Andarão os angolanos a ser paiados pelas primeiras-damas? A primeira tenta, por todos os meios, lavar a imagem de um criminoso responsável pela prática de crimes contra a humanidade, com o fuzilamento de muitas dezenas de milhar de cidadãos nacionais, sem serem julgados pelo sistema judicial.
Por José Filipe Rodrigues (*)
A segunda gostava muito de se ostentar nos concursos de misses. A terceira tenta, por todos os meios, participar em eventos para promover a sua imagem, sem sucesso, incapaz de sensibilizar as pessoas minimamente inteligentes e intelectualmente honestas.
Tudo isto acontece num país onde continuam a morrer muitas crianças devido à fome, muitíssimas crianças abandonam as escolas devido à pobreza e à fome e muitas centenas de milhar de crianças ficam fora do sistema escolar, condenadas ao analfabetismo, devido à falta de escolas e de professores.
A terceira primeira surgiu recentemente na ribalta do palco dos ambiguidades da demagogia tentando promover a sua imagem junto dos mais desatentos e dos limitados no pensamento crítico inteligente. Há poucos dias apareceu num hospital de Luanda a oferecer cabazes de caridade, o que não teria razão de ser se o país não tivesse sido tão “lussatizado” pelos dirigentes do MPLA e se a incompetência demagógica não tivesse sido uma prática tão acentuada, implementada pelo partido que se governa em Angola há mais de quatro décadas. Os analistas políticos dizem que a terceira primeira-dama e o marido enriqueceram muito, multimilionariamente, durante a cleptocracia de José Eduardo dos Santos…
Agora a terceira primeira volta a aparecer a promover a sua imagem com uma iniciativa em que tenta demonstrar ser o supra-sumo da filosofia da batata (podre). O gabinete da terceira primeira-dama organizou um seminário online sobre dislexia na primeira infância.
O governo de Angola tem um Ministério da Educação? Se tem um Ministério da Educação deveria ser esta instituição a organizar estas acções de formação e educação contínua de terapeutas e outros educadores. Não a terceira primeira.
Nos países que não estão entre os piores em qualidade de vida, o que não é o caso de Angola, são as universidades, as escolas, os sistemas escolares ou empresas especializadas em educação contínua quem organiza estes web seminários. Os gabinetes das primeiras-damas não devem meter o nariz onde não são chamados, especialmente para tentar promover a sua imagem em campanhas de relações públicas matumbas.
Num país onde as duas últimas primeiras-damas ostentam muito, os Laborinhos têm dinheiro para importar “rebuçados e chocolates” e os Paulos podem encomendar “mísseis intercontinentais”, a legislação sobre Ensino Especial e as intervenções por parte de terapeutas no sistema escolar continuam a ser muito ocas, muito abstractas, nada objectivas e eficientes, inexistentes.
Nos Estados Unidos a legislação do ADA, do IDEA, do 504 e do NCLB (No Child Left Behind) obrigam os Estados, os Municípios e os Sistemas Escolares a respeitar os direitos e a suportar os custos para que as crianças desenvolvam a capacidade para usar o máximo das suas potencialidades, sem haver necessidade de representações de propaganda de promoção das imagens das “primeiras damas ou damos e das damas ou damos” dos governadores, presidentes de municípios, superintendentes escolares e directores de escolas.
O Estado é obrigado, por lei, a pagar o equipamento necessário para possibilitar que as crianças sejam maximamente funcionais, de acordo com as suas potencialidades. As escolas e empregam terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, psicólogos, terapeutas da fala, terapeutas do comportamento e outros especialistas para tentar corrigir os atrasos no desenvolvimento.
No país da terceira primeira, o partido dominante usa as condições de saúde das crianças para fazer campanha política e chega ao ridículo de publicitar a oferta de uma simples cadeira de rodas a cidadãos com limitações motoras. Nos países civilizados as intervenções terapêuticas são obrigatoriamente confidenciais.
No país onde os Laborinhos e os Paulos podem importar “rebuçados, chocolates, mísseis intercontinentais e o presidente vai ao Dubai receber assistência médica”, a terceira primeira-dama tenta disfarçar a negligência a que o partido dominante devota as crianças e organiza web seminários sobre algo que não se ensina nas aulas dos cursos de Economia ou de Educação Patriótica Fanática, congressos da OMA ou da JMPLA e na Comissão Nacional da Juventude do partido no poder.
Os deputados da maioria, que deveriam legislar e fiscalizar a acção do governo, estão demasiado amestrados para obedecerem às ordens superiores do executivo, sem direito para reclamar, porque, se o fizerem, podem perder os chorudos Bónus de Natal, os Lexus e os Bifes de Atum.
Os órgãos estatais da comunicação social participam neste desfile carnavalesco de propaganda da imagem da terceira primeira, porque lhes falta pensamento crítico, independência intelectual, honestidade profissional e civilidade.
(*) Angolano, terapeuta em Pediatria nos EUA