O chefe da diplomacia norte-americano, Mike Pompeo, elogiou hoje os esforços do Presidente João Lourenço para tornar a corrupção num “fantasma do passado”, mostrando-se confiante quanto à capacidade de Angola para atrair investimento estrangeiro. Como se já bastassem os (ainda vivos) “fantasmas” de Savimbi e de José Eduardo dos Santos.
Mike Pompeo, que falava numa conferência de imprensa no Ministério das Relações Exteriores (Mirex), salientou que a sua visita a Angola acontece num momento chave da história do país.
Elogiando o “excelente trabalho” do Presidente João Lourenço nos seus primeiros dois anos e meio de mandato, para tornar a corrupção “num fantasma do passado”, Mike Pompeo considerou que se trata de um problema que tem travado o potencial do país “durante demasiado tempo”.
“João Lourenço aumentou a transparência, obrigou as instituições financeiras a limpar os seus balanços e perseguiu os maus actores. Estou optimista que continuará a libertar Angola da corrupção”, enfatizou.
O responsável pela diplomacia dos Estados Unidos da América (EUA) afirmou também que todos estavam preparados para a visão de João Lourenço de uma “nova Angola”.
“Governo, empresários, sociedade civil e o excelente povo angolano estavam claramente preparados para um mudança e queriam relacionar-se com os países ocidentais e democráticos de uma forma que não era possível até há alguns anos. É por isso que aqui estou”, destacou Pompeo, acrescentando a vontade dos EUA de “criarem parcerias” com uma Angola que vê, no futuro, como “soberana, próspera e pacífica”.
Mike Pompeo declarou-se também “encorajado” pela determinação do Governo angolano em privatizar 195 empresas e activos do Estado que irão atrair investimento privado.
Se a nova lei do investimento for bem aplicada, notou, “muitos mais investimentos norte-americanos e ocidentais” virão para “criar riqueza, empregos e oportunidades para os angolanos”.
O que ajudará também o povo angolano a desenvolver os seus recursos, diversificar a economia e a desenvolver os sectores da agricultura, turismo e tecnologia, disse.
O líder da diplomacia norte-americana falou igualmente sobre as parcerias norte-americanas já existentes na área da saúde e economia e assinalou que os EUA querem também reforçar a cooperação na área da segurança.
Pompeo sublinhou ainda que os investimentos norte-americanos são “transparentes e claros” e que o objectivo é trazer dinheiro para beneficiar o povo angolano, tendo em conta as “enormes oportunidades” existentes, que podem contribuir para que Angola diversifique uma economia até agora quase exclusivamente assente no petróleo.
Antes do encontro com o seu homólogo angolano, Manuel Augusto, o secretário de Estado norte-americano foi recebido por João Lourenço, no Palácio Presidencial da cidade alta.
Segundo a Angop, Mike Pompeo esteve ainda com um grupo de seis mulheres empreendedoras angolanas capacitadas nos EUA, numa iniciativa que promove o profissionalismo.
Pompeo, Trump e os… “shithole countries”
Em Janeiro de 2018, Numa reunião com legisladores republicanos e democratas na Casa Branca, o Presidente Donald Trump (patrão do sipaio Mike Pompeo) disse que não queria imigrantes de “países de merda” a obterem vistos de residência nos Estados Unidos.
De facto, o Presidente dos EUA qualificou El Salvador, Haiti e várias nações africanas (que cobardemente não identificou pelo nome) como “países de merda” (“shithole countries”), dizendo que prefere abrir as portas dos EUA a imigrantes procedentes de países como a Noruega.
“Por que razão temos todas estas pessoas de países de merda a virem para aqui?”, interrogou-se Donald Trump durante uma reunião com legisladores na Casa Branca. Assim avançaram a vários jornais, entre eles o “Washington Post”, fontes familiarizadas com esse encontro.
Segundo estas, o Presidente dos Estados Unidos recorreu ao calão com a expressão “shithole countries” depois de dois senadores lhe terem apresentado um projecto de lei migratório ao abrigo do qual seriam concedidos vistos a alguns cidadãos de países que foram recentemente retirados do Estatuto de Protecção Temporária (TPS, na sigla em inglês), caso de El Salvador, Haiti, Nicarágua e Sudão.
O TPS é um benefício concedido pelos Estados Unidos a imigrantes sem documentos que não podem regressar aos seus países de origem por causa de conflitos civis, desastres naturais ou outras circunstâncias extraordinárias, uma espécie de visto temporário que lhes permite viver e trabalhar no país.
Donald Trump, no centro de uma série de escândalos de racismo e xenofobia, sugeriu, em resposta aos senadores, que os Estados Unidos deviam atrair mais imigrantes de países como a Noruega, com cuja primeira-ministra acabara de se reunir.
O “Washington Post” apontou que alguns legisladores presentes na reunião ficaram chocados com os comentários, que geraram críticas dentro e fora dos EUA. A informação foi corroborada pelo “Los Angeles Times”, ao qual fontes com conhecimento do encontro garantiram que, antes de proferir o insulto, Trump exclamou: “Para que é que queremos haitianos aqui? Para que é que queremos todas estas pessoas de África aqui?”
Confrontado com as notícias, Raj Shah, um porta-voz da Casa Branca, não negou que Donald Trump tenha feito as referidas declarações e defendeu a sua postura.
“Certos políticos de Washington escolhem lutar por países estrangeiros, mas o Presidente Trump sempre lutará pelo povo norte-americano”, afirmou Shah num comunicado enviado às redacções.
“O Presidente Trump luta para conseguir soluções permanentes que tornam o nosso país mais forte, ao dar as boas-vindas àqueles que possam contribuir para a nossa sociedade, fazer crescer a nossa economia e integrar-se na nossa grande nação”, acrescentou, antes de sublinhar: “Ele rejeitará sempre as medidas temporárias, débeis e perigosas que ameacem as vidas dos norte-americanos que trabalham no duro e que prejudiquem os imigrantes que procuram uma vida melhor nos Estados Unidos por vias legais”.
Anualmente, cerca de 50 mil pessoas entram no país através desse programa, que abre caminho à cidadania norte-americana e que beneficia maioritariamente cidadãos de países de África.
Fonte do Senado indicou à agência espanhola EFE, sob anonimato, que metade desses vistos seria consignada aos que até então estavam protegidos ao abrigo do TPS e que a outra metade estaria reservada a imigrantes com qualificações profissionais, o famoso “mérito” defendido por Trump.
MPLA de cócoras e à espera de fiado
Um empresário norte-americano que financiou e apostou fortemente na campanha de Donald Trump para a Presidência dos EUA usou a sua aproximação com o novo inquilino da Casa Branca para fazer negócios com Angola em troca de vantagens para o país e seus dirigentes. João Lourenço foi citado em investigação, segundo o jornal The New York Times.
O jornal The New York Times, na sua edição de 25 de Março de 2018, relata como Elliot Broidy tenta “caçar” negócios usando a sua aproximação a Trump.
Além de outros casos citados, o jornal escreveu que, “numa carta datada de 3 de Janeiro de 2017 e enviada por email a oficiais de topo do Governo angolano, Elliot Broidy indicava que procedia ao envio de um convite para as celebrações da posse do Presidente Trump, bem como uma proposta para a Circinus (empresa de que é dono) prestar serviços de segurança em Angola”.
João Lourenço, na altura ministro da Defesa mas já candidato presidencial do MPLA, terá recebido uma carta mais tarde de Elliot Broidy a pedir uma resposta até 9 de Janeiro daquele ano, já com o documento assinado de um acordo de 64 milhões de dólares e válido por cinco anos.
O jornal acrescentava que três dias antes da posse de Donald Trump, a 17 de Janeiro, “os angolanos efectuaram um pagamento de seis milhões de dólares à Circinus”, mas, ainda segundo o The New York Times, citando fontes próximas de Elliot Broidy, o pagamento terá ficado aquém do combinado.
Ainda de acordo com o jornal norte-americano, João Lourenço terá sido inclusivamente convidado para o resort de Donald Trump em Mar-a-Lago (ou Casa Branca de Inverno, um dos locais de eleição de Trump desde que tomou posse), na Flórida, mas o agora Presidente angolano nunca respondeu.
Depois da posse de Donald Trump, o empresário de Los Angeles, que apoiou o pré-candidato republicano Ted Cruz até que este desistiu da corrida à Casa Branca, ofereceu-se na altura para conseguir encontros entre João Lourenço, ainda ministro da Defesa, com autoridades americanas.
“Vários preparativos foram feitos para receber a sua visita, incluindo reuniões adicionais no Capitólio (Congresso) e no Departamento de Tesouro”, escreveu Elliot Broidy num dos emails, enquanto noutro pedia “por favor, processem o pagamento imediatamente”.
Mais tarde, depois da posse de João Lourenço como Presidente de Angola, o apoiante de Donald Trump voltou a disponibilizar-se para promover uma maior aproximação entre os dois países, prometendo, inclusive, encontros com o Presidente e o vice-presidentes americanos.
João Lourenço, ainda de acordo com o jornal, não respondeu às propostas nem o Governo de Angola fez qualquer pagamento adicional.
O The New York Times descreveu Elliot Broidy como um empresário que tem usado a sua aproximação ao Presidente americano para atrair políticos, na sua maioria de países com um elevado nível de corrupção e de falta de transparência, que depois usam fotos e pequenos apertos de mãos com Donald Trump para ganhos políticos nos seus países.
Os jornais norte-americanos The New York Times e The Wall Street Journal publicaram no dia 22 de Agosto de 2017, véspera das eleições angolanas, reportagens que abordam a corrupção em Angola, que “coloniza” Portugal para lavar dinheiro.
“O colonizador passou a colonizado”, lê-se na reportagem do The New York Times, intitulada “Portugal dominou Angola durante anos. Agora os papéis inverteram-se”. A extensa peça começa em Cascais, no Estoril Sol Residence, luxuoso bloco de apartamentos na marginal que atraiu a elite angolana – segundo o jornal, o prédio já é conhecido como “o prédio dos angolanos”.
Um dos proprietários da luxuosa Estoril Sol Residence mencionados pelo The New York Times é o ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, que terá pago cerca de 2,8 milhões de dólares pelo 9º andar com vista para o mar. Lembre-se que Manuel Vicente é suspeito de ter corrompido o procurador Orlando Figueira para que arquivasse dois inquéritos, um deles o caso Portmill, relacionado com a alegada aquisição deste imóvel de luxo no Estoril.
De caso em caso, o jornal norte-americano vai sustentando a existência de uma elite angolana, que acumulou fortunas e que está a lavar dinheiro em Portugal. Entre os exemplos dados pelo The New York Times, também constava o de Isabel dos Santos, filha do ex-presidente de Angola e (ainda) presidente do MPLA, que foca a sua actividade num escritório discreto de localizado ao lado da Louis Vuitton da Avenida da Liberdade, em Portugal.
“Isabel dos Santos tornou-se uma das figuras mais poderosas de Portugal, ao comprar posições importantes na banca, nos media e no sector da energia”, escreveu o diário.
Já o The Wall Street Journal, que focou o seu artigo na Operação Fizz, considerava que se criaram condições perfeitas em Portugal para a lavagem de dinheiro angolano. Ao ficar rica em petróleo, Angola beneficiou do boom do ouro negro, enriquecendo a liderança de José Eduardo dos Santos. Os angolanos passaram a poder comprar o que os portugueses, que sofriam de uma crise financeira, não eram capazes de adquirir.
O “poderio” da elite angolana e a “permissividade” portuguesa foram a tempestade perfeita para a corrupção em Angola: “Os portugueses sabem como os angolanos são proeminentes a alegadamente afunilarem milhões de dólares em imóveis de luxo, apesar dos cidadãos angolanos serem dos mais pobres do mundo”.
“Angola está frequentemente no topo dos países mais corruptos do mundo e Portugal destacado pela sua permissividade no combate ao branqueamento de capitais e à corrupção, particularmente em relação aos angolanos, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico”, escreveu o diário norte-americano.