Os partidos portugueses PSD e CDS acreditam que, depois de tantas manifestações de subserviência em relação ao MPLA (Angola é outra coisa) poderão ser “membros honorários” deste partido, esperando a respectiva outorga agora que João Lourenço vai visitar, de quinta-feira a sábado, Portugal. O PS e o PCP já estão no galarim.
Neste contexto, o PSD diz que olha “com grande optimismo” para o futuro das relações entre Portugal e Angola e considera que a visita de João Lourenço traduzirá a “importância estrutural” desta cooperação, que quer pautada pelos “princípios do respeito e bem comum”.
“É uma visita que traduz a importância estrutural da relação entre os dois países e que surge na sequência de um processo que já teve visitas de Rui Rio e António Costa a Angola”, afirmou Tiago Moreira de Sá, presidente da Comissão de Relações Internacionais da sucursal oficiosa do MPLA em Lisboa, o PSD.
Em declarações à Lusa, a propósito da visita de Estado que o Presidente da República, Titular do Poder Executivo e Presidente do MPLA, João Lourenço, fará a Portugal entre quinta-feira e sábado, o dirigente do PSD salientou que as relações “políticas, económicas e sentimentais” entre os dois países “são muito fortes”, e são “reforçadas pela grande comunidade portuguesa em Angola e de angolanos em Portugal”.
Já o CDS-PP tem uma “expectativa boa” para a “visita de certa forma histórica” do Presidente João Lourenço (que, tal como José Eduardo dos Santos, não foi nominalmente eleito), esperando que seja “importante e relevante” nas relações entre os dois países.
“É uma expectativa boa. Trata-se de uma visita que há muito não ocorria, que de certa forma será histórica”, afirmou à Lusa o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães.
Para Nuno Magalhães, a deslocação é “um marco histórico, importante e relevante nas relações entre os dois países” que, “do ponto de vista cultural, histórico, económico, tem tudo para ter relações profícuas” e que “podem ser melhoradas e aprofundadas” com esta visita.
O líder da bancada centrista admitiu que o relacionamento bilateral pode agora melhorar após “o irritante” entre os dois países, causado pelo processo judicial que envolveu o ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, embora considere essa expressão, ela própria, “bastante irritante”. O mais importante, disse, são “as relações entre Portugal e Angola, por todos os motivos e mais algum”.
E enumerou argumentos, a começar pela “enorme comunidade de portugueses que vive em Angola, pela enorme comunidade de angolanos que vive em Portugal, pelo sentimento e pelo laço de amizade que liga os dois povos, pelos laços históricos que são inabaláveis, independentemente desta ou daquela questão, deste ou daquele Governo, independentemente do momento histórico que cada um atravessa”.
Com Rui Rio a bajulação será eterna
O presidente do (ainda) maior partido português, o PSD, recusou no dia 2 de Julho que a sua vinda a despacho ao MPLA tenha causado algum mal-estar no Governo de António Costa, salientando o “simbolismo” de uma visita que diz ser uma “ajuda” nas relações entre os dois países.
E foi uma ajuda importante, reconheça-se. Para além da assinatura que renova o pacto de subserviência e bajulação anteriormente subscrito por Pedro Passos Coelho, Rui Rio acrescentou uma cláusula implícita em que, sempre que necessário, o PSD passa a funcionar como sucursal do MPLA em Portugal.
“Não senti nenhum mal-estar com o Governo português, de forma nenhuma”, afirmou Rui Rio, acrescentado que “talvez pudesse ter sentido isso se, em vez de agora, tivesse ido lá há dois ou três meses”.
Salientando que a reunião que manteve com o presidente de Angola correu “excepcionalmente bem”, Rui Rio apontou o “simbolismo” do encontro que, “sendo bom para o PSD – que desde o tempo de Cavaco Silva e Durão Barroso sempre teve relações privilegiadas com o MPLA – é, acima de tudo, bom para Portugal”.
Rui Rio tem razão. Desde o tempo de Cavaco Silva e Durão Barroso que o PSD sempre se ajoelhou perante o MPLA. O actual líder do PSD chama-lhe “relações privilegiadas com o MPLA”.
“Para lá de eu ir lá como líder partidário, também fui lá como dirigente político português, independentemente do partido, e foi assim também que a própria comunicação social local me viu. Nesse aspecto é uma ajuda para que as relações entre Angola e Portugal possam melhorar relativamente aquilo que foi este período mais recente”, sustentou.
Os dirigentes mais recentes do PSD são velhos amigos do regime do MPLA. Mas confundir isso com ser amigo de Angola e dos angolanos é, mais ou menos, como confundir a portuense Ribeira da Granja com o Rio Kwanza. Seja como for, a bajulação continua a garantir apoios. Nesse sentido, Rui Rio (como os outros) não se importa de considerar João Lourenço como um verdadeiro messias.
Rui Rio sabe (repetimos quantas vezes for necessário) que todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos há angolanos que morrem de barriga vazia e que 70% da população passa fome;
Rui Rio sabe que 45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, e que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos;
Rui Rio sabe que no “ranking” que analisa a corrupção, Angola está entre os primeiros, tal como sabe a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos e que o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coacção e às ameaças do partido que está no poder desde 1975;
Rui Rio sabe que a corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os que querem ser livres, que 76% da população vive em 27% do território, que mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população;
Rui Rio também sabe que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Mas também é evidente que Rui Rio sabe que ser amigo de quem está no poder, mesmo que seja um ditador, vale muitos votos e outros apoios contíguos.
Seja como for, Rui Rio não devia gozar com a nossa chipala nem fazer de todos nós uns matumbos. É que o MPLA não estará eternamente no Poder. E depois, como será?
Previsivelmente, a fazer fé nos múltiplos exemplos conhecidos, veremos Rui Rio dizer que, afinal, o MPLA era um partido cleptocrático e ditatorial, que afinal João Lourenço era uma besta e não bestial. É isso, não é Rui Rio?
Folha 8 com Lusa
Independentemente de quem estiver no poder em Portugal ou em Angola as relações de amizade e cooperação deverão ser de excelência. De momento quem detém o poder em Angola é o MPLA e em Portugal e o Partido Socialista (PS). Consequentemente, é com o MPLA que o PS terá que aprofundar essas relações, de molde a atingir a dita excelência. Sem mais. O resto é politiquice, intriga e luta pelo poder que, aliás, é salutar no combate democrático.