O grupo parlamentar da UNITA manifestou hoje “indignação” com os pedidos de ajuda financeira do Governo angolano aos cidadãos, salientando que devia ser o executivo a ajudar a população a superar as suas necessidades. Onde é que nós já lemos algo parecido? Ah! Foi aqui no Folha 8, no dia 30 de Março sob o título “Exija, não dê!”.
D evia ser o contrário, o Governo é que deve ajudar os cidadãos a superar as ingentes necessidades em abastecimento regular de água potável, energia eléctrica e em abastecimento de um pacote mínimo de alimentos básicos, às famílias mais carenciadas dos meios suburbanos e rurais”, salientou, em comunicado, a UNITA.
O Governo do MPLA (no Poder desde 1975) enviou, através de uma mensagem por SMS, um apelo aos cidadãos para apoiar a luta contra o novo coronavírus, pedindo contributos em kwanzas para uma conta do Tesouro Nacional, merecendo a reprovação da UNITA que “tem acompanhado com preocupação” a situação do país, em estado de emergência desde sexta-feira para evitar a propagação da epidemia.
O partido do “Galo Negro”, contestou o método do Governo “querer assumir sozinho a organização, mobilização e pior ainda, arrecadar os apoios monetários e em bens”, como se se tratasse do Estado e não existissem “outros entes públicos” mais bem vocacionados para “fazer o exercício da solidariedade e apoio humanitário”.
No comunicado, o grupo parlamentar da UNITA recordou que noutras calamidades, como a da seca no sul do país, vários parceiros sociais do executivo incluindo partidos políticos e igrejas, bem como empresas e cidadãos, se envolveram em iniciativas separadas num “esforço patriótico conjunto”.
Apelou, por isso, para que o Governo não inviabilize o surgimento destas iniciativas para “angariarem apoios monetários e outros, a entregar depois a uma entidade a identificar, que não o Tesouro Nacional, para evitar confusões”.
O grupo parlamentar da UNITA defendeu que a entidade que vier a ser designada para fazer a gestão do programa assistencial da crise da Covid-19 “o faça com a maior transparência” e apresente no final um relatório de prestação de contas.
O principal partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista recomendou que o Governo mobilize meios de transporte para retirar das unidades de produção agrícolas de algumas províncias (Malange, Uíge, Huambo e Bié) produtos agrícolas que correm o risco de se deteriorar e “já começam a escassear no maior centro de consumo do país, Luanda”.
Por último, exortou a população “a acatar com rigor e disciplina as medidas de protecção” contra o novo coronavírus, “que têm sido transmitidas pelas autoridades sanitárias”.
O Governo angolano do MPLA disponibilizou uma conta bancária para recolha de contribuições dos cidadãos e entidades colectivas com vista a “mitigar a carência” da população mais vulnerável devido à pandemia da Covid-19.
Um país rico que tem um governo falido e incompetente não tem alternativa.
“Ajuda-nos a ajudar. Todos juntos na luta contra a Covid-19. Podes fazer a tua parte contribuindo em kwanzas para o IBAN AO06 005 0000 5197 1631 1019 7 – do Ministério das Finanças – Tesouro Nacional, Governo de Angola”, lê-se na mensagem enviada aos utilizadores de telemóvel.
Uma fonte oficial disse que a iniciativa se enquadra na Campanha de Solidariedade Juntos por Angola, lançada com vista a acudir (diz o Governo) os mais carenciados, sobretudo no decurso do período de estado de emergência.
Em campanhas publicitárias difundidas em alguns órgãos de comunicação, as autoridades apelam à solidariedade dos angolanos “neste momento difícil para a humanidade”. Ou seja, pede aos pobres para ajudarem os ricos que, só por si, têm dinheiro mais do que suficiente (muito dele roubado ao erário público, ao Povo) para evitar campanhas deste género.
Mesmo antes, muito antes, desta pandemia do Coronavírus, os mais atentos defendiam a criação de políticas de protecção social aos cidadãos a par de incentivos reais ao empreendedorismo.
Angola enfrenta desde finais de 2014 uma crise económica e financeira, devido à baixa do preço do petróleo, principal fonte de receitas da economia do país, no mercado internacional, e à criminosa incompetência dos sucessivos governos, esta bem mais antiga. Já dura há 45 anos…
Como estadista de elevada craveira, segundo os seus sipaios, João Lourenço vai paulatinamente reforçando aquela que foi a emblemática política colonial imortalizada no poema Monangambé de António Jacinto e cimentada na anterior gestão de 38 anos de Poder absoluto de José Eduardo dos Santos: fuba podre, peixe podre, panos ruins, cinquenta angolares e porrada se refilares.
O problema está, contudo, em que a fuba (mesmo que podre) e o peixe (mesmo que podre) não chegam à barriga dos nossos 20 milhões de pobres. A única coisa que aumentou nem foi os 50 angolares. Foi tão só a porrada.
E, pelo sim e pelo não, João Lourenço vai permitindo que os seus servis acólitos, nomeadamente da Polícia e agora dos militares, avisem os angolanos que o regime não permitirá o direito à indignação. Antigamente os angolanos comiam e calavam. Hoje só calam porque comida… nem vê-la. E, se querem comer, sujeitam-se a que a Polícia ou os militares, para além de roubar os seus bens os eduquem literalmente à lei da bala.
De uma coisa os angolanos não podem, contudo, esquecer-se. Como dizia Platão: “O castigo por não participares na política é acabares por ser governado por quem te é inferior.”
Folha 8 com Lusa