O combate à corrupção desencadeado pelo presidente João Lourenço tem como alvo pessoas ligadas ao seu antecessor, José Eduardo dos Santos. Só que começam a surgir casos que envolvem figuras próximas do atual presidente de Angola.
Por Sarsfield Cabral (*)
Prossegue a campanha do presidente de Angola, João Lourenço, contra a corrupção e em especial contra alegadas ações ilegais cometidas por próximos do seu antecessor, José Eduardo dos Santos – a começar pela filha do ex-presidente, Isabel dos Santos. Relativamente a operações suspeitas, João Lourenço diz que terão sido desviados do Estado angolano cerca de 24 mil milhões de dólares.
Mas será que o atual presidente de Angola quer combater a corrupção ou apenas visa atacar o grupo de alegados corruptos ligados a J. Eduardo dos Santos, substituindo-os pelos seus amigos? Esta dúvida tem sido colocada desde o início do mandato de João Lourenço como presidente e ainda não teve resposta satisfatória.
As probabilidades apontam, agora, para a segunda alternativa – mera substituição de um grupo de corruptos por outro, num combate seletivo contra a corrupção. Aliás, João Lourenço foi ministro de J. Eduardo dos Santos. Não é credível que, nessa altura, não se desse conta da roubalheira. Se não queria, ou temia, levantar o problema em público, sempre poderia ter-se demitido alegando motivos pessoais. Não o fez.
Agora o chefe de gabinete do presidente J. Lourenço, Edultrudes Costa, vê-se envolvido num alegado caso de enriquecimento ilícito, divulgado pela TVI 24, arrecadando milhões de dólares com contratos com o Estado angolano. Este personagem foi durante anos colaborador importante de J. Eduardo dos Santos. O atual presidente não comenta.
Por outro lado, é curioso que J. Lourenço tenha feito grande pressão sobre as autoridades portuguesas para que um processo envolvendo Manuel Vicente, que foi presidente da Sonangol, fosse enviado de Portugal para Angola, como acabou por acontecer. Evitou, assim, que Manuel Vicente fosse julgado em Portugal por alegadamente ter subornado um procurador.
A economia angolana está em recessão há seis anos. A queda do preço do petróleo é o principal fator dessa situação, que provoca grandes problemas sociais na maioria dos angolanos. Estes já se manifestam contra João Lourenço. E, se a repressão contra os manifestantes é menos brutal do que no tempo de J. E. dos Santos, nada garante que ela não se intensifique nos próximos tempos. Angola é cada vez mais uma provável desilusão.
(*) Rádio Renascença (Portugal)