A Organização Mundial de Saúde (OMS) está a apoiar o Governo angolano na preparação da campanha de vacinação contra a Covid-19, que poderá acontecer a partir do segundo trimestre de 2021, afirmou a representante da organização no país.
Djamila Cabral, que falava aos jornalistas após um encontro com a ministra das Finanças de Angola, Vera Daves, assinalou que foi abordado o mecanismo COVAX – que conta entre outros parceiros com a Aliança Global para as Vacinas, GAVI, entidade a que preside o ex-primeiro-ministro de Portugal, e velho e estimado amigo do MPLA, José Manuel Durão Barroso (o próprio João Lourenço o felicitou pela “merecida nomeação”) – estando também a ser já preparado um plano de vacinação.
O COVAX visa adquirir dois mil milhões de doses de vacinas para a Covid-19 até ao fim de 2021 para 92 países beneficiários. Angola, sendo um dos países subscritores do mecanismo, vai beneficiar deste apoio no acesso às vacinas.
“Neste momento, o trabalho que está a ser feito é juntar todos os fundos necessários para se comprar vacinas para cobrir pelo menos 20% da população dos países africanos”, adiantou Djamila Cabral.
“Estamos a trabalhar com o Ministério da Saúde para preparar o plano de vacinação”, prosseguiu, dizendo que já existem instrumentos que permitem fazer uma avaliação da capacidade de vacinação e da cadeia de frio – um dos desafios a resolver – bem como a definição das populações prioritárias.
A responsável da OMS sublinhou que “ainda não há vacinas para mandar para Angola” e que o próprio mecanismo prevê uma hierarquização, consoante as necessidades de cada país.
“Há países que estão a precisar mais do que outros, há países onde estão a morrer mais pessoas do que em outros”, notou, acrescentando que os números de Angola sugerem que não é dos mais atingidos pela pandemia, pois não está entre os países com mais casos.
“A estimativa que está a ser feita é que, a partir do segundo trimestre, possamos começar a receber [vacinas] nos países que estão a precisar mais na região africana”, o que ainda não está totalmente definido, tal como os custos.
Segundo Djamila Cabral, para já o mecanismo pretende comprar as vacinas para doar, mas “é possível que, em algum momento, seja solicitada alguma contribuição”.
A representante da OMS admitiu que “houve tendência” para esquecer outras doenças devido à Covid-19, sobretudo no início da pandemia, mas agora todos estão “conscientes de que é preciso reforçar as outras áreas”, nomeadamente a malária, tuberculose, VIH/Sida e saúde materno-infantil.
“Todas essas áreas precisam de um reforço e vamos tentar responder da melhor maneira para apoiar o governo angolano”, estando actualmente a ser feita uma análise sobre os serviços mais deficitários.
Djamila Cabral elogiou o esforço do executivo para aumentar as verbas para a saúde no Orçamento Geral do Estado, embora estejam ainda aquém do desejável, dizendo que foram também discutidas “alternativas que possam existir para garantir o financiamento da saúde e que os investimentos que são feitos hoje possam ser mantidos e servir as necessidades da população”.
Vera Daves reforçou, por seu lado, que há alinhamento, por parte do executivo, com as recomendações da OMS no sentido de, progressivamente, aumentar os recursos para o sector social apesar das limitações do ponto de vista orçamental.
“Pretendemos, à medida que formos tendo mais recursos, que o serviço da dívida for diminuindo, ir cada vez mais destinando mais verbas para o sector social, com ênfase para a saúde”, afirmou.
Além disso, o Ministério das Finanças tem estado a incentivar a utilização do portal de serviços para os institutos públicos “para tornar mais transparente e alvo de monitorização a execução da despesa quando as receitas são doações”, acrescentou.
O papel do camarada Durão Barroso
Recorde-se que o chefe de Estado angolano, igualmente Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, considerou relevante a nomeação de Durão Barroso no papel que a GAVI tem vindo a desenvolver para mobilizar recursos financeiros e promover acordos com as entidades capacitadas no desenvolvimento e produção de vacinas, para combater doenças da infância e, recentemente, para que os países mais pobres do mundo possam aceder de forma equitativa à vacina contra a pandemia de Covid-19.
“Angola acredita que também terá acesso a estas vacinas através da iniciativa COVAX, onde somos subscritores e estamos comprometidos na preparação de condições para que este processo cubra todas as pessoas de risco do nosso país”, disse o Presidente na altura da escolha de Durão Barroso.
João Lourenço sublinhou que Angola está ciente de que, com a capacidade de Durão Barroso, bem como a extensa e variada experiência em funções executivas de alto nível, levará com sucesso estas e outras iniciativas em favor das crianças e das pessoas mais vulneráveis da sociedade, que sem a intervenção de organizações como a GAVI permaneceriam excluídas do acesso aos benefícios que a ciência e a tecnologia podem oferecer.
O Presidente destacou a longa parceria entre Angola e a GAVI, que data de 2002, altura em que a organização iniciou o apoio a Angola na expansão da cobertura de vacinação infantil às populações mais desfavorecidas, principalmente das áreas rurais.
Segundo João Lourenço, a GAVI apoiou Angola, de 2006 até 2015, com mais de 100 milhões de dólares (85,1 milhões de euros), para o financiamento da introdução de novas vacinas mediante um mecanismo de co-financiamento gradual entre o Governo angolano e a GAVI, o que permitiu ao Estado ir assumindo gradualmente o custo das novas vacinas.
“Actualmente, o apoio da GAVI mantém-se para intensificar a vacinação de rotina, aquisição de cadeia de frio, formação de recursos humanos em logística, vigilância epidemiológica, sistema de informação, entre outras”, afirmou João Lourenço.
O plano pós transição 2019-2020, indica ainda a nota, está em implementação com um orçamento de 20 milhões de dólares (17 milhões de euros), sendo expectável a sua extensão para contribuir no esforço de Angola em garantir a cobertura universal na vacinação e cuidados primários de saúde.
Durão Barroso iniciará funções em Janeiro de 2021, substituindo a economista e antiga ministra das Finanças da Nigéria, Ngozi Okonjo-Iweala, cujo mandato termina em Dezembro deste ano. O cargo não é remunerado.
Actualmente, Barroso é ‘chairman’ e director não-executivo da Goldman Sachs International, sediada em Londres.
A GAVI é uma parceria público-privada que ajuda a vacinar metade das crianças do mundo contra algumas das doenças mais mortíferas. Desde a sua criação em 2000, ajudou a imunizar mais de 760 milhões de crianças, evitando, assim, mais de 13 milhões de mortes, e reduzindo para metade a mortalidade infantil em 73 países em desenvolvimento.
A organização reúne governos tanto de países em desenvolvimento como de doadores, a Organização Mundial de Saúde, a UNICEF, o Banco Mundial, a indústria de vacinas, agências técnicas, a sociedade civil, a Fundação Bill & Melinda Gates e outros parceiros do sector privado.
Nos últimos anos, sob a liderança da nigeriana, a GAVI enfrentou com sucesso o surto de Ébola na República Democrática do Congo e contribuiu também para a luta contra a poliomielite em África.
Folha 8 com Lusa