A Síndrome do MPLA é a versão angolana da Síndrome de Estocolmo. Ou seja, é um estado psicológico em que as pessoas submetidas a um prolongado estado de escravidão passam a ter simpatia, ou até mesmo amor, pelos carrascos.
Por Norberto Hossi
A população angolana deverá duplicar a actual, passando dos actuais cerca de 28 milhões para quase 65 milhões, em 2050, segundo uma projecção do Governo de Angola. A fazer fé nas previsões do MPLA, que está no poder desde 1975, tudo se resolverá desde que, nessa altura, Angola continue a ser o MPLA e o MPLA continue a ser Angola.
A Projecção da População 2014-2050 elaborada pelo Instituto Nacional de Estatística de Angola teve como principal fonte de dados as informações recolhidas no recenseamento Geral da População e Habitação de 2014, dados do Inquérito de Indicadores Múltiplos de Saúde (IIMS) de 2015-2016 e do Serviço de Migração de Estrangeiros de 2013.
África, e por inerência Angola, é uma região riquíssima que, apesar de ter nos seus autóctones os líderes formais, continua a gerar riquezas para os outros, ricos internos, e uma crescente população pobre.
Como alguém disse, quem estiver sempre a falar do passado deve perder um olho. Mas também é verdade que esse alguém acrescentou que, quem esquecer o passado, deve perder os dois.
Já lá vão 16 anos. Foi a 24 de Fevereiro de 2002 que alguém disse: «Sekulu wafa, kalye wendi k’ondalatu! v’ukanoli o café k’imbo lyamale!». Ou seja, morreu o mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratados.
Tirando os conhecidos exemplos da elite partidária, a maioria do Povo angolano têm estado deste então a apanhar café, ou algo que o valha.
No rescaldo da guerra imediatamente a seguir à Independência, entre 1976 a 1978, houve uma brutal escassez de alimentos e a paralisação dos campos de algodão e café do norte de Angola.
Para fazer face a esse desafio, o governo do MPLA reeditou a guerra do Kwata-Kwata, obrigando pela força das armas os contratados ovimbundos e ou bailundos (que outros poderiam ser?) a ir para as roças, sobretudo do norte.
Com a independência, os camponeses do planalto e sul de Angola sonharam com o fim do seu recrutamento forçado para aquelas roças. A reedição da estratégia colonial por um governo independente foi um golpe duríssimo na sua ilusória liberdade.
O líder da UNITA, Jonas Savimbi, agastado com a fraqueza e quase exaustão das forças que conseguiram sobreviver à retirada das cidades, em direcção às matas do leste (Jamba), onde reorganizou a luta de resistência, aproveitou esse facto, bem como a presença de estrangeiros, para mobilizar os angolanos.
«Ise okufa, etombo livala» (Prefiro antes a morte, do que a escravatura ), dizia Savimbi aos seus homens, militares ou não.
E agora? Agora os seus discípulos preferem a escravatura com alguma (embora pouca) coisa na barriga, renegando a liberdade com ela vazia. A Síndrome do MPLA funciona. Os escravos nutrem admiração, ou até mesmo amor, pelo carrasco.
Num cenário em que os poucos que têm milhões continuam a ter cada vez mais milhões e em que, no mesmo país, muitos milhões não têm sequer o que comer, que futuro terá Angola?
Mal por mal, antes a morte do que a escravatura? E se antes foi o tempo dos contratados e escravos ovimbundus ou bailundos irem para as roças do Norte, agora é o enxovalho de transportar pedras à cabeça para ter “peixe podre, fuba podre… e porrada se refilares”. Mesmo assim, a tal Síndrome do MPLA existe e, por falta de alternativas válidas, os angolanos vão aceitando como normal e correcto o facto de a maioria ter apenas mandioca e farelo, enquanto os seus donos têm todas as mordomias de uma elite anafada.
Agora, para além de irem apanhar café em terras do norte como contratados, os 20 milhões de angolanos pobres aceitam passivamente ser escravos na terra que ajudaram a, supostamente, libertar.