«A polícia irlandesa deteve em 24 de Julho de 2012 Sean FitzPatrick, o antigo presidente do banco Anglo-Irish, agora nacionalizado, na sequência de uma investigação de fraude na instituição bancária, que faliu durante a crise financeira.
Por Orlando Castro (*)
Não sei a razão, não sei mesmo, mas ao ler a notícia veio-me à memória o antigo presidente do Banco Privado Português (BPP), João Rendeiro, que recebeu em 2008 três milhões de euros em remunerações. Isto, no mesmo ano em que a instituição solicitou o auxílio do Banco de Portugal para evitar a falência.
De acordo com o canal de televisão britânico BBC, FitzPatrick foi detido no aeroporto de Dublin, a terceira vez desde que começou a investigação ao Anglo-Irish, há três anos.
O banco Anglo-Irish, que chegou a ser o terceiro maior banco irlandês, foi nacionalizado há dois anos e desde então, necessitou da injecção de financiamento estatal no valor de vários milhares de milhões de euros.
Em Março, o banco, que se chama agora Companhia Irlandesa de Resolução Bancária, anunciou prejuízos, antes de impostos, no valor de 873 milhões de euros, em 2011, contra prejuízos de 17,7 mil milhões de euros em 2001.
No que tange ao reino lusófono da europa, em 10 anos o BPP pagou a João Rendeiro 12 milhões de euros, a maioria através de offshores. Deste dinheiro, apenas 3,2 milhões de euros terão sido declarados ao fisco. Uma discrepância que acabou por ser detectada pelas autoridades.
O antigo presidente do BPP sustenta que os valores recebidos deveriam ser líquidos e por isso considera que deve ser o banco a pagar os impostos em causa, motivo pelo qual instaurou um processo contra o BPP.
Como disse João Cravinho no prefácio do livro de… João Rendeiro, “esta é a história do banqueiro, filho de um casal proprietários de uma sapataria em Campo de Ourique, que do nada chegou ao topo no mundo das Finanças, com negócios em Portugal, Espanha, Brasil e África”.
Continuando com João Cravinho no mesmo texto, “João Rendeiro é um dos investidores mais ousados e respeitados no mercado financeiro português. Neste livro (“Testemunho de um Banqueiro”), Rendeiro desvenda a sua estratégia de fazer negócios e investir na Bolsa, bem como a melhor forma de sobreviver à crise financeira despoletada pelo subprime”.
Segundo noticiou em tempos o Correio da Manhã, a casa onde mora João Rendeiro, no exclusivo condomínio da Quinta Patino, em Cascais, está registada numa sociedade estrangeira, sediada num offshore, que já teve duas moradas diferentes. A mansão do lote 81, avaliada em 2,1 milhões de euros, é propriedade da empresa Corbes Group Limited, que a adquiriu em Maio de 2000 com recurso a um empréstimo do Banco Bilbao Vizcaya no valor de 250 mil euros.
Segundo disse ao Diário de Notícias o socialista João Cravinho, actual administrador do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), “é amigo” do ex-presidente do BPP”, mantendo a propósito de João Rendeiro, que “chegar mais alto pelo seu próprio mérito, com toda a limpeza, é também apontar caminhos aos outros, um pouco como quem abre portas a futuras marés que levantam os barcos à medida que a linha de água sobe.”
No dia 24 de Maio de 2009, escrevia o Correio da Manhã que muita coisa mudou na vida de João Rendeiro:
“Passou de um banqueiro de sucesso que ‘venceu nos mercados’ (como dizia na capa do seu livro lançado em Novembro do ano passado) para o homem que deixou o banco privado perto da falência. E muitos foram aqueles com quem privou que agora lhe viraram as costas. A última vez que apareceu em público foi numa assembleia geral do BPP, de onde saiu derrotado pelos accionistas que recusaram as suas propostas para recuperar o banco. Não dá entrevistas, não comenta as acusações que lhe são imputadas. Refugia-se na sua casa na Quinta Patino”.
Mas não é, obviamente, tudo. “Mas há coisas de que não abdica. Saiu da reunião e foi para o Hotel Ritz. Há poucas semanas foi visto a almoçar no Eleven (um dos restaurantes mais caros de Lisboa), do qual foi fundador com mais 11 empresários. Em Fevereiro, também não perdeu a oportunidade de viajar para Madrid para ir à conhecida ARCO, feira de arte contemporânea”.
Como sempre, é mais um bom exemplo “made in Portugal”. Creio que será com gente assim que o país se safará da bancarrota…
(*) Nota: Artigo publicado em 24 de Julho de 2012, em https://altohama.blogspot.com