Enquanto o Presidente, João Lourenço, conta anedotas na Escócia e o vice-Presidente, Bornito de Sousa, se entretém a processar judicialmente quem fala dos custos do vestido de noiva da sua filha, 40% de crianças desistiram da escola, na província do Cunene, devido à seca e à fome que assolam a região…
Segundo fonte oficial, a situação leva, continua a levar, à “dispersão populacional que busca pela subsistência”. Segundo o coordenador da Zona de Influência Pedagógica (ZIP) da província do Cunene, sul de Angola, Pelágio Ndafenongo Silikuvamwe, o calor, a seca e a fome colocam “grandes desafios na organização das escolas”, sobretudo devido à dispersão destas.
É necessário “criarmos modelos adequados e adaptados à nossa realidade, por um lado, porque vivemos uma fase de resiliência alimentar, por outro lado, seca e estiagem e isso submete-nos à necessidade de adoptarmos estratégias compatíveis à realidade local”, disse o responsável. Isto, recorde-se, ao fim de 46 anos de governação do MPLA.
Pelágio Ndafenongo Silikuvamwe, que falava aos jornalistas, em Luanda, no âmbito de uma acção de formação, promovida pelo Ministério da Educação de Angola, deu conta que 70% das escolas do Cunene são de construção precária ou debaixo de árvores.
O coordenador da ZIP Cunene fez saber também que a província tem matriculado perto de 300 mil crianças no presente ano escolar 2021/22, mas, em consequência da constante mobilidade populacional, as desistências atingiram já os cerca de 40%.
O número de desistência de alunos “oscila entre os 35% a 40%, em algumas comunidades, o que é bastante preocupante por causa da situação da resiliência alimentar”.
“Temos verificado essas desistências por causa das situações que temos vivenciado, fundamentalmente a fome e a seca, o que leva muitas crianças a deslocarem-se de uma comunidade para a outra e aí também tem-se verificado muitas desistências”, frisou.
O Cunene é uma das províncias ao sul de Angola afectadas nos últimos anos pela longa estiagem e seca, situação que concorre para a constante mobilidade das populações, inclusive para a Namíbia, em busca de meios de subsistência.
O Governo diz que desenvolve várias acções, como a construção de projectos estruturantes e a distribuição de água e alimentos às populações, visando contrapor o actual cenário de estiagem. É claro que são projectos que levam muito tempo a concretizar. Talvez, com algum optimismo, o problema se resolva quando o MPLA atingir os 100 anos de governação ininterrupta. Já só faltam 54…
A “fraca adesão” de alunos às escolas, justificou Pelágio Ndafenongo Silikuvamwe, resulta sobretudo de problemas climáticos, que tem reduzido a possibilidade das comunidades terem acesso à água.
“E muitas vezes os problemas socioculturais submetem essas crianças em idade escolar a longas distâncias para irem à transumância, acompanhar o gado para a alimentação e a procura de água”, apontou.
Para o responsável, a construção de “escolas itinerantes e evolutivas”, sobretudo para alunos do ensino primário, deve responder à actual dispersão da populacional e colmatar a abstenção de alunos em muitas escolas com mais de cinco salas de aula.
“É uma sugestão que vamos levar ao mais alto nível para se poder analisar, para que no momento da edificação de escolas sejam adaptadas à realidade local para o maior aproveitamento e racionalização dos recursos”, rematou o dirigente.
O Ministério da Educação, no âmbito do Projecto Educação para Todos (PAT), financiado pelo Banco Mundial (BM), prevê formar, entre 3 de Novembro e 10 de Dezembro, mais de 40 mil professores em Língua Portuguesa, Matemática e outros domínios, para irem dar aulas debaixo de árvores e, mesmo assim, sem alunos.
O MPLA vai chegar lá…
Mais de 1,3 milhões de pessoas (mesmo que consideradas pelo MPLA como de segunda, ou terceira, categoria) no sudoeste de Angola sofrem de “fome extrema” devido à pior seca dos últimos 40 anos, que deixou campos áridos, pastagens secas e reservas alimentares esgotadas, adverte o Programa Alimentar Mundial (PAM).
Pena é que este organismo da ONU não se preocupe em saber a razão pelo qual o governo (o mesmo há 46 anos) nada faz profilacticamente e se limite a constatar o óbvio, razão pela qual temos 20 milhões de pobres, tendo o MPLA falhado radicalmente na sua estratégia de ensinar os angolanos a viver sem… comer.
As três províncias mais afectadas pelo problema são o Cunene, a Huíla e o Namibe, segundo o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas.
“No sul do país, famílias têm migrado para outras províncias e para a vizinha Namíbia em busca de água e pasto para o gado”, diz a directora nacional do PAM para Angola, Michele Mussoni, num comunicado.
“Estas áreas têm sofrido os efeitos devastadores das alterações climáticas e a seca actual ameaça a segurança alimentar e a nutrição das pessoas vulneráveis”, acrescentou Michele Mussoni.
Nos próximos meses, advertiu Michele Mussoni, a situação é susceptível de piorar e o número de pessoas famintas é susceptível de atingir 1,58 milhões, entre Outubro e Março de 2022, a época de escassez, quando as reservas alimentares tradicionalmente se esgotam.
A seca também atingiu 114.000 crianças com menos de 5 anos de idade que sofrem ou podem sofrer de desnutrição (fome, em português) aguda nos próximos 12 meses, com graves efeitos no seu desenvolvimento físico e mental, de acordo com o PAM.
Em Angola, cerca de 3,5 milhões de pessoas, tal como os mais de 20 milhões de pobres, estão a ser afectadas pela crónica e ancestral (quase 46 anos de governação) incompetência do MPLA.
Michele Mussoni diz que a seca atingiu não só as províncias do Sul, como o Namibe, Huila e Cunene, mas também o Huambo, Benguela e Cuanza Sul e afecta, segundo os dados de satélite recolhidos, relativos à precipitação e cobertura vegetal, cerca de 3,5 milhões de pessoas, ou seja, aproximadamente 10% da população angolana.
A ONU continua a branquear a incompetência do MPLA pois não consegue dizer que o MPLA não é solução para o problema mas, antes, o problema para a solução. Sabe que é isso, mas o politicamente correcto impede-a de dizer a verdade. Aliás, todas as bestas passam a ser bestiais quando chegam ao Poder. E o contrário também é verdade.
Michele Mussoni explicou em Julho que o PAM não está envolvido directamente na distribuição de alimentos, pois não foi declarado o estado de emergência. E tem razão. Quanto mais tarde o Governo declarar o estado de emergência, menos angolanos haverá necessidade de alimentar porque, ao que consta, os mortos não precisam de… comida.
“O governo está a considerar a declaração do estado de emergência, está a consultar internamente e a conversar connosco neste sentido”, indicou. E, é claro, antes de analisar a fome João Lourenço e a sua equipa tem de comer qualquer coisa, talvez uma frugal refeição tipo trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas e umas garrafas de Château-Grillet 2005…
Folha 8 com Lusa