O secretário para a (des)informação do MPLA, Albino Carlos, acusa a UNITA e o seu líder de estarem a fazer uma “campanha de vitimização“ para “tentar distrair a comunidade nacional e internacional”. Diz a criatura que não há qualquer campanha racista e xenófoba contra Adalberto da Costa Júnior por parte do MPLA. Tem razão. Ele só conhece as raças que lhe são familiares (equídeos, símios e xenodontes).
Por Orlando Castro
No dia 1 de Setembro de 2020 o MPLA considerou como “gratuitas e infundadas” as acusações de Abel Chivukuvuku sobre a “alegada interferência” do partido no Tribunal Constitucional (TC) para “inviabilizar a legalização” do projecto político PRA-JA Servir Angola.
Nem outra coisa era de esperar de um partido que está no poder em Angola há 45 anos, cujo líder é também (embora não nominalmente eleito) Presidente da República e (consta) Titular do Poder Executivo.
Segundo o secretário para a Informação do Bureau Político do MPLA, Albino Carlos, Angola é um Estado democrático de direito, onde “os tribunais são independentes”, e o seu partido “respeita as decisões dos tribunais”. Repetimos: Nem outra coisa seria de esperar de um partido histórico e coerente. Antes dizia-se que o MPLA é Angola e Angola é o MPLA. Hoje, para solidificar os pilares de um Estado democrático e de direito, passou a dizer-se, o que é mesmo verdade, que o MPLA é Angola e que Angola é (d)o MPLA.
“Consideramos essas declarações infundadas e destituídas de qualquer razão. Se calhar o senhor Chivukuvuku quer escudar-se por alguma irregularidade que terá cometido em acusações gratuitas e infundadas”, disse Albino Carlos, em declarações à Lusa.
Albino Carlos, certamente, nunca ouviu falar da famosa frase, com patente registada pelo MPLA, “ordens superiores”. Daí a tentativa de subscrever a tese de que somos todos matumbos. Diga-se, contudo, que tanto ele como seu dilecto e impoluto presidente (do MPLA) nada tem a ver com as práticas anteriores do partido, já que ambos só chegaram a Angola há pouco mais de três anos. Um para ser Presidente e outro para ser secretário para a Informação do Bureau Político. Qualquer semelhança com os anteriores Albino Carlos e João Lourenço é mera coincidência ou obra de Abel Chivukuvuku, Adalberto da Costa Júnior ou – já agora – do Folha 8.
Como perito que, como todos os dirigentes do MPLA fala de cátedra, Albino Carlos afirmou que o MPLA “lutou para que houvesse tribunais independentes, que todos os angolanos tivessem a sua defesa nos tribunais”, mas sublinhou que respeita “a independência das instituições” e que o assunto “não tem nada a ver” com o seu partido.
Para corroborar esta tese, antológica, certamente que Albino Carlos nos permite que citemos Maria Luísa Abrantes, quando ela pergunta: «O que esperar de magistrados políticos e militares sem especialização e que não estudam?», ou quando diz com todas as letras: «Parece que voltamos aos tempos do Tribunal Popular Revolucionário, (do Kafuche, Adolfo João Pedro, Manuel Bento) , e do Tribunal Militar (do Dimuka, até morrer), cujos Juízes, à excepção do Dr. Orlando Rodrigues que não era tido nem achado, só tinham a 4ª Classe. Nos tribunais comuns os juízes, eram os escrivães antigos com a 6ª ou a 9ª classe (João Monteiro e tantos outros, que chegou a Vice-Ministro da Justiça e lá ficou por longos e felizes anos, etc.), e os Juízes populares que ascenderam a juízes por um passe de magia».
Abel Chivukuvuku disse na altura que estava a “ser perseguido pelo MPLA”, acusando a direcção do partido no poder de “orientar” o Tribunal Constitucional para não legalizar o seu partido.
“Porque no fundo não é o TC, no fundo o que nos tem chumbado, repetidamente, é a direcção do MPLA, portanto o que há aí são orientações da direcção do MPLA e do Presidente João Lourenço, presidente do MPLA, é que está a dar orientações para que o tribunal chumbe o Abel”, afirmou Chivukuvuku, em entrevista à Emissora Católica de Angola.
O coordenador do projecto do Partido do Renascimento Angolano-Juntos por Angola-Servir Angola (PRA-JA Servir Angola), que reagia ao terceiro chumbo do TC, no processo de legalização, disse que aquela instância “recebe instruções” para não legalizar o seu partido.
Albino Carlos reiterou que Angola é um Estado democrático e de direito, onde existe separação de poderes e respeito das instituições, garantindo que o MPLA “é um partido que não interfere na gestão dos casos de justiça”.
Quem manda nos tribunais, observou, “não é o MPLA”: “O MPLA respeita a independência e a separação de poderes, logo essas declarações não fazem sentido”.
“O MPLA vai continuar a respeitar as decisões soberanas dos tribunais, o MPLA é um partido político, quem gere as questões de justiça e direitos são os órgãos de justiça e de direito e no nosso país existe separação de poderes”, assegurou.
O TC angolano rejeitou o “recurso extraordinário de inconstitucionalidade” submetido pela comissão instaladora do PRA-JA Servir Angola, liderado por Abel Chivukuvuku, por “não suprir insuficiências” e tornar “indecifrável” o seu pedido.
Para o secretário para a Informação do Bureau Político do MPLA, as declarações Chivukuvuku “não têm qualquer fundamento” e aconselhou este político a “reclamar junto dos tribunais se sentir que os seus direitos não estejam a ser salvaguardados”.
“Em Angola, como um país democrático, os tribunais são independentes e qualquer partido político deve respeitar as decisões dos tribunais, ele [Abel Chivukuvuku] que reclame dos seus direitos”, afirmou.
Mas, notou, acusar uma força política por uma decisão do tribunal “não faz qualquer sentido, é infundada”. Mesmo sendo a única força política que governou o país desde a independência, mesmo sendo um partido cujo presidente prefere ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica, mesmo sendo a força política mundial com mais corruptos por metro quadrado.
Questionado sobre um eventual medo do MPLA pelo ressurgimento de Abel Chivukuvuku na cena política angolana, Albino Carlos recordou que o seu partido “conduziu o processo para que Angola fosse independente e não tem medo”. Sim é verdade. Quem usa a razão da força para derrotar a força da razão, quem escolhe e nomeia os chefes da polícia e das forças armadas, dos tribunais, das empresas públicas, das entidades reguladoras, de tudo… não tem que ter medo.
“Então, como é que um partido que conduziu o processo para que nós fossemos independentes, um partido que instaurou a democracia, que venceu os últimos pleitos eleitorais terá medo de um partido que nem sequer existe, não faz sentido”, rematou Albino Carlos. E rematou excelentemente. A cereja no topo do bolo, caso não fosse cobarde, seria dizer que foi também esse seu partido que protagonizou o mais vergonhoso massacre da nossa história, com o assassinato de milhares e milhares de angolanos no 27 de Maio de 1977.
João Lourenço continua a apostar nos melhores quadros que o MPLA tem, como é o caso de Albino Carlos, mesmo sabendo que a criatura tem de se descalçar quando tem de contar até 12. Na verdade, reconheça-se, o “Albininho” tem feito tudo para estar ao melhor nível dos seus patrões. Até aceitou ser operado, com sucesso, para mudar o cérebro do intestino delgado para o grosso. Mas não resultou. O cheiro que ele agora exala transporta os seus camaradas, de forma mais emocional, para as origens do partido.
Certamente que vai continuar a mostrar serviço. Será que, entre outros gases expelidos, vai solidarizar-se com aqueles que querem que o MPLA ordene o fecho do Folha 8, como prova eloquente da liberdade de imprensa que existe no reino?
Será que, embora a sua qualidade seja muitíssimo superior, Albino Carlos vai aliar-se ao sipaio Artur Queiroz, numa espécie de mercenarismo sanzaleiro, e afirmar que “se é liberdade de imprensa um nazi psicopata, que se faz passar por historiador angolano, chamar ao Presidente Agostinho Neto assassino e ditador. Ao Presidente João Lourenço e ao ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, palhaços. Se considera lícito que o mesmo jornal instigue os seus leitores ao derrube da estátua de Agostinho Neto, figura que para os Angolanos é Herói Nacional e o Estado lhe consagra um dia feriado”?
É que as afirmações de Albino Carlos estão a ficar muito coincidentes com as do mercenário que, em tempos, criticou nomeadamente a UNITA, aludindo às declarações do então presidente Isaías Samakuva que, em Lisboa, falou da necessidade de uma nova independência do país.
“Ameaçar com a ‘terceira independência’ é insultar os milhões de angolanos que votaram (até mesmo, dizemos nós, os mortos que apesar disso votaram) em todos os actos eleitorais, de 1992 a 2012. Não há pior intolerância política do que ignorar as ideias, os valores, os sentimentos e as opções ideológicas ou religiosas dos outros”, sublinhava o sipaio editorialista do Jornal de Angola (do MPLA) , acusando Isaías Samakuva de “empurrar angolanos menos informados para um retrocesso civilizacional”.
“Angola é independente desde 11 de Novembro de 1975. E o povo angolano tem consentido sacrifícios sem nome para preservar essa vitória. Muitos deram a vida para que a Pátria fosse livre. Muitos mais morreram pela sua defesa ao longo dos anos, até 2002 (fim da guerra civil)”, escreveu o Pravda, referindo-se exclusivamente, como está no seu ADN, aos mortos do MPLA já que – como se sabe – todos os outros não eram propriamente angolanos. Eram, segundo o MPLA, estrangeiros… tal como agora em Cafunfo.
O artigo, que poderia muito bem ter sido escrito por Albino Carlos, recordava a luta armada que se seguiu ao período colonial, nomeadamente como “a legião estrangeira constituída por tropas da África do Sul e mercenários, quase todos portugueses, foi derrotada no Ebo”. E ainda que em Kifangondo “as tropas de Mobutu e as matilhas de mercenários de várias nacionalidades, capitaneadas pelo coronel ‘comando’ (português) Santos e Castro, foram derrotadas sem apelo nem agravo”.
“Ninguém pode arrancar estas páginas da História com a desculpa da ‘reconciliação nacional’”, lê-se no editorial. Ninguém arranca, é verdade. Como ninguém arranca a certeza de que, tal como no passado, ainda vamos ler editoriais no pasquim a dizer que, afinal, João Lourenço era uma besta que queria um “socialismo sanzaleiro”.
De acordo com o artigo do “Jornal de Angola”, “intolerância política é desrespeitar a figura do chefe de Estado” e “acusar o partido que venceu as eleições de fraude”, referindo-se ao MPLA, partido que sustentava (e ainda sustenta) estes mercenários a peso de ouro.
“É uma intolerância tão cega que há muito devia ter merecido uma resposta definitiva e exemplar. Porque os votos que entraram nas urnas são dos angolanos, não dos racistas de Pretória, dos portugueses ressabiados (serão, Albino Carlos, “parentes” de Adalberto da Costa Júnior?), dos conspiradores de Washington, Paris, Londres, Bruxelas e outras capitais do mundo”, referia o editorial.
Pois é. Isto por que se em muitos círculos eleitorais entraram nas urnas mais votos do que eleitores inscritos, isso deve-se às falcatruas de todos esses racistas que, a fazer fá no Pravda, pululam por muitas cidades.
O frete termina referindo que “intolerância política é perder as eleições e agir como se as tivessem ganho” e que “quem quer a ‘terceira independência’ é contra a democracia”. Não está mal, reconheça-se. E não está por que, de facto, não é possível estar contra uma coisa que não existe: democracia.
Seja como for, com a conivência do regime, os vampiros continuam a sugar a sangue dos angolanos.