No dia 12 de Janeiro de 2015 o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Rui Machete, reuniu-se com o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que anunciou o fim de um ciclo de mal entendidos entre os dois países.
Por Orlando Castro
Há poucos dias foi a vez do sipaio servil e bajulador ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, vir a Angola e, sem meias palavras, dizer: “O presidente José Eduardo dos Santos mandatou-nos a nós para acertarmos a data da visita do primeiro-ministro português a Luanda”.
Regressos (para não ir mais atrás) a Rui Machete que, feliz e não escondendo o alívio, afirmou ainda no Palácio Presidencial, em Luanda, que “o senhor Presidente disse algo que eu fiquei particularmente grato. Ele acentuou que se encerrava um ciclo em que tinha havido um ou outro mal-entendido e que agora as coisas estavam naturalmente límpidas e caminhando muito bem”.
Embora o então ministro português não seja propriamente uma fonte fidedigna quando reproduz o que, supostamente, ouve, é de crer que este beija-mão do governo de Lisboa tenha tocado bem fundo no coração de alguém que está no poder há 38 anos sem nunca ter sido nominalmente eleito.
O governante português iniciou nessa altura uma visita de dois dias a Angola, a primeira que realizava enquanto ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, assumindo o propósito encontrar “soluções cada vez melhores” nas relações entre os dois países.
Mesmo que nada mais tenha conseguido, o importante dessa missão de bajulação estava assente… enquanto o regime de José Eduardo dos Santos não resolvesse mostrar que, afinal, é ele quem manda.
Tudo indicava, e foi mesmo isso que aconteceu, que essa renovada lua-de-mel se manteria por bastante tempo até porque, de facto, Angola precisa da ajuda de Portugal para branquear o regime.
A visita de Rui Machete tinha em pano de fundo o anúncio, feito a 15 de Outubro de 2013 por José Eduardo dos Santos, do abandono do estabelecimento de uma parceria estratégica com Portugal.
Na altura estava agendada, para Fevereiro de 2014, uma cimeira entre os dois países, que já não se realizou e que continua sem qualquer data prevista.
“Isso aí é um problema que não é da minha competência, pronunciar-me sobre isso”, disse ainda Rui Machete no seu erudito português, questionado pelos jornalistas sobre um eventualmente reagendamento da cimeira.
É então que, com a mudança das moscas (tudo o resto ficou igual), entra em cena o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva.
Como aperitivo, Augusto Santos Silva considerou que a decisão do Presidente José Eduardo dos Santos, de não se recandidatar nas próximas eleições “é mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”.
Estar há 38 anos no poder sem nunca ter sido nominalmente eleito é também “mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”?
Dirigir um país rico que não soube gerar riquezas mas apenas ricos, estando no top dos mais corruptos do mundo é também “mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”?
Ser o país que, segundo a Organização Mundial de Saúde, tem a maior taxa de mortalidade infantil do mundo é também “mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”?
Ao mostrar que não gostou da acusação de corrupção activa e branqueamento feita por Portugal contra o vice-presidente Manuel Vicente, o regime resolveu mostrar a razão da sua força (na ausência da força da razão) adiando “sine die” a visita da ministra portuguesa da Justiça, Francisca Van Dúnem, José Eduardo dos Santos deu também “mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”?
A Freedom House demonstra, no seu último relatório, preocupação pela a influência de Angola (leia-se e entenda-se influência do regime angolano) nos meios de comunicação social portugueses. É também “mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”?
A Freedom House diz também que Angola é considerado um “país não livre”, denunciando perseguições a jornalistas, activistas políticos e líderes religiosos angolanos. É também “mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”?
O ministro Augusto Santos Silva, um dos mais emblemáticos perito dos peritos de toda a mixórdia política gerada em Portugal, afirmou também que “já era conhecida a vontade do Presidente de se afastar da vida política mais activa”, reiterando que “esse é mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”.
O nosso país tem 20 milhões de pobres. É de crer, fazendo fé na bajulação do ministro português, que este facto “é mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”.
Também “é mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”, saber-se que, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.
Ora aí está. Bons só mesmo os socialistas, sejam do PS ou do MPLA. Nem todos, mas sobretudo os que, por terem coluna vertebral amovível, veneram o líder… Todos os outros são uma escumalha que não merece sequer ser considerada como portuguesa… ou angolana.