CLARO! A VITÓRIA É CERTA

João Lourenço, líder e candidato à presidência do MPLA, partido no poder em Angola há 46 anos, reiterou hoje o que prometera em 2017 e que, por sua vez, já fora prometido durante décadas pelo seu “pai” partidário (José Eduardo dos Santos). Ou seja, o combate à corrupção, manifestando-se optimista na renovação da confiança depositada pelos angolanos, nas próximas eleições gerais do país, em Agosto de 2022.

João Lourenço discursava hoje na cerimónia de abertura do VIII congresso ordinário do MPLA, marcada pela homenagem a várias figuras históricas do partido que governa o país desde 1975 e músicos com intervenção política na luta de libertação, e pela ausência do seu presidente emérito, José Eduardo dos Santos, figura que em nenhum momento da sessão foi mencionada, mau grado ter sido considerado durante décadas e por muitos dos presentes (incluindo João Lourenço) como o “escolhido de Deus”.

Na sua intervenção, João Lourenço, que concorre sozinho à sua sucessão neste VIII congresso ordinário, que termina no sábado, destacou nesta data supostamente consagrada ao combate à corrupção que Angola, sob direcção do MPLA, leva a cabo uma luta contra este fenómeno e a impunidade para a moralização da sociedade. Neste caso é uma luta perdida logo à nascença. É que ganhar a luta contra a corrupção significará acabar com o… MPLA.

“Neste dia 9 de Dezembro, consagrado como dia de luta contra a corrupção, reiteramos a determinação da sociedade, do executivo e da justiça angolana em combater a corrupção e do nosso empenho de recuperar os activos ilicitamente adquiridos onde quer que se encontrem”, sublinhou.

João Lourenço fez igualmente referência à situação económica do país, afectada pela pandemia da Covid-19 e pela crise económica mundial, salientando que, apesar destes constrangimentos, está optimista que os angolanos venham a renovar a confiança na liderança do MPLA, nas eleições gerais de Agosto de 2022, como resultado do “trabalho, dedicação e empenho nas soluções para o país e dos cidadãos” e por tudo quanto tem vindo a ser feito para o bem-estar da população. Por outras palavras, falta pouco para que o MPLA nos abra a porta do paraíso…

Neste congresso, prosseguiu João Lourenço, fica também a marca de que, pela primeira vez na história de Angola, um partido político alcançou a paridade do género, com o seu Comité Central dividido a meio entre homens e mulheres. Brilhante.

Se calhar seria mais digno assumir que esse mesmo partido teria reduzido significativamente o número de angolanos pobres, nesta altura são mais de 20 milhões. Mas o que seria isto se comparado com a igualdade de género no Comité Central? É que esses angolanos nem sequer contam para a votação eleitoral. E não contam porque o MPLA se encarrega de votar por eles.

“Pela primeira vez na história da política angolana, um partido político alcança a paridade do género no seu órgão máximo de direcção e esse partido é o nosso glorioso MPLA. A partir de agora, nada mais será como antes, subimos a fasquia bem alto, que, com certeza, terá uma forte influência em toda a sociedade”, frisou, destacando igualmente o rejuvenescimento da organização política, com uma proposta de 35% do seu Comité Central ser composto por jovens, entre os 18 e 35 anos.

Sobre a necessidade de ter, pelo menos, 50% de membros que não tenham a coluna vertebral amovível e o cérebro nos intestinos… João Lourenço nada disse.

“Assumimos o compromisso de promover as mulheres e jovens angolanos, reservando-lhes um lugar de destaque nos órgãos de direcção do nosso partido nos diferentes escalões e nas diferentes instituições do poder em Angola, no executivo, na Assembleia Nacional e na sociedade em geral”, disse.

Segundo João Lourenço, o partido tem vindo ao longo do tempo (presumivelmente há 46 anos) a fazer, de forma suave e segura, a transição geracional nos órgãos de direcção, “garantindo que todo o manancial de patriotismo, sabedoria, experiência, determinação, espírito de luta e vontade de vencer, que sempre caracterizaram os precursores na luta de libertação nacional, nas matas, nas cadeias, na clandestinidade, na defesa da soberania nacional, na reconstrução nacional, na defesa da paz e da reconciliação nacional tivessem continuidade nos quadros e dirigentes mais novos”.

Na sessão de abertura do congresso, foram homenageados com a medalha de militante de vanguarda várias figuras históricas do partido, entre as quais Roberto de Almeida, Paulo Julião “Dino Matrosse”, França Ndalu, Santana André Pitra Petrof, Faustino Muteka, Nzau Puna e outros, que, a seu pedido, deixam agora o Comité Central do partido.

“Hoje prestamos aqui uma justa e merecida homenagem a algumas das figuras de destaque e de referência do nosso partido, por tudo quanto fizeram ao longo de décadas e acreditamos que continuarão a fazer pelo nosso partido, mas, mais importante ainda, pelo nosso país”, disse o presidente do MPLA, que também foi homenageado com a medalha 10 de Dezembro, a mais alta distinção no partido.

De acordo com João Lourenço, “o MPLA é o partido mais atractivo, a julgar não só pelo crescimento das suas fileiras, mas também pela apetência dos militantes em quererem integrar os órgãos de direcção a todos os níveis”. É verdade. Por alguma razão o MPLA é Angola e Angola (ainda) é do MPLA.

Esta apetência verifica-se, disse, “mesmo sabendo que ser membro do Comité Central não assegura nenhum tipo de regalias, nem é por si só uma carta-branca para se ser catapultado a condição de deputado e membro do executivo”. Com esta afirmação, João Lourenço deverá ter conseguido uma sonora gargalhada de José Eduardo dos Santos.

O congresso decorre sob o lema “MPLA – Por uma Angola mais Desenvolvida, Democrática e Inclusiva”. O partido assinala na sexta-feira 65 anos de existência, certamente honrando o seu maior, e único, herói nacional, o assassino Agostinho Neto, responsável pelo assassinato de milhares e milhares de angolanos durante os massacres de 27 de Maio de 1977.

Folha 8 com Lusa

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