Telemedicina? Sim. Boas intenções e pouco mais

O Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) português está a apostar na criação de uma rede de telemedicina em Angola, abrangendo, para já sete hospitais, cinco deles provinciais, disse hoje à agência Lusa o coordenador do projecto.

Luís Velez Lapão, doutorado em Engenharia dos Sistemas de Saúde e especializado em Saúde Pública Internacional pela Universidade Nova de Lisboa, indicou que o “projecto-piloto” integra, para já, hospitais em Luanda (Américo Boavida e Pediátrico David Bernardino), e em Cabinda, Bengo, Malanje, Lunda-Sul e Bié.

Segundo Luís Lapão, há a intenção de se estender progressivamente o projecto a toda a Angola, estando actualmente a aguardar pela análise do Ministério da Saúde angolano, face às alterações e mudanças políticas no país (eleições gerais de Agosto de 2017), de modo a participar na municipalização do sector.

No entanto, o projecto, uma colaboração do IHMT com a Universidade de Medicina de Genebra, já avançou e permitiu formar 107 médicos angolanos daqueles sete hospitais, através de mais de 70 cursos de capacitação, disponibilizados numa plataforma na internet, acessível a todos os profissionais de saúde.

“A ideia é apoiar a estratégia de Angola de municipalizar a Saúde, dar maior capacidade aos hospitais municipais e provinciais, para que tenham mais informação sobre saúde e possam colaborar com médicos dos hospitais centrais. E isso está já numa plataforma tecnológica”, frisou o coordenador do projecto.

“Vamos suportar esta rede, tecnologicamente, com um portal que permite a comunicação vídeo entre hospitais em duas áreas fundamentais, como a da formação e o serviço de segunda opinião, que passa por permitir aos médicos que estão nas zonas mais rurais colocar questões”, acrescentou.

Luís Lapão referiu, por outro lado, que está em estudo também adicionar novos serviços, como o relacionado com a área dos exames médicos e de diagnóstico, salientando que, financeiramente, utilizará tecnologias “low cost”.

Segundo o coordenador do projecto, a medicina interna e a pediatria foram “as mais trabalhadas e são o grande foco”, mas o projecto também se alarga a todas as restantes especialidades, tendo também em conta a medicina tropical.

“A telemedicina é um novo canal de acesso, permite que as pessoas possam aceder à saúde à distância. Num país vasto, como Angola, melhor ainda. E, se bem organizada, pode reduzir custos”, disse, exemplificando as poupanças com o facto de, em muitas zonas rurais, se conseguir evitar deslocações de doentes e acompanhantes.

Questionado sobre se há interesse em estender o projecto a outros países de expressão lusófona, Luís Lapão lembrou que o IHMT já está também em Cabo Verde e que Moçambique deverá ser o país seguinte, sendo essa a vontade saída da I Reunião de Telemedicina e Telessaúde da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizada entre 13 e 15 de Fevereiro de 2017, na cidade da Praia.

Para tal, foi criado um grupo técnico coordenador da telemedicina na CPLP, de que o IHMT é assessor científico, aprovado, depois, em Outubro do mesmo ano, na conferência de chefes de Estado e de Governo, em Brasília.

“A ideia é começar a criar um movimento para que este tipo de acesso à tecnologia possa chegar a mais população [Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste]”, acrescentou, salientando a importância dos telemóveis e dos “smartphones” no mundo.

“A evolução tecnológica e a telemedicina está a ser cada vez mais potenciada por telemóveis ou smartphones. A rede em África é muito significativa e há aqui uma oportunidade que pode ser aproveitada. Só que têm de haver esforços conjuntos relevantes dos ministérios da Saúde, dos hospitais, médicos, profissionais de saúde, mas também das universidades. Estamos a falar de inovação, de reorganização dos serviços para conseguirem integrar todos os serviços”, concluiu.

Estarão a brincar com a nossa chipala?

No dia 23 de Setembro de…. 2014, o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Pinto de Sousa, considerou, em Luanda, a saúde como um dos pilares “verdadeiramente autênticos” na promoção do desenvolvimento social e económico do país.

Carlos de Sousa que falava num dos painéis das X Jornadas Técnico-científicas da Fundação Eduardo dos Santos (FESA), frisou que a saúde deve ser encarada como um recurso social e pessoal na vida diária.

O bastonário lembrou que faziam parte das preocupações do Executivo diversos aspectos programáticos, presentes no Plano Nacional de Desenvolvimento da Saúde (PNDS), que visam promover a saúde colectiva, em especial das mulheres e crianças, com o aperfeiçoamento da rede sanitária, prevenção e luta contra as doenças infecciosas, emergentes e reemergentes.

“O conceito e a prática da saúde é uma forte determinante da municipalização, bem como um aspecto que vem sendo enfatizado pelo Ministério da Saúde (MINSA), no sentido de tornar mais operativo e consequentemente mais próximo dos cidadãos e da comunidade”, frisou.

Para Carlos Sousa, para assimilar e interiorizar a ideia de saúde, de acordo com a sua evolução positiva e o conteúdo da actividade dos médicos, é necessária a dimensão ética da actividade dos técnicos de saúde, credibilidade dos actos, técnica e a ciência.

Por isso, acrescentou o médico, a credibilidade dos actos de saúde resulta, essencialmente, da serenidade que se coloca no relacionamento dos profissionais com os doentes e famílias, entre os técnicos e estes com as instituições onde exercem o seu trabalho.

As X Jornadas Técnico-científicas da FESA abordam, entre outros temas, “Saúde em África e os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”, “Perfil Epidemiológico da Saúde em Angola” e “As Tecnologias de Informação e Comunicação ao Serviço da Saúde Telemedicina”.

Participam do encontro deputados à Assembleia Nacional, Membros do Executivo, Médicos, Técnicos de Saúde, entre outros.

Recorde-se também que, por exemplo, no dia 16 de Setembro de…. 2015, realizou-se no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, o seminário de apresentação da Rede de Telemedicina Angola – Portugal – HUG. Já a funcionar em Angola desde 2014, a rede internacional de colaboração de profissionais de saúde encontrava-se em processo de expansão um pouco por todo o país e contava com o apoio de médicos de língua portuguesa, “promovendo a discussão, educação e troca de conhecimento em matéria de saúde e de cuidados primários”.

O objectivo é que profissionais locais “possam aceder a formação contínua certificada, a informação técnica e ainda à partilha com um colega de experiência e conhecimento, sempre que necessário”.

Na sessão que se realizou em Lisboa, os convidados abordaram a importância e a dinâmica da telemedicina nos cuidados de saúde primários e a telemedicina no contexto da Medicina Tropical. Foi ainda apresentado o projecto RAFT (Rede Africa Francófona de Telemedicina) e as suas funcionalidades.

A Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar é uma das entidades que está envolvida na dinamização desta iniciativa, que reúne, igualmente, os esforços do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Associação para o Desenvolvimento da Medicina Tropical (ADMT), Unidade de Saúde Pública Internacional e Bioestatística – Centro colaborador da OMS para Políticas e Planeamento da Força de Trabalho em Saúde, Ministério da Saúde de Angola e Hospitais Universitários de Genebra (Hôpitaux Universitaires Genève – HUG).

Folha 8 com Lusa

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