Sem salários há 57 meses mas… podem manifestar-se

Numa democracia, num Estado de Direito, não seria notícia. Mas como estamos nesta Angola há 43 anos dominado pelo MPLA, isto é notícia. Preparem os foguetes. O governo de Luanda decidiu autorizar, para amanhã, sábado, a marcha de protesto dos trabalhadores da Empresa Nacional de Pontes de Angola, agora sem salários há 57 meses, duas semanas depois de “inviabilizar” a mesma.

O secretário-geral da Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola (CGSILA), órgão que promove a marcha, Francisco Jacinto, confirmou a autorização da marcha, adiantando que a mesma acontece sábado a partir das 13:00.

“Exactamente a nossa marcha sai amanhã, a partir das 13:00, temos o nosso trajecto do cemitério da Santa Ana até ao Largo das Escolas. Estamos reunidos com os trabalhadores para acertar detalhes organizativos porque queremos que a marcha seja ordeira”, disse.

Falando no final de uma assembleia geral de trabalhadores, nas instalações da empresa pública de pontes, localizada no município do Cazenga, um dos mais populosos de Luanda, o sindicalista sublinhou a polícia vai acompanhar de perto os manifestantes.

“Está garantida a segurança, acabámos de ter um encontro mesmo esta manhã com o Comando Provincial da Polícia de Luanda, acertamos os detalhes”, explicou.

De acordo ainda com Francisco Jacinto, o objectivo da CGSILA e dos trabalhadores é apenas “manifestar, protestar, repudiar o comportamento das nossas autoridades governamentais pela situação caótica que os trabalhadores vivem”.

“Daí que queremos que a nossa marcha seja organizada e decorra com disciplina”, acrescentou.

A marcha de protesto prevista inicialmente para 28 de Julho foi “inviabilizada”, na ocasião, pelas autoridades de Luanda, por alegados incumprimentos da lei, segundo disse anteriormente o secretário-geral da central sindical angolana.

A 2 de Agosto, o ministro da Construção e Obras Públicas de Angola, Manuel Tavares de Almeida, anunciou que a empresa estatal de pontes vai ser privatizada, e sem avançar um horizonte, garantiu apenas que decorriam trabalhados para “relançar a firma e liquidar os atrasados”.

“A empresa de pontes está enquadrada nas empresas que vão ser privatizadas. Está a desenrolar-se processo de negociação com empresas interessadas e este será o futuro da empresa de pontes”, disse Manuel Tavares de Almeida, em declarações aos jornalistas.

Prontos para a marcha de sábado, estão também os cerca de 400 trabalhadores que há quase cinco anos não recebem os seus ordenados, conforme assegurou hoje o 1º secretário da comissão sindical da empresa, Mateus Alberto Muanza.

“Estamos agora a somar 57 meses sem salários, e a nossa situação vai-se agravando cada dia que passa, razão pela qual, tomamos essa providência de realizarmos essa marcha para que o Governo angolano possa resolver esse problema que vem nos matando dia após dia”, frisou.

Em relação ao anúncio da privatização da empresa, Mateus Alberto Muanza questiona o prazo para a liquidação dos salários argumentado que os trabalhadores “estão cansados das promessas” das autoridades.

Porque, justificou, a 30 de Outubro de 2017 o ministro das Obras Públicas e Construção quando visitou a empresa “garantiu resolver o problema com brevidade, mas até aqui estamos a caminhar para um ano e não recebemos qualquer notícia boa”.

“Daí que não confiamos mais nessas promessas. Tomamos conhecimento sim, mas quando vão pagar? Vamos morrendo devagar e isso nos motiva ainda a marcharmos amanhã para protestar a nossa situação”, concluiu.

Folha 8 com Lusa

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