O MPLA, no poder em Angola há 45 anos e a fazer tudo para assim continuar durante mais 55, apresentou hoje a sua mais pujante e emblemática candidatura à medalha de ouro do anedotário mundial. Pela “voz” de Hidulika Kambami (Albino Carlos, em português), a voz da porta do MPLA, afirmou que a revisão da Constituição, proposta pelo Presidente do MPLA, demonstra que João Lourenço “não está apegado ao poder”, mas sim “preocupado com o reforço e consolidação” das instituições democráticas.
Por Orlando Castro
Segundo a voz da porta do Bureau Político do MPLA, que entretanto já terá sido contactado pelos responsáveis do Guinness World Records para registo e confirmação da patente da maior anedota do mundo dita por alguém cujo cérebro tem residência permanente nos intestinos, a proposta de revisão pontual da Constituição da República de Angola revela um “sentido de Estado profundo”.
Hidulika Kambami não explicou, porque não sabe, se queria mesmo dizer “sentido de Estado profundo” ou “sentido de Estado pró-fundo”. Apenas conseguiu balbuciar algo do tipo: “foi isto que o chefe mandou dizer”.
“Revela a preocupação do MPLA em trabalhar para a estabilidade política e consolidação das instituições democráticas”, afirmou Hidulika Kambami, em declarações à Lusa.
Para a voz da porta, o Presidente do partido “ao propor limitações ao seu poder demonstra que do ponto de vista humano o líder do MPLA e Presidente da República não está apegado ao poder, mas está preocupado com o sentido de Estado”.
O rapaz, que continua solidamente petrificado no fundo do corredor (da ignorância) porque ninguém lhe explicou que o chefe disse que ele deveria ser um corredor de fundo, até prestou um bom serviço à verdade quando diz que João Lourenço “está preocupado com o sentido de Estado”. E está, porque ele é o Estado. Ou seja (depois alguém há-de traduzir isto para o Albino perceber), está preocupado consigo mesmo. Boa Albininho!
“Está preocupado com o reforço das instituições democráticas e está preocupado com o futuro radiante de todos os angolanos”, disse a voz da porta do Bureau Político, desvalorizando críticas da oposição que aponta insuficiências na proposta.
O Presidente angolano, cargo para que não foi nominalmente eleito, anunciou, na semana passada, que iria ter a porta aberta para uma revisão pessoal (chamou-lhe pontual) da Constituição com o objectivo, entre outros, de clarificar os mecanismos de fiscalização política, dar direito de voto a residentes no estrangeiro e eliminar o princípio de gradualismo nas autarquias.
E, mais uma vez, João Lourenço tramou os seus sipaios, desde logo o próprio Hidulika Kambami. O rapaz não percebeu e, imediatamente, terá pensado (presume-se, isto em função do cheiro típico de quem tem o cérebro onde ele o tem) que o seu Presidente iria não ter a porta aberta mas, antes, pôr a Berta à porta… para lhe dar assistência na sua qualidade de voz da porta. Foi uma promoção, um sinal divino, pensou o Albino.
“Com esta proposta de revisão pontual da Constituição pretende-se preservar a estabilidade dos seus princípios fundamentais, adaptar algumas das suas normas à realidade vigente, mantendo-a ajustada ao contexto político, social e económico, clarificar os mecanismos de fiscalização política e melhorar o relacionamento entre os órgãos de soberania, bem como corrigir algumas insuficiências”, releu Hidulika Kambami, usando para tal um bloco de notas onde colocou a foto de João Lourenço a tapar a imagem do seu anterior “deus” (José Eduardo dos Santos).
O rapaz afirmou (leu) também que UNITA, Bloco Democrático e PRA-JA Servir Angola demonstram um “desnorte programático” que, considera, pretende justificar a “mais do que evidente derrota nas próximas eleições”. Esta afirmação, apesar de verdadeira, pode levar a que João Lourenço mande Hidulika Kambami para um dos campos de reeducação patriótica do MPLA. Todos sabemos que o MPLA já ganhou as próximas eleições, embora o partido ainda esteja a definir qual a percentagem dessa vitória. Mas ser um dirigente, embora anão, a dizê-lo…
“Achamos que a reacção deste grupo tripartido reflecte um desnorte programático porque demonstra que o único programa de Governo, a única intenção que os move é apenas tirar o MPLA do poder, não estão preocupados com o povo angolano”, afirmou a voz da porta do Bureau Político do MPLA, em declarações à Lusa.
Para este belo exemplar de nanismo intelectual, a oposição “não está preocupada” com a estabilidade política e social do país e a sua reacção revela uma “tentativa de escamotearem os problemas internos que têm”. Estaria a falar dos marimbondos?
A UNITA “quer desviar a atenção da opinião pública nacional e internacional dos problemas de forte contestação interna que o seu presidente está a sofrer e falta de capacidade de mobilização do seu eleitorado”, apontou.
Recorde-se que os presidentes da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, do Bloco Democrático (BD), Justino Pinto de Andrade, e o coordenador do projecto político do Partido do Renascimento Angola – Juntos por Angola – Servir Angola (PRA-JA Servir Angola), Abel Chivukuvuku promoveram, nesta quarta-feira, uma conferência de imprensa conjunta, em Luanda, na qual apresentaram uma “Declaração Política Conjunta sobre a Revisão Constitucional Pontual” anunciada na passada semana pelo Presidente angolano, João Lourenço.
Defenderam que a revisão constitucional deve consagrar, como ponto de partida, a “eleição directa e livre” do Presidente da República por todos os cidadãos nacionais que têm hoje consciência de que o actual modelo de eleição do Presidente “é atípico e discriminatório”.
Abel Chivukuvuku acusou o MPLA de ser um “partido de truques e que nunca ganhou eleições”, considerando que a proposta de revisão constitucional é “um mero exercício de cosmética” que “contém armadilhas”.
O líder do BD considerou, na ocasião, que o MPLA “deve fazer uma cura de oposição para limpar a corrupção em si instalada”, enquanto a UNITA apontou a “impopularidade” dos “camaradas” do MPLA como fundamento da revisão constitucional.
Hoje, a voz da porta do MPLA desvalorizou as acusações, referindo que os argumentos do líder do PRA-JA Servir Angola “visam escamotear os problemas que têm a nível da sua constituição ou institucionalização como força política”.
“Não faz sentido, três anos depois, Abel Chivukuvuku reivindicar questões que já foram ultrapassadas do ponto de vista legal, eleições que foram legitimadas não só pela comunidade internacional mas também pelas instâncias de direitos e políticas nacionais”, notou esta espécie menor de Luvualu de Carvalho.
“Até porque até agora [o PRA-JA Servir Angola] não conseguiu passar de um projecto e o Bloco Democrático, estando em fase moribunda, quer atrelar-se a essas forças no sentido de garantir a sua sobrevivência política”, afirmou o albino Hidulika Kambami.
Hidulika Kambami negou igualmente a alegada impopularidade do seu partido e do seu líder e Presidente angolano, João Lourenço, afirmando que o MPLA “não vive de sondagens”.
A melhor sondagem, considerou, “será no dia das eleições quando o povo angolano escolher aquele partido que melhor está capaz, melhor está identificado com os problemas do povo angolano”.
Para o primo do mestre de obras que se julga a obra-prima do mestre, os argumentos da oposição traduzem-se numa “preparação psicológica destes no sentido de justificaram à população a mais do que evidente derrota nas próximas eleições gerais”.
“Esta é uma tentativa de começar a criar já um clima de instabilidade política para a derrota que aí se adivinha, porque o MPLA está a preparar-se, afincadamente, para que o povo angolano renove o seu voto de confiança para conduzir o destino do país”, assegurou Hidulika Kambami, sem revelar (por modéstia) que o MPLA só não ganhará com 110% da votação se não quiser.