Na fogueira da vida, o sentido é definido por duas forças caracterizadoras: o fumo (sprint), significando o imediatismo, que se esvai no espaço e, a cinza (fundista), retida no chão é portadora da prudência e letalidade, capaz de curar e sujar.
Por William Tonet
A história do enclave de Cabinda confunde-se com a das reivindicativas elites políticas e intelectuais: mbindas e iombes, umas moderadas, outras radicais, face ao sonho de autonomia ou independência, a conceder ou reconhecer, por parte do governo central.
Na falta de diálogo, entre as partes beligerantes, a divergência dá azo à luta de guerrilha, capitaneada pela FLEC-FAC, oposta à clemência concedida, pelo regime, ao grupo de Bento Bembe, cujo carisma, apenas mobiliza franjas sociais, que não ultrapassam mais do que dez (10) Toyota Starlet.
Tanto assim é que os intelectuais mais representativos e carismáticos, que pensam pela própria cabeça, foram e são combatidos, ostracizados e discriminados, ao ponto de Cabinda, ser a única região proibida de criar associações cívicas.
A Mpalabamba foi, inconstitucionalmente, ilegalizada, levando à cadeia os seus mentores. Face aos excessos e ilicitudes, os lesados recorreram ao Tribunal Supremo, mas este, na visão partidocrata, engavetou qualquer decisão, faz dez anos.
Uma vergonha.
Face à boçalidade da acção do regime, a opção, para alguns, foi a continuarem a resistência, nos partidos políticos da oposição, como UNITA e CASA-CE, visando, quiçá, um melhor estudo sobre a idiossincrasia de um inimigo que domina todas as instituições e órgãos do poder de Estado. É desta forma que Agostinho Chicaia preferiu aliar-se à sociedade civil, ao passo que Raul Danda e Raul Tati tornaram-se membros e deputados da UNITA.
Antes, domados pelo cansaço, de muitos anos de guerrilha, no Galo Negro, António da Costa Fernandes e Miguel Zau Puna entregaram-se de corpo e alma ao MPLA, sobrava, qual Dom Quixote Imbinda, Casimiro Congo tentando mover todos os moinhos.
Deu corpo ao manifesto, foi alojado nas fedorentas masmorras do regime, excomungado “partidocratamente” da Igreja Católica, numa travessia, onde aqueles por quem muitas vezes colocou a cabeça na guilhotina, mostraram-se impotentes na manifestação de solidariedade, que o momento exigia.
Passaram os tempos e, na plenitude das suas faculdades mentais, desiludido e desencantado com a CASA-CE decidiu, defende, em nome da literacia dos povos, aceitar o desafio de gerir a Educação local.
Corajosa ou cobarde, a atitude do pároco tem mobilizado várias correntes pela ousadia, estando a ser “crucificado”, depois por subir e partilhar o palanque de um regime, que se mostra insensível em discutir os sentires e anseios de uma região, que representa 81% do Produto Interno Bruto angolano.
Por esta razão, mais do que as outras razões que levaram os demais intelectuais a imigrar, Casimiro Congo está a carregar a cruz de calvário e o epíteto de Judas do povo (ou será, povos) de Cabinda.
Julgamento justo ou injusto?
Em sã consciência, deve-se analisar o contexto e as razões da decisão tomada pelo prelado, em aceitar a pasta da Educação provincial, num contexto, por muitos considerado diferente, do anterior, com a única garantia de, ao aceitar, continuar a plantar flores libertárias, no seu torrão identitário.
Hoje, sem procuração do colectivo, Casimiro Congo, o ícone Mbinda agiu com pragmatismo pensando pela própria cabeça, tal como ontem o fez quixotescamente em nome do mesmo povo, que nos momentos decisivos, apenas sussurra nos bastidores e conforto das sanitas da casa de banho.
Finalmente se a João Lourenço foram concedidos 100 dias de graça, não será blasfémia fazer o mesmo a Casimiro Congo, antes de lhe arremessarmos pedras, esquecendo-nos de outros telhados de vidro.