A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola repudia “veementemente” as acusações que lhe foram imputadas pela Procuradoria-Geral da República angolana e considerou que a apreensão de catedrais “enferma de ilegalidades” e atenta contra a liberdade religiosa. Eis mais uma diversão para entreter a populaça, também ela vítima da Igreja Universal do Reino do Dinheiro.
Na sexta-feira, a Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana apreendeu sete templos da IURD em Luanda, apresentando como matéria de facto a alegada prática dos crimes de associação criminosa, fraude fiscal, exportação ilícita de capitais e outros ilícitos de natureza análoga.
Em comunicado, a IURD confirmou a apreensão dos templos do Alvalade, Maculusso, Patriota, Morro Bento, Benfica, Cazenga e Viana, quatro dos quais estavam na posse de um grupo de dissidentes, entretanto constituído como Comissão de Reforma, e “três na posse dos representantes legítimos da Igreja”.
No comunicado assinado pelo vice-presidente, bispo António Miguel Ferraz, a IURD Angola repudia “veementemente as imputações públicas” da PGR, “lamentando profundamente que a sua imagem, dos seus membros, obreiros, pastores e bispos estejam a ser manchadas, sem possibilidade de contraditório e defesa”.
A IURD afirma ainda que “não pode conformar-se com esta acção”, considerando que a apreensão afronta os direitos de liberdade religiosa e “entende que os mecanismos judiciais utilizados no decurso da acção em causa enfermam de ilegalidades, as quais serão devidamente arguidas em sede e local próprio”.
Por outro lado, salienta que ainda antes de os magistrados da PGR chegarem aos templos, já vários órgãos de comunicação social, “que têm tido acesso a pretensos elementos de prova constantes no processo”, estavam posicionados no local, sublinhando que a violação do segredo de justiça “subverte o Estado de Direito”.
É interessante constatar que a IURD, por óbvio interesse próprio, também fala da “subversão do Estado de Direito”, argumento que se esqueceu de usar quando era preciso ampliar a voz do Povo. Melhor. O papel da IURD era apenas e só ampliar a multiplicação dos dízimos.
Para a IURD, é óbvio o seu propósito: “Fazer o julgamento no ‘tribunal das ruas’ e das ‘redes sociais’, criando na opinião pública a ideia de que a IURD e os seus representantes são um conjunto de criminosos a actuar no território angolano”.
Que ideia! Alguém em Angola (como no resto do mundo) pensa que os membros da IURD são “um conjunto de criminosos”? Francamente. Todos sabem que os membros dirigentes da IURD são os mais impolutos cidadãos, verdadeiros exemplos para uma sociedade que acredita piamente que filho de peixe sabe… voar.
A IURD afirma, no entanto, que “não obstante as discordâncias em relação à actuação da justiça neste caso concreto, aceitará sempre as suas decisões soberanas, confiando que a verdade prevalecerá no âmbito de um processo justo e equitativo”.
As tensões da IURD em Angola arrastam-se desde Novembro, quando um grupo de dissidentes se afastou da direcção brasileira (a mãe e o pai da seita) e culminou com a tomada de templos, em Junho, pela ala reformista, entretanto constituída numa Comissão de Reforma em Angola, com troca de acusações mútuas relativas à prática de actos ilícitos.
Bem vistas as coisa, os actos ilícitos existiram mas foram praticados por gente que não pertence à IURD, caso das zungueiras que trabalhavam nas redondezas dos tempos, pelo que só mesmo o “deus” do reino (Edir Macedo) poderá pôr ordem, e em ordem, a orgia colectiva do prostíbulo.
O conflito deu origem à abertura de processos-crime na PGR de Angola e subiu à esfera diplomática, com o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (outro raro exemplar de honorabilidade, ética e prestígio… celestial), a pedir ao seu homólogo João Lourenço (igualmente um paradigma das mais eméritas qualidades) garantias de protecção dos pastores brasileiros e do património da Igreja, com o chefe de Estado angolano a prometer um “tratamento adequado” do assunto na Justiça bíblica e sagrada do MPLA.
A Comissão de Reforma destituiu, em finais de Julho, a direcção e elegeu novos membros, pondo igualmente fim aos serviços dos missionários brasileiros, decisões publicadas numa acta que a IURD Angola diz ser ilícita. Esquece-se que, desde 1975, em Angola os actos ilícitos só foram praticados por diabos já afastados (tipo Isabel dos Santos e Jonas Savimbi).
Num comunicado divulgado na altura e assinado pelo bispo António Ferraz, a IURD Angola prometeu adoptar todas as medidas para reagir à publicação ilícita da acta, que foi publicada no Diário da República de 24 de Julho (não é certo que Bruce Lee a tenha subscrito), e pôr “cobro à actuação ilícita daqueles que se intitulam agora de ‘Comissão de Reforma da IURD’”.
Segundo o Diário da República de 24 de Julho, na assembleia extraordinária a Comissão de Reforma da IURD Angola decidiu destituir o corpo de direcção da IURD Angola liderada pelo bispo Honorilton Gonçalves “por violação sistemática dos estatutos e direitos dos membros da IURD em Angola”.
“Discriminação racial e violação de normas estatutárias, imposição e coacção a castração ou vasectomia aos pastores e abuso de confiança na gestão dos recursos financeiros e patrimoniais” da IURD Angola, constituem algumas das razões da destituição.
Na assembleia extraordinária, a Comissão de Reforma da IURD Angola elegeu como seu coordenador o bispo Valente Bizerra Luís e decidiu também, “por unanimidade, dar por findo o serviço eclesiástico pela IURD Angola dos missionários brasileiros em todo o território angolano”.
A acta publicada em Diário da República assinala que os membros conferiram poderes à Comissão de Reforma da IURD Angola para gerir todos os programas eclesiásticos televisivos, radiofónicos, de imprensa e plataformas digitais da IURD Angola.
Em resposta, o bispo António Ferraz afirmou que o grupo de dissidentes, promotores da Comissão de Reforma da IURD Angola, “não constitui os legítimos representantes”, referindo que alguns foram expulsos devido à prática de “actos ilícitos e à violação do código de conduta da igreja”.
Folha 8 com Lusa