Tanto João Lourenço como Bornito de Sousa, especialmente o primeiro, pela responsabilidade da posição, como candidatos a presidente e vice-presidente por um MPLA, eventualmente, vencedor ou não, das próximas eleições, reúnem, sob o meu ponto de vista, pressupostos necessários, entre outras alternativas possíveis.
Por Marcolino Moco
Só espero (e digo isso a partir de experiências anteriores) que, para justificar (in)esperados recuos, não se venha insinuar, em determinada altura do “campeonato”, que um ou outro, afinal, não são tão imaculados como deviam, como se vivêssemos num mundo feito de anjos.
Na verdade esta mudança geracional ou pessoal, dentro de um partido que desde a independência não libertou, como devia, o poder para a sociedade (não confundir isso com vitórias eleitorais), há muito se fazia sentir (veja-se o caso chinês, de Deng Xiauping para cá). Assim, não me resta outra posição senão a de saudar a (desta vez sim) sábia decisão (embora desnecessariamente tardia) do Presidente, e, deixar expresso o meu voto de sucessos aos novos candidatos.
Ainda na primeira parte deste meu post, em que não ataco a questão fundamental, cumpre-me referir que o resto da lista de candidatos do MPLA, destas que serão ainda as estranhamente “atípicas” eleições presidenciais-legislativas ou legislativas/presidenciais, apresenta-me o seguinte problema: não estaremos novamente perante uma, desta vez muito acentuada, forma de engolir ou neutralizar as poucas vozes minimamente críticas ou ao menos com algum bom senso, dentro e até fora do partido no poder? Sem já falar na questão referida por alguns comentadores, com toda justeza, da desertificação do já tão frágil tecido académico! Que bom seria se estivesse a enganar-me?
Agora vem, efectivamente, a questão fundamental. A vida ensina-nos que colocar o acento tónico na vitória eleitoral e depois numa disciplina partidária que naturalmente só olhará para os interesses, muitas vezes cegos dos vencedores, é o que está a destruir o futuro do nosso país (digamos, dos nossos países, por tratar-se, afinal, de um problema africano). Neste aspecto, o maior problema que José Eduardo dos Santos deixará sobre os ombros de João Lourenço ou de hipotético vencedor por parte da oposição, não é, como é opinião legítima de muitos, a conjuntural e grave situação económico-social (para mim, apenas uma consequência).
No meu ponto de vista, o desmantelamento pacífico, sem vinganças ou outro tipo de caça às bruxas (que tanto têm encurralado soluções viáveis para os casos africanos) da instituição monárquica absolutista montada pelo “santismo”, onde todos os poderes gravitam a volta de uma pessoa e da sua família, por meio do Executivo, a que obedece, quase cegamente, o poder judicial nas questões fundamentais, coexistindo com um parlamento emudecido ou só barulhento para aplaudir as exorbitâncias do Executivo e do Judicial, tudo isso cimentado por um dominado “quarto poder” que consiste numa comunicação social comandada a partir da Presidência da República.
Isto é que é o maior problema. Porque está anulado todo um sistema de auto-regulação de um estado democrático e de direito, nas condições do continente africano. Por isso as consequências têm sido terríveis, desde logo, na questão da corrupção que existe em todo lado mas que só em Angola, segundo pensam alguns “peritos”, não deve ser questionada, quando praticada nos escalões mais altos (compare-se com os casos no judiciário português e brasileiro, alguns até com conexões angolanas); passando-se pelo drama sanitário e ou de saúde pública, antes e depois da crise petrolífera; ande-se pelo carácter descartável dos nossos asfaltos, nas vias principais (não falemos das secundárias e terciárias quando não se quer implantar o poder autárquico, por nada deste mundo, sem que antes se garanta o seu controlo pela monarquia); bom, provavelmente ainda não chegamos aos piores momentos do “mobutisme” em tantas coisas; mas terminemos na qualidade da nossa educação e ensino, cujo sector superior leva agora, certamente, mais uma cajadada da demagogia política, lá onde já a discriminação político-ideológica faz escola, afastando de alguns cursos e instituições, certas caras inconvenientes, à boa maneira colonial.
Se o que estiver em jogo for apenas uma mudança de “dinastia” que nesse caso seria controlada pela anterior, mantendo-se o sistema monárquico absolutista de face republicana, tudo continuará na mesma e não teremos razões para comemorar, o que quer que seja. Daí a necessidade, ainda, de um longo trabalho para fortalecer o sentido ao mesmo tempo pacífico e crítico da sociedade civil, já que, como lhes cabe, os partidos políticos vão agora partir para a vertiginosa corrida para as eleições lesgislativo-presidenciais ou presidenciais/legislativas.