O presidente da UNITA e candidato às eleições presidências, Isaías Samakuva, disse esta sexta-feira que não quer governantes portugueses a visitar Angola antes da conclusão do processo eleitoral agendado para Agosto, ao contrário do sucedido em 1992, 2008 e 2012. Faz muito bem. O MPLA não precisa de mais apoiantes no terreno. Continua a tê-los em Portugal, mas sempre estarão longe.
Por Orlando Castro (*)
No início de um roteiro que abrange também Espanha e França para apresentar a sua candidatura, o líder do partido do “Galo Negro” apelou, na cidade do Porto, a uma postura “equidistante” portuguesa num processo em que pode vir a desempenhar “um papel fundamental”.
“Verificámos em três pleitos eleitorais -1992, 2008 e 2012 – que na aproximação da campanha eleitoral dirigentes políticos portugueses visitaram Angola e saíram com discursos laudatórios sobre quem estava a governar o país”, lembrou Isaías Samakuva.
E prosseguiu: “Naturalmente que quando faltam dois ou três meses para as eleições e vem uma entidade estrangeira e diz que o governo está bom e que está tudo bem, está a dizer ao eleitor que não há razões para mudar de governo”.
“Quisemos desta vez transmitir por portas travessas que os governantes portugueses não deviam visitar agora Angola, mas que o façam depois das eleições”, manifestou.
No dia em que chegou ao Porto, o político angolano deixou ainda um conselho aos governantes portugueses sobre o processo que se concluirá com a eleição do sucessor de José Eduardo dos Santos na presidência de Angola.
“Pensamos que, desta vez, Portugal devia desempenhar, em primeiro lugar, um papel de equidistância e em segundo devia ajudar Angola a organizar um processo credível”, disse. Samakuva continua a acreditar no Pai Natal. Tem, obviamente, esse direito.
Samakuva salientou que os processos eleitorais ocorridos em Angola “têm sido todos fraudulentos” e que, “muitas vezes, os países europeus ficam indiferentes a essas situações”. Mais uma prova da santa ingenuidade da UNITA. “Muitas vezes”? Sempre seria a palavra adequada.
“Desta vez temos vindo a insistir junto da União Europeia e das autoridades angolanas para que o país se abra para uma observação que possa no final do processo dizer que houve o cumprimento da lei”, salientou.
E continuou: “Portugal pode ser um facilitador disso mesmo. O papel de Portugal pode ser muito importante, até mesmo fundamental, porque as relações que tem com o governo angolano permitem exercer uma influência positiva para que este processo eleitoral seja credível”. Lá no fundo, Samakuva não acredita no que diz. Mas, como sempre, aposta nos discursos politicamente inofensivos, não vá o regime ficar zangado.
Samakuva entende que o povo angolano “está cansado e à espera que seja um processo transparente”, até porque se o contrário acontecer, prevê que aconteça “alguma turbulência”. Alguma turbulência? Nem pensar. Em termos práticos, fazendo fé nos exemplos de passividade atávica que tem dado aos angolanos, a UNITA não enfrenta o MPLA. Entre a certeza da lagosta e o espectro da mandioca, a escolha é fácil.
“Ela (a turbulência) não virá nem da UNITA nem de outros partidos políticos, mas do cidadão comum que ao não ver uma mudança a realizar-se na Angola pode vir para as ruas protestar”, disse. É verdade. Como sempre tem acontecido, quem dá o corpo ao manifesto sãos os cidadãos mais ou menos anónimos, mantendo-se os partidos da oposição no recato dos seus gabinetes. Aliás é bem provável que Samakuva odeie todos aqueles que, citando Jonas Savimbi, vão lembrando que mais vale ser livre de barriga vazia do que escravos com ele cheia.
Os angolanos continuam sem saber se qualquer reflexão que ultrapasse o círculo de bajuladores de Isaías Samakuva (é tal e qual o que se passa com Eduardo dos Santos) serve para acordar aqueles que sobrevivem com mandioca ou, pelo contrário, apenas se destinam a untar o umbigo dos que se banqueteiam com lagostas em Luanda.
Perante os sucessivos desastres eleitorais (e no próximo será pior), Isaías Samakuva continua a querer ir de derrota em derrota até à…. derrota final. Limita-se a posições cosméticas para tudo ficar na mesma. Não percebeu, afinal, que a UNITA enquanto principal partido da Oposição está em cima de um tapete rolante que anda para trás. Por isso limita-se a andar. E, é claro, fica com a sensação de estar a ganhar terreno mas, no final de contas, está sempre no mesmo sítio. Jonas Savimbi dir-lhe-ia, certamente, isto de forma mais assertiva.
Isaías Samakuva é o líder que os militantes querem. Não é de crer que seja a alternativa que os angolanos gostavam de ter. Longe disso. Ao contrário de Jonas Savimbi que, mesmo errando muitas vezes, agia, Samakuva limita-se a reagir e a muito custo. Em vez de entender a mensagem, manda “abater” o mensageiro.
Ninguém melhor do que Samakuva para saber se a UNITA vai conseguir viver sem comer. UNITA no sentido dos homens e mulheres que tinham orgulho no Galo Negro que transportavam no peito. Um dia destes, talvez já este ano, o MPLA virá dizer, com uma lágrima no canto do olho (sorridente) que exactamente quando estava mesmo, mesmo quase a saber viver sem comer, a UNITA morreu.
A UNITA, e nisto é igual ao MPLA, prefere ser assassinada pelo elogio do que salva pela crítica. E quando assim é… não há memória que a salve, nem mesmo a do Mais Velho.
O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não viu, não vê e assim nunca verá na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida, entre muitos outros, por Jonas Savimbi, António Dembo, Paulo Lukamba Gato, Alcides Sakala, Samuel Chiwale Jeremias Kalandula Chitunda, Adolosi Paulo Mango Alicerces e Elias Salupeto Pena.
Terá sido para isto que Jonas Savimbi lutou e morreu? , perguntam muitos angolanos das gerações mais velhas. Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus muitos erros, de nada tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o partido.
Será que a UNITA não enterrou, depois da morte de Savimbi, o espírito que deu corpo ao que se decidiu no Muangai em 13 de Março de 1966?
Foi do Muangai que saíram pilares como a luta pela liberdade e independência total da Pátria; Democracia assegurada pelo voto do povo através dos partidos; Soberania expressa e impregnada na vontade do povo de ter amigos e aliados primando sempre os interesses dos angolanos.
Foi de lá que também saíram teses sobre a defesa da igualdade de todos os angolanos na Pátria do seu nascimento; busca de soluções económicas, priorização do campo para beneficiar a cidade; liberdade, democracia, justiça social, solidariedade e ética na condução da política.
Alguém, na UNITA, se lembra hoje de quem disse: ”Eu assumo esta responsabilidade e quando chegar a hora da morte, não sou eu que vou dizer não sabia, estou preparado”?
(*) Com Lusa