A Covid-19 aumentou o número de sinalizações para a linha de emergência social de doentes lusófonos que estão em Portugal através dos acordos na área da saúde, segundo a presidente de uma instituição que apoia esta população mais vulnerável.
Fundado há quase 30 anos, o Centro Padre Alves Correia (CEPAC) acolhe e apoia imigrantes, na maioria lusófonos, incluindo os que vêm para Portugal receber tratamentos médicos.
No ano passado, os beneficiários deste centro aumentaram para o dobro do ano anterior, atingindo os 586, de 19 nacionalidades, mas sobretudo da Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
A presidente do CEPAC, Ana Mansoa, disse à agência Lusa que a pandemia de Covid-19 veio prejudicar a vida destes doentes.
Por um lado, os que vieram com apoio no alojamento e subsídio do país de origem, mas ainda assim precisavam de ajuda, deixaram de poder contar com este apoio, porque quem os ajudava também perdeu rendimento.
Quem veio por sua conta e risco e tinha um trabalho para sobreviver e pagar as despesas também foi afectado, pois os trabalhos precários foram os primeiros a ser dispensados.
“Quem não tem acesso às pensões, tenta um emprego para sobreviver. Estas pessoas em trabalhos precários perderam os empregos e perderam as casas, apesar das leis que proíbem os despejos”, referiu.
O agravamento da pandemia e consequente crise vieram colocar em risco de passarem a sem-abrigo alguns destes cidadãos africanos.
“Nunca foi uma percentagem esmagadora, mas os cidadãos sem abrigo ou em risco de se tornarem sem-abrigo aumentaram e levaram a mais sinalizações para a linha de emergência social”, acrescentou.
A este centro chegam sobretudo pedidos de alimentos, o que preocupa quem pretende ajudar.
Só entre 22 de Dezembro do ano passado e 19 de Janeiro deste ano, o CEPAC levou cabazes de ajuda alimentar a 559 famílias em situação de vulnerabilidade social.
Apesar de o Alto Comissariado para as Migrações (ACM) não ter intervenção no âmbito dos acordos de cooperação internacional celebrados entre Portugal e os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), este organismo presta atendimento a estas pessoas.
Quem procura os serviços do ACM, através dos Centros Nacionais de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM) e da Linha de Apoio a Migrantes (LAM), solicita sobretudo ajuda a nível alimentar, habitacional, pecuniário, na compra de medicamentos e acesso às prestações sociais.
Nestes casos, e segundo esclarecimento do ACM, são encaminhados e tratados pelos gabinetes de apoio especializado, como o Gabinete de Assuntos Sociais e Inclusão, localizados nos CNAIM Norte, Lisboa e Algarve.
O CEPAC é uma obra espiritana de apoio a imigrantes e refugiados, sobretudo dos que são oriundos dos países de África.
O CEPAC sempre contou com o apoio da Congregação e da família espiritana, como aconteceu com a campanha de solidariedade da LIAM 2016-2017. Desde há vários anos que mantém um ritmo de mil atendimentos por mês, ou seja, mil presenças para diferentes apoios. Os apoios são, entre outros, no domínio da saúde, alfabetização, emprego, formação, obtenção de documentos, vestuários e alimentos.
O contexto internacional facilitou a aventura missionária europeia nos continentes africano, asiático e americano na segunda metade do século XIX: as explorações geográficas pelo interior dos continentes; a expansão colonial na sequência da Conferência de Berlim de 1885; o progresso tecnológico e o desenvolvimento dos meios de transporte, especialmente marítimo; a abertura de alguns países asiáticos à Europa; a abolição da escravatura.
A estes factores, acrescente-se a maior consciência missionária da Igreja, a que a Congregação da Propaganda Fide e os Papas da época dão voz. É neste movimento missionário norte-sul que caracterizou a Igreja da Europa do século XIX que se insere a participação dos Espiritanos após a fusão das duas Congregações. E é nesse contexto que os espiritanos chegam a Portugal.
Em 1865 a Sagrada Congregação da Propaganda confiou aos espiritanos, que já estavam no Senegal e Gabão, a Missão do Congo que incluía parte do território de Angola. Estes enviaram logo no ano seguinte um primeiro grupo de três missionários que aportaram a Angola, em Ambriz, a 14 de Março. Nesse mesmo ano de 1866 outro espiritano, o padre Duparquet, chegou a Moçâmedes, seguindo orientações do Bispo de Angola e Congo. A primeira missão construída pelos espiritanos em território angolano foi erigida em Lândana, Cabinda, tendo a respectiva equipa missionária, formada pelos padres Duparquet e Carrie e o Irmão Fortunato Engel aí chegado em 1873.
Estes primeiros missionários enviados para o território de Angola depressa perceberam que seria difícil evangelizar sem um entendimento com as autoridades portuguesas. De facto, tanto o governo como o parlamento de Portugal não viam com bons olhos a presença de missionários estrangeiros naquele território. Assim, o Conselho Geral da Congregação do Espírito Santo decidiu em 31 de agosto de 1867 criar uma comunidade em Portugal para formar missionários a enviar para Angola.
O local escolhido foi a cidade de Santarém, por aí estar o seminário patriarcal onde os futuros missionários seriam formados. A primeira comunidade abriu as portas a 3 de Novembro de 1867, numa modesta casa na rua de S. Lázaro, e era constituída pelos padres Charles Duparquet e António Carrie e os estudantes Alexandre Ruilhe e Dissan. Eram todos franceses.
No ano seguinte, o padre Duparquet regressou a Angola e foi substituído pelo padre José Eigenmann, suíço, que seria o grande dinamizador da instauração dos espiritanos em Portugal. Embora estas datas marquem o nascimento da Congregação em Portugal, sabe-se que já antes o padre Libermann acalentara o sonho de ali estabelecer a Congregação para evangelizar a então África portuguesa. A evangelização do continente africano era o grande sonho e foi a grande obra do padre Francisco Libermann. “O meu coração é dos africanos”, chegou a escrever.
A Congregação do Espírito Santo trabalha, presentemente, nos cinco continentes. Desde a sua fundação, em 1703, teve 14.442 membros. Em 1964 atingiu o máximo dos seus efectivos com 5.141 (3.500 padres, 800 irmãos e 850 jovens professos) a trabalhar em todo o mundo. A partir de então, como em quase todas as famílias religiosas, deu-se um acentuado decréscimo. Presentemente, são à volta de três mil.
Mesmo sendo globalmente menos que no passado, os Espiritanos trabalham neste momento em 65 países diferentes, o que é bem mais do que em qualquer outro momento da sua história. Os seus missionários de origem africana estão em mais de 50 desses países; com eles a Congregação lidera o esforço missionário africano, motivo de encorajamento para a Igreja no dealbar deste novo milénio.