O Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu hoje que uma visita sua a Angola deve ser “a última etapa de um processo que está em curso”, actualmente ao nível ministerial. Ou seja, quando esta edição, revista e melhorada, do PREC (Processo Revolucionário em Curso) tiver o acordo do governo do MPLA, o que só será possível com a rendição (leia-se arquivamento de todos os processos contra as altas figuras do regime angolano) de Portugal.
Por Orlando Castro
O chefe de Estado português falava numa cerimónia sobre os seus primeiros dois anos em funções, que hoje se cumprem, na Sala de Jantar do Palácio de Belém, em resposta à comunicação social, que lhe perguntou se espera visitar Angola até final do seu mandato.
“Há etapas que têm de ser preenchidas. Eu penso que é muito importante a etapa que estamos a viver, que é a do relacionamento entre responsáveis governativos a nível ministerial”, começou por responder Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República salientou que se vai realizar no dia 27 deste mês, em Lisboa, uma conferência da iniciativa da Câmara de Comércio Portugal-Angola, com empresários portugueses e angolanos.
“Haverá membros dos governos dos dois países a falar de um dos domínios em que estamos e continuaremos sempre muito próximos”, referiu.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, “depois, haverá um passo seguinte, normal, que tem a ver com o poder executivo, que é o que respeita ao primeiro-ministro”.
“Portanto, eu penso que em termos lógicos a visita presidencial a Angola deve ser a última etapa de um processo que está em curso mas tem de seguir as várias etapas”, concluiu.
Como se sabe e como, aliás, já aqui foi escrito, Marcelo Rebelo de Sousa é o político português mais habilitado (a par do primeiro-ministro António Costa) para não só cimentar como também alargar as relações de bajulação e servilismo com o regime de Angola. Marcelo sabe que – do ponto de vista oficial – Angola (ainda) é o MPLA, e que o MPLA (ainda) é Angola. Portanto… Siga a fanfarra.
Angola é um dos países lusófonos com a maior taxa de mortalidade infantil e materna e de gravidez na adolescência, segundo as Nações Unidas. Mas o que é que isso importa a Marcelo Rebelo de Sousa? Importante é saber que o regime (pouco importa se José Eduardo dos Santos deu o seu lugar a João Lourenço) é um dos mais corruptos do mundo.
Aliás, muitos dos angolanos (70% da população vive na miséria) que raramente sabem o que é uma refeição, poderão certamente alimentar-se com o facto de assistirem um dia destes, ao vivo e a cores, ao beija-mão de Marcelo Rebelo de Sousa ao novo “querido líder”, João Lourenço.
Os pobres em Angola estão todos os dias a aumentar e a diminuir. Aumentam porque o desemprego aumenta, diminuem porque vão morrendo. Mas a verdade é que esses angolanos não contam para João Lourenço e muito menos contam para Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, Passos Coelho ou José Sócrates.
Marcelo Rebelo de Sousa sabe que o anterior presidente angolano esteve no poder durante 38 anos sem ter sido nominalmente eleito, tal como sabe que o actual lá quer ficar também muitos e muitos anos. Mas isso pouco ou nada importa… pelo menos por enquanto.
Portugal continua de cócoras perante o regime esclavagista de Luanda, tal como esteva em relação a Muammar Kadhafi que, citando José Sócrates, era “um líder carismático”. Talvez um dia Portugal chegue à conclusão que, afinal, Eduardo dos Santos também foi um ditador e que João Lourenço para lá caminha, se é que já não está lá.
Será que alguém vai perguntar a Marcelo Rebelo de Sousa o que pensa dessa farsa a que se chama democracia e Estado de Direito em Angola? Não. Basta ver que, mesmo antes de ser declarado vencedor das “eleições” do dia 23 de Agosto do ano passado, já João Lourenço era felicitado pelo Presidente da República de Portugal.
Certo será que, nesta matéria, Marcelo Rebelo de Sousa continua a pensar da mesma forma que Cavaco Silva, José Sócrates, Passos Coelho, Paulo Portas ou António Costa, para quem Angola nunca esteve tão bem, mesmo tendo 70% dos angolanos na miséria.
De facto, os portugueses só estão mal informados porque querem, ou porque têm interesses eventualmente legítimos mas pouco ortodoxos e muito menos humanitários. Marcelo Rebelo de Sousa não escapa à regra.
Custa a crer, mas é verdade que os políticos portugueses (com excepção dos do Bloco de Esquerda) fazem um esforço tremendo (se calhar bem remunerado) para procurar legitimar o que se passa de mais errado com as autoridades angolanas, as tais que estão no poder desde 1975.
Marcelo elogiado pelo emblemático… Kangamba
Recorde-se que, por exemplo, o general secretário do comité provincial do MPLA para a Organização Periférica e Rural, Bento dos Santos Kangamba, igualmente sobrinho de Eduardo dos Santos e intelectual de elevada craveira canina, elogiou a eleição nominal (coisa que em Angola nunca existiu) de Marcelo Rebelo de Sousa, apelando ao seu papel como “mediador” nas relações entre os dois países.
“Neste momento não temos que ter dirigentes com muito fogo-de-artifício entre os dois países e sim com calma e paciência para ultrapassarmos os problemas. Portugal não pode ser o país onde se criam problemas a Angola, mas onde se resolvem os problemas de Angola, espero esse papel de mediador dele”, disse o general num português que, compreensivelmente, teve de ser traduzido para… português pelos jornalistas.
Bento dos Santos Kangamba destacou também a “política muito madura” em Portugal, que “beneficia a democracia” do país, tendo em conta as eleições que deram a vitória a Marcelo Rebelo de Sousa.
“Vamos bebendo a experiência de Portugal, de democracia aberta”, apontou, deixando o desejo de ver Marcelo Rebelo de Sousa realizar uma visita de Estado (leia-se de bajulação) a Angola.
“Seria um muito bom sinal. Não tem como os portugueses estarem contra Angola, não tem como os angolanos estarem contra os portugueses. Nós estamos condenados a viver juntos, a estar juntos, é a mesma língua, vivemos juntos, sãs as mesmas famílias, os nomes são iguais”, recordou o general do clã Eduardo dos Santos.
“Quando se ganham umas eleições em Portugal, a primeira ligação que se tem de fazer é conversar com os dirigentes angolanos e criar aquele ambiente muito forte entre irmãos”, disse ainda o general Kangamba, certamente ciente de que – mesmo com a crise petrolífera – quando Angola espirra Portugal apanha uma pneumonia.
Numa altura de crise financeira, económica e cambial em Angola, decorrente da quebra da cotação do petróleo no mercado internacional, o alto dirigente do MPLA, partido no poder desde 1975, garante que a situação no país é “estável”. E se o general o diz é porque é… mentira.
“A situação está sob o controlo de um Governo democrático. O poder não se vai à força, o poder é aquilo que aconteceu em Portugal, quem ganha governa. Mas alguns partidos em Angola têm levado uma má-fama, mensagens negativas de Angola, fora do país e têm de rever as suas políticas”, criticou o sobrinho presidencial, fazendo uso do que lhe mandam dizer.
Portugal sempre submisso às ditaduras
No dia 27 de Novembro de 2015, o secretário-geral do MPLA, Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”, disse em entrevista/recado/encomenda à agência Lusa, esperar que o novo Governo socialista português “mantenha relações boas” entre os dois estados.
O dirigente angolano falava à margem da reunião anual da Internacional Socialista, em Luanda, encontro em que a comitiva portuguesa do PS foi aplaudida pelos restantes representantes da IS.
“As nossas relações entre povos, estados, não podem ser perturbadas, seja qual for a situação. Seja quem vier, quem estiver lá em Portugal a dirigir, nós teremos sempre as melhores relações com o Estado, Governo ou com o povo português”, afirmou Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”.
O secretário-geral do MPLA, partido no poder em Angola desde 1975, sublinhou que as relações com o PS “nunca foram más”, apesar da acção de algumas “alas”, mas algo que “já pertence ao passado”.
“Nós não damos muita importância àquilo que dizem contra nós. O que nós queremos é que quem estiver em Portugal tenha e mantenha relações boas com Angola. Existem relações entre nós, até quase familiares”, insistiu o dirigente do MPLA.
“Que haja um ou outro a querer problemas com Angola, nós não ligámos muito. O que importa a Angola é manter as mesmas relações que tivemos desde a nossa independência com Portugal. Seja quem estiver lá no Governo, que mantenha as melhores relações connosco”, enfatizou.
Questionado sobre a preocupação que algumas figuras do regime angolano têm demonstrado, publicamente, com a influência do Bloco de Esquerda, o secretário-geral do MPLA desvalorizou.
Em síntese, o MPLA quer que Portugal mantenha, ou aumente, o nível de bajulação ao “querido líder”, seja ele quem for. E isso vai necessariamente acontecer. O Parlamento português tem, no caso das relações com o regime do MPLA, uma esmagadora maioria de invertebrados bajuladores. PSD, CDS, PS e PCP fazem desse misto de sabujice e bajulação um modo de vida, uma forma de subsistência. A excepção é o BE.
E a cereja no cimo do bolo aconteceu com a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa. E ele não vai deixar os seus créditos por “sélfies” e abraços alheios.