até agora são mais os exemplos dos que, em vez de privilegiarem a competência, preferem a subserviência. Aliás, um dia destes, um velho amigo das causas lusófonas fez-nos o retrato do que entende ser o mal da nossa (lusófona) sociedade: “Quem trabalha muito, erra muito; quem trabalha pouco, erra pouco; quem não trabalha, não erra; quem não erra… é promovido.”
Será? Pela nossa experiência cremos que é mesmo assim. No entanto, pensamos que não poderá continuar a ser assim, a não ser que queiramos ver a Lusofonia substituída pela Francofonia ou por outra qualquer fonia.
Será isso que os políticos das pátrias que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa querem que aconteça?
Resta-nos acreditar (continuar a acreditar) que a Lusofonia pode dar luz ao Mundo e que, por isso, não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar. Se calhar, mais uma vez, estamos a tentar o impossível. Mas vale a pena (até porque a alma não é pequena), já que o possível fazemos nós todos os dias.
Cabe aqui uma declaração de interesses. Alguns de nós do Folha 8 fizeram, com orgulho, parte desse projecto. Hoje, igualmente com muito orgulho nosso, o António Ribeiro colabora de alma e coração, 24 horas por dia se tal for necessário, com o Folha 8.