Em Mbanza Congo agora apenas falta quase tudo

A cidade de Mbanza Congo, no norte de Angola, descerrou hoje, formalmente, a placa que passa a identificar o centro histórico, antiga capital do Reino do Congo, como património mundial da UNESCO, a primeira classificação do género no país.

A cerimónia, presidida pela ministra da Cultura de Angola, Carolina Cerqueira, incluiu a entrega oficial do diploma da classificação e aconteceu precisamente ao passar o primeiro aniversário daquela declaração, aprovada em 8 de Julho de 2017, na 41.ª sessão da Comissão de Património Mundial da Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em Cracóvia, Polónia.

No evento de hoje marcam presença vários membros do Governo angolano e do governo provincial do Congo Central, na República Democrática do Congo, área do antigo Reino do Congo.

O projecto “Mbanza Congo, cidade a desenterrar para preservar”, que tinha como principal propósito a inscrição desta capital do antigo Reino do Congo, fundado no século XIII, na lista do património da UNESCO, foi oficialmente lançado em 2007.

O centro histórico de Mbanza Congo, na província do Zaire, está classificado como património cultural nacional desde 10 de Junho de 2013, um pressuposto indispensável para a sua inscrição na lista de património mundial.

A candidatura de Angola destacava que o Reino do Congo estava perfeitamente organizado aquando da chegada dos portugueses, no século XV.

A área classificada envolve um conjunto cujos limites abrangem uma colina a 570 metros de altitude e que se estende por seis corredores. Inclui ruínas e espaços entretanto alvo de escavações e estudos arqueológicos, que envolveram especialistas nacionais e estrangeiros.

A inscrição da cidade de Mbanza Congo como património da humanidade implica a construção, até 2020, de um novo aeroporto, face à proximidade do actual aos locais históricos classificados pela UNESCO.

O novo aeroporto será construído em Nkiende, a 20 quilómetros do actual, ainda do tempo colonial português e consta do plano de investimentos públicos do Governo central, que, de resto, assumiu esse compromisso junto da UNESCO, para garantir a classificação.

Contudo, a obra ainda não foi lançada e, em caso de incumprimento das obrigações, até 2020, aquela área passa a ter a designação de património em risco, segundo informação transmitida pelas autoridades angolanas.

Desde logo, uma dessas ruínas, o túmulo da Dona Mpolo, mãe do rei D. Afonso I, enterrada com vida por desobediência às leis da corte, um local ainda hoje palco de vários rituais tradicionais, permanece intacto junto à pista do aeroporto, no centro da cidade, que entretanto deixou de receber voos regulares.

A pista do aeroporto está ainda junto ao Kulumbimbi, ruínas da sé catedral de Mbanza Congo, do século XVI, o primeiro templo católico construído a sul do equador, depois do contacto dos portugueses com o Reino do Congo, estando ao lado o cemitério dos reis, vestígios que integram a área alvo da classificação atribuída pela UNESCO.

Dividido em seis províncias que ocupavam parte das actuais República Democrática do Congo, República do Congo, Angola e Gabão, o Reino do Congo dispunha de 12 igrejas, conventos, escolas, palácios e residências.

O relatório votado há um ano pela Comissão de Património Mundial da UNESCO recomendava a colaboração com outros países na identificação de outros locais e pontos do interesse do antigo Reino do Congo e da rota dos escravos de África para a América, “com potencial” para ser inscrito na lista de património mundial.

O cemitério dos antigos Reis do Congo ou o museu, adaptado do antigo palácio daquela monarquia e que hoje guarda algumas relíquias seculares daquele povo, são outros espaços históricos, abrangidos pela classificação da UNESCO.

Mbanza Congo ficou conhecida à época pela difusão da escrita por ser a “cidade dos sinos”, face à conversão dos reis do Congo ao cristianismo introduzido pelos contactos com os portugueses.

Lusa

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