Era uma vez uma… CASA

A CASA-CE prefere ser salva pela crítica ou assassinada pelo elogio? É a ética que deve dirigir a política? As batalhas ganham-se ou perdem-se por causa dos generais ou por causa dos soldados? Importantes são os que estão na primeira fila (para serem vistos) ou os que estão na última (para verem)?

Por Orlando Castro

Os resultados das anteriores eleições (e tudo leva a crer que nas do próximo dia 23 o resultado será… pior) não revelaram propriamente a CASA-CE como alternativa. Foram, importa que todos o reconheçam, um reconhecimento da cristalização da UNITA. É claro que, como dizia o Presidente Jonas Savimbi (e Abel Chivukuvuku ouviu-o dizer isso muitas vezes), só é derrotado quem deixa de lutar. Seria, por isso, legítimo esperar que a CASA-CE continuasse a lutar, não pelas lagostas (como a UNITA) mas pela mandioca. Ledo engano.

Mas a luta, a luta necessária em prol do povo angolano, não se faz contra travessas cheias de lagosta. Faz-se junto dos que, com alguma sorte, encontram mandioca nas lavras. Abel Chivukuvuku sabe disso e Isaías Samakuva também. Mas…

Embora seja ponto assente que haverá fraude, manipulação e outros estratagemas por parte do MPLA, desde 1992 que todos sabíamos que isso voltaria a acontecer logo que houvesse eleições. E se durante a guerra não foi possível pensar nisso, os últimos 15 anos de paz deram, deveriam ter dado, tempo para que a UNITA primeiro e a CASA-CE depois se preparassem para o que já se sabe que irá repetir-se.

E, mais uma vez, o exemplo deve partir de cima. Não basta que Isaías Samakuva e Abel Chivukuvuku voltem a assumir a responsabilidade política pela derrota. Até porque eles não serão derrotados. Derrotados serão os angolanos que são gerados com fome, nascem com fome e morrem, pouco depois com… fome. Eles deviam dar o exemplo. Exemplo ético de quem mandou o seu “exército” pela picada errada, de quem promoveu familiares, de quem preferiu a subserviência à competência.

Aliás, se a UNITA e a CASA-CE responsabilizassem quem falhou, por muita honestidade que tivessem posto na luta, estaria a dar um bom exemplo aos angolanos para que estes percebessem que, afinal, existe uma substancial diferença entre a democracia que a UNITA e a CASA-CE defendem e a que é imposta pelo MPLA.

É que, no tal contexto da ética, Samakuva e Chivukuvuku e os seus pares não podem dizer que Eduardo dos Santos devia ser substituído porque cometeu muitos e graves erros (que de facto cometeu) e, apesar de terem também cometido muitos e graves erros, quererem continuar no poder como se nada se tivesse passado.

Não podem, como aqui recordou hoje o Sedrick de Carvalho, manter o “que disseram sobre a nomeação de Isabel dos Santos para PCA da SONANGOL, Filomeno dos Santos para PCA do Fundo Soberano, ou Welwitchia dos Santos e José dos Santos «Coreon Du» como gestores do canal 2 da TPA”.

E se a UNITA e a CASA-CE querem ser diferentes (para muito melhor, entenda-se) do que o MPLA, não podem usar a máxima “olhai para o que dizemos e não para o que fazemos”. Não podem inundar as listas de candidatos às eleições com a família e, ao mesmo tempo, acusar do MPLA de privilegiar os familiares dos seus dirigentes.

Importa igualmente recordar agora, e mais uma vez, que Samakuva e Chivukuvuku afastaram (mesmo que tenha sido por omissão) da direcção dos seus partidos quadros que constituíam não só mas também a nata da sociedade angolana. A tendência para substituir a competência pela subserviência é sempre sinónimo de desastre. Muitas vezes de catástrofe.

Chega agora a campanha eleitoral que, mais uma vez, revela a aposta em gente de boa vontade mas de nula competência ou experiência. No caso da CASA-CE, ver Justino Pinto de Andrade atrás da esposa de Abel Chivukuvuku e até de Lindo Bernardo Tito é mais ou menos como querer caçar elefantes com uma fisga. Será, infelizmente, caso para dizer que a CASA-CE vai de derrota em derrota até à derrota final.

Abel Chivukuvuku esquece-se, volta a esquecer-se, ou deram-lhe informações erradas, que a competência ou a experiência não se conseguem por decreto nem são resultado de laços familiares ou de índices de bajulação.

Farto de ver a UNITA a autodestruir-se, Abel Chivukuvuku partiu para outra luta, liderando a CASA-CE. Fê-lo porque entendeu que a UNITA não era uma força com a necessária dinâmica de vitória para enfrentar o MPLA. E tinha razão. Mas, afinal, está a cometer os mesmos erros para gáudio dos seus adversários, nomeadamente do MPLA.

A seriedade, honestidade e patriotismo de Abel Chivukuvuku não são suficientes para lutar contra uma máquina que está no poder em Angola desde 1975. Chivukuvuku poderia lá chegar. Pena é que tenha preferido as ideias de Poder em vez do poder das ideias.

“Depois de ter avaliado o contexto que Angola vive – em que não está claramente visível que hoje somos uma alternativa ganhadora – e consultado vários colegas de direcção do partido e militantes, tomei a decisão consciente de candidatar-me com um único propósito: fazer da UNITA uma efectiva alternativa que possa ganhar as eleições em 2008 e instaurar em Angola um modelo positivo de governação”, afirmou em Janeiro de 2007 Abel Chivukuvuku.

Não ganhou a liderança da UNITA e formou o seu próprio partido. Hoje é claramente um líder rodeado da fariseus que o elogiam e abraçam pela frente mas que o criticam e apunhalam pelas costas. Acomodou-se. Perdeu e, mais do que isso, corre o sério risco de ser politicamente humilhado. Se tal acontecer verá que o exército de supostos amigos… deixou de existir.

Em 2017 tudo está na mesma. A UNITA e a CASA-CE continuam a ser lideradas por gente séria, honesta e patriótica mas que não consegue pôr o país a mexer, não temendo dizer as verdades que os angolanos querem ouvir, não temendo dizer quais são as soluções necessárias para que Angola deixe de ser apenas o reino esclavagista do MPLA.

“Por norma eu não entro em coisas que não têm pernas para andar. E se as pessoas me viram a anunciar que sou candidato é porque houve um tempo de maturação, houve um tempo de análise, houve um tempo de estudo, houve um tempo de consulta, houve um tempo de preparação”, dizia há dez anos Abel Chivukuvuku.

E então, em 2017, onde estão as pernas da CASA-CE? Na família? Nos bajuladores? Nos mercenários? Nos que têm de se descalçar para contar até 12?

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3 Thoughts to “Era uma vez uma… CASA”

  1. Elias Chivangulula

    Por favor, senhor presidente Chivukuvuku, não façam da CASA-CE a vossa igreja, onde familiares serão beneficiados como faz o MPLA. Retirem imediatamente os vossos familiares de primeiro até terceiro grau, com vossos sobrenomes, cônjuges das listas de candidatos à deputados. Assim fica claro que quando vos tornardes poder, a Intenção é roubar também a vossa parte. Mas, é importante também chamar a atenção que se os angolanos não prestam no MPLA, não prestam na UNITA, não prestam na FNLA, não prestam no PDPANA , e agora não prestam na CASA-CE, são covardes, trambiqueiros e confusionistas, reconheçamos que algo está mal no DNA do angolano, no dono do jornal, no editor da matéria. Chivukuvuku tem feito o melhor que pode, a sua parte, e ele é honesto, mas não é um anjo. Já a maioria dos angolanos está sempre preparada com pedras na mão para alvejar quem ousa fazer alguma diferença. Isso é triste. Quando acertamos poucos, muito poucos aplaudem. Mas se algum erro for cometido, todos estarão a espera na primeira esquina para puxar o nosso tapete. Desse jeito não vamos a lado nenhum. Temos que apoiar o presidente Chivukuvuku e lutar ao seu lado para aprimorar a CASA-CE, porque é um partido muito jovem.

  2. André

    A CASA Partido no qual tínhamos alguma esperança, esta simplesmente a nos desiludir

  3. Gustavo Panzo

    Quando esta coligação apareceu parecia-me muito séria, devido as suas políticas apresentadas, mas ao longo dos dias fui percebendo que não era aquilo que eu pensava que fosse a coligação mais organizada do mundo.

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