Em África, e particularmente em Angola, existe uma luta entre gerações, onde os nossos “mais velhos” usam e abusam dos seus poderes para permanecerem em lugares decisórios das nossas vidas e sociedades, impedindo assim a ascensão dos “mais novos”.
Por Pedrowski Teca
Esta barreira, que surge em várias facetas da nossa vida familiar e pública, consiste na criação dos mais variados e sofisticados artifícios que dificultam a ascensão dos mais novos, principalmente através da inexistência do processo rigoroso de passagem de testemunho, que permite a capacitação de novas gerações e a preservação da cultura e os demais hábitos e valores locais.
Consequentemente, somos vítimas perpétuas de casos em que a morte de um líder cria uma vacatura e a respectiva crise de transição porque não houve preparação da nova geração.
Há casos em que impõem-se, por nepotismo, pessoas sem capacidade ou legitimidade, algo que geralmente resulta em dois cenários: a degradação da situação ou a ocorrência de um golpe interno.
Em África, quando um mais velho morre, infelizmente lamentamos porque perdemos uma “biblioteca viva”. Pois, não devia ser assim se estes conhecimentos fossem eficazmente transmitidos e transferidos aos mais novos, principalmente através da escrita.
Já ouvi mais velhos afirmando que “nada é conquistado de bandeja” e que muitos que se perpetuam, por exemplo, em cargos políticos, fazem-no porque alcançaram tais posições com muito “sangue, suor e lágrimas”.
Tais afirmações não colhem, tão pouco justificam a auto-eternização no poder, a não preparação de sucessores ou quadros, e o bloqueio de iniciativas de passagem de testemunhos.
Essa irresponsabilidade belisca e consequentemente causa a morte de valiosos legados de líderes que muito contribuíram nos seus respectivos países e no Continente Africano, pois todo ser humano é geralmente marcado ou manchado pela maneira em que deixa ou é forçado a perder um cargo ou a própria vida.
No nosso país, os líderes não acatam estes ensinamentos da história, por conseguinte, não há desenvolvimento visível na camada juvenil que encontra-se sistematicamente alienada na futilidade.
Que país teremos, se de facto, há 43 anos de Independência Nacional, ao invés da formação e o emprego, a governação promove e afoga a juventude na imoralidade, em festanças, em lagoas de álcool e no uso de drogas e outros estupefacientes?
Que país teremos, se ao invés da excelência, inteligência e sapiência, promove-se o partidarismo, o amiguismo e a bajulação?
É tão difícil, nesta Angola que anualmente já produz milhares de licenciados, concordar com as palavras do ex-presidente americano, Ronald Reagan, quando afirmou que “o melhor programa social é um emprego”?
É tão difícil assim, perceber que hoje o angolano chega a ser mais competente e produtivo do que o expatriado e merece um salário que o garante dignidade?
Conforme é sabido, o conhecimento, tal e qual o legado, não é útil apenas quando aplicado mas sim quando é transferido.