O Governo da província do Huambo enviou hoje, segunda-feira, 182 toneladas de bens diversos para acudir às vítimas da seca na região do Cunene, que enfrenta, desde Outubro de 2018, a mais severa estiagem da sua história. Aplaudamos a iniciativa, mesmo sabendo que no Huambo há crianças a morrer à fome ou por falta de… comida.
Trata-se de cinco camiões, com 30 toneladas cada, recolhidos no âmbito da campanha “Huambo – semente da solidariedade”, decorrida entre 12 de Junho a 16 de Julho, em todos os municípios do planalto central.
Em declarações à ANGOP, a directora do Gabinete da Acção Social, Família e Igualdade do Género na província do Huambo, Maria de Fátima Cawewe, disse que foram enviados produtos como milho, feijão, farinha de milho, arroz, massa alimentar, óleo vegetal, sal, água mineral, entre outros alimentos, além de roupa usada e calçado.
A responsável enalteceu a participação da sociedade na campanha, que serviu para cultivar o espírito de solidariedade e de amor ao próximo, uma acção que deve continuar a ser fomentada dentro e fora da família, para a edificação de uma sociedade alicerçada na fraternidade.
Das províncias da Região Sul de Angola, a do Cunene é a mais afectada, pois enfrenta, desde Outubro de 2018, a mais severa estiagem da sua história, que já deixou mais de 800 mil famílias e mais de um milhão de bovinos à beira da morte.
São, no total, 857.443 pessoas a viver os efeitos da estiagem e um milhão de bovinos em risco de morte, por fome ou por sede. A falta de chuva prejudica a agricultura de subsistência, visto que as sementes não germinam e a colheita está comprometida.
Recorde-se que o número de recém-nascidos encontrados em lixeiras, após o abandono com vida, supostamente pelas próprias mães, tende a aumentar na província do Huambo, com o registo de mais um caso, no município do Longonjo, perfazendo quatro vítimas, em menos de dois meses.
Em reacção a este facto, Maria de Fátima Cawewe, mostrou-se preocupada com o aumento de casos do género, que considerou de crimes hediondos e cujos autores devem ser responsabilizados civil e criminalmente, por se tratar de delitos que chocam directamente a sensibilidade das pessoas.
“Isto é, na verdade, um acto desumano. As pessoas que as praticam devem sentir a mão pesada das autoridades judiciais, pois não há nada que justifique abandonar um inocente, numa altura em que muitos cidadãos, de forma individual, procuram pela adopção de crianças, assim como centros de acolhimento, além dos próprios mecanismos de prevenção”, disse a a directora do Gabinete da Acção Social, Família e Igualdade do Género na província do Huambo.
A título de exemplo, referiu que a instituição que dirige conta, neste momento, com 100 pedidos de adopção de crianças.
Preocupada com a situação, Maria de Fátima Cawewe considerou que o Gabinete da Acção Social, Família e Igualdade do Género vai intensificar as acções de moralização da sociedade, através de palestras voltadas fundamentalmente para o respeito da vida humana, para que casos do género, não voltem a acontecer.
Localizado a 64 quilómetros da cidade do Huambo, o município do Longonjo possui uma extensão territorial de 2.915 quilómetros quadros e uma população estimada em 92.103 habitantes, maioritariamente camponesa, distribuídos pelas comunas do Lépi, Catabola, Chilata e na vila municipal.
A fome que oficialmente não existe
A má nutrição severa (em português corrente significa “fome”) causou de Janeiro a Maio a morte de 73 crianças, em 1.341 casos registados, na província do Huambo, divulgaram as autoridades de saúde locais. Comparativamente a igual período do ano passado é um aumento de 30%. Coisa pouca, dirá o MPLA.
De acordo com declarações prestadas no dia 8 de Julho à ANGOP pela supervisora de Nutrição no Planalto Central, Cármen Adelaide Agostinho Mossovela, no período em referência faleceram 73 crianças (embora sejam do Huambo presume-se que sejam… angolanas), por malnutrição severa (fome), de um total de 1.341 doentes atendidos pelas autoridades sanitárias locais.
A supervisora de nutrição mostrou-se preocupada com o aumento de casos provenientes, na sua maioria, das zonas rurais dos municípios do Huambo, Caála, Bailundo, Mungo, Cachiungo e Londuimbali.
Cármen Adelaide Agostinho Mossovela lembrou que durante todo ano de 2018, as autoridades sanitárias haviam registado 123 óbitos, de um universo de 1.632 casos diagnosticados.
A responsável apontou o desmame precoce do bebé, por negligência ou ignorância das mães, a carência dos alimentos, o consumo de produtos industrializados ao contrário dos naturais e a guarda do menor por uma outra pessoa, como sendo as principais causas da malnutrição
Deste modo, quase parecendo acreditar (ou será que acredita mesmo?) que Angola é um Estado de Direito, Cármen Adelaide Agostinho Mossovela apelou às mães para cumprirem com as regras de aleitamento materno, que deve ser obrigatório e exclusivo nos primeiros seis meses e, posteriormente, introduzir outros alimentos, em prol do desenvolvimento saudável da criança, que, por sua vez, deve ser amamentada até aos dois anos de vida.
Não seria mau (mas isso o Governo não deixa que se diga) reconhecer que, num universo de 20 milhões de pobres, as nossas crianças continuam a ser geradas com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com… fome.
Cármen Adelaide Agostinho Mossovela elucidou que o aleitamento materno, além de ser o melhor alimento para os bebés nos primeiros dias de vida, ajuda a prevenir o câncer da mama, referindo que, entre os sintomas da doença, destaca-se o emagrecimento excessivo, edemas nos membros inferiores, a falta de apetite e outros indicadores.
A província do Huambo conta com treze unidades especiais de tratamento de casos de malnutrição, instaladas nos 11 hospitais municipais, incluindo no central e no centro materno infantil do bairro da Chiva, arredores da cidade do Huambo.
Com 248 unidades sanitárias, sendo três hospitais de âmbito provincial, 11 municipais, 65 centros de saúde e 169 postos de atendimento médico, a província do Huambo, com uma extensão territorial de 35.771 quilómetros quadrados, possui uma população estimada em 2.519.309 habitantes.
E assim vão os escravos do reino
Angola está com uma taxa de “desnutrição crónica” na ordem dos 38%, com metade das províncias do país em situação de “extrema gravidade de desnutrição”, onde se destaca o Bié com 51%”, anunciaram no dia 13 de Junho de 2018 as autoridades. Mais uma medalha para o MPLA, fruto de uma má governação que dura desde 1975.
A informação foi transmitida nesse dia pela chefe do Programa Nacional de Nutrição de Angola, Maria Futi Tati, durante um seminário de lançamento da “Plataforma Multissectorial de Nutrição em Angola”, realizado, em Luanda, considerando a situação “muito séria e preocupante”.
“O grau de desnutrição, principalmente a crónica, a nível do país é muito sério. Temos que trabalhar bastante, estamos com uma desnutrição crónica com uma taxa de 38% e o padrão preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de menos de 20%”, disse.
De acordo com a responsável, “nenhuma das 18 províncias angolanas está em normalidade nutricional”, ou seja, “todas as províncias estão com problemas sérios de desnutrição”, demonstrando que “o país está mal”.
Que está mal já todos nós sabemos há décadas. Só o MPLA, que está no governo desde 1975 desconhece essa realidade. E desconhece porque é algo que não afecta os altos dignitários do regime.
As províncias do Bié com 51%, Cuanza Sul com 49%, Cuanza Norte com 45% e o Huambo com 44% são, segundo Maria Futi Tati, as que apresentam maiores indicadores de desnutrição.
“São cerca de nove províncias que estão em situação de extrema gravidade de desnutrição, sete províncias em situação de prevalência elevada e duas províncias em situação de prevalência média”, apontou.
Na ocasião, a chefe do Programa Nacional de Nutrição de Angola adiantou ainda que 64% das crianças angolanas padecem de “anemia grave”, porque “muitas vezes a criança já nasce desnutrida e depois alimenta-se mal, muitas vezes faz apenas uma refeição por dia e depois evolui para a anemia”.
Por alguma razão nós aqui no Folha 8 dizemos insistentemente que os angolanos são gerados com fome, nascem com fome e morrem com fome.