Praticamente 93% das exportações angolanas em 2016 foram de petróleo bruto, que aumentaram mais de 3.500 milhões de euros face a 2015, mas o país ainda necessitou de importar produtos agrícolas, que representam 10% do total. E assim também se vê o que o MPLA fez a Angola nos últimos 42 anos.
Os dados constam do anuário do comércio externo de 2016, elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), sendo que em todo o ano as vendas de crude ao exterior ascenderam a 4,466 biliões de kwanzas (24,1 milhões de euros), um aumento homólogo de 17%.
Angola continua desta forma fortemente dependente das receitas com a exportação de petróleo, apesar do crescimento que o sector agrícola tem registado. De 2015 para 2016, as exportações de produtos agrícolas aumentaram 44,79%, mas não passaram dos 17.858 milhões de kwanzas (96,5 milhões de euros), equivalente a uma quota de 0,37% do total.
Em Maio de 2016 foi exportado um lote de 17 toneladas de bananas de Angola, a partir do porto do Lobito, para Portugal, mais de 40 anos após a última venda angolana desta fruta para a Europa. Para mais esclarecimentos basta ver os dados relativos ao período que antecedeu a tomada do poder pelo MPLA.
Por mera curiosidade registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1973, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia.
Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e Sã Tomé e Príncipe.
Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.
Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.
Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.
Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.
A banana foi proveniente da tradicional região do Culango, da fazenda agro-industrial Bacilin, província de Benguela, e foi embarcada ainda verde, após garantida a certificação pelos dois países.
Trata-se de um principais produtos de aposta para exportação em Angola, nomeadamente a originária das províncias do Bengo e de Benguela, que já é exportada para a República Democrática do Congo, e trocas comerciais reforçadas já em 2017, com outros produtores a venderam para a Europa.
No plano inverso, e apesar das conhecidas (por todos, com excepção dos peritos políticos do regime) potencialidades agrícolas, 10,44% do volume de importações angolanas foram de produtos agrícolas, no valor de 211.270 milhões de kwanzas (1.140 milhões de euros), uma quebra de 4,32% face a 2015.
Apesar de ter sido o maior produtor de petróleo em África durante o ano de 2016, com cerca de 1,7 milhões de barris por dia, a reduzida capacidade de refinação de Angola obrigou à importação de 121.821 milhões de kwanzas (quase 660 milhões de euros), um peso de 6% do total das compras angolanas ao exterior, representando, ainda assim, uma quebra de 26,85% face ao total do ano de 2015.
A importação de produtos alimentares desceu 22,89% em 2016, para 103.644 milhões de kwanzas (560,5 milhões de euros), equivalente a 5,12% do total.
Globalmente, as exportações angolanas aumentaram 18,76% em 2016, para um volume de negócios total de 4,803 biliões de kwanzas (25,9 mil milhões de euros), enquanto as importações caíram 22,37%, para 2,024 mil milhões de kwanzas (10,9 mil milhões de euros).
Em 2016, a balança comercial de Angola, incluindo ainda reimportações e reexportações, registou um saldo positivo de 2,779 biliões de kwanzas (15 mil milhões de euros), praticamente o dobro face ao resultado de 2015.
Quando, em Fevereiro de 2014, o ministro da Economia, Abrahão Gourgel, inaugurou em Luanda a primeira fábrica de alimentos compostos para animais, na fazenda Pérola do Kikuxi, ficou a saber-se que que iria aumentar substancialmente a produção de ovos em Angola.
Finalmente, pensou-se, o país compreendeu que a mulher mais rica de África, a multimilionária Isabel dos Santos, tinha razão quando, ainda criança, começou a vender ovos nas ruas de Luanda.
Assim, na altura, a aposta sai reforçada com a promessa, já então velhinha, de que era urgente diversificar a economia. Assim, a Angolaves queria voltar a ser líder na produção de ovos, numa altura em que intensificava a produção de milho, bagaço de soja, farinha de peixe, ração e pintos e tinha um aviário que albergava 15 naves onde se encontravam cerca de 336 mil aves.
Há quem diga que, afinal, Isabel dos Santos (a princesa do clã de sua majestade o rei emérito José Eduardo dos Santos) teve e tem um sucesso estrondoso não pelos ovos mas pela proximidade em relação ao poder, sobretudo no que diz respeito ao acesso aos negócios. Más línguas. Aliás, a escolha para PCA da Sonangol, pelo seu pai, foi prova disso…
“O que explica o sucesso de Isabel dos Santos, assim como outras entidades, não só em Angola, é a proximidade do poder para os negócios. Não são precisos meios obscuros, basta o acesso aos negócios”, afirmou em 2015 Filipe S. Fernandes, autor do livro “Isabel dos Santos — Segredos e poder do dinheiro”.
Regressemos a Fevereiro de 2014. “São projectos como estes que permitem impulsionar a nossa economia e melhorar os níveis de produção interna, reduzindo as importações”, referiu o ministro Abrahão Gourge que, por lapso, se esqueceu também de referir que este sinal de progresso se deve ao espírito estratégico e inovador de sua majestade o rei emérito José Eduardo dos Santos.
Na mesma ocasião, o consultor do ministro da Economia, Licínio Vaz Contreiras, disse que o programa “Angola Investe” previa atingir 70% das necessidades do mercado em ovos até final do ano (2014). Provavelmente com algumas modificações genéticas as galinhas produziriam ovos com as diferentes marcas comerciais e, quem sabe, até com as cores do proprietário ou do Governo.
“Em 2012, quando visitámos a fazenda Pérola do Kikuxi, existiam apenas 25 mil galinhas em crescimento, hoje 200 mil galinhas geram um ovo por dia”, afirmou Licínio Vaz Contreiras, descobrindo – o que importa realçar – um verdadeiro ovo de Colombo.
E acrescentou que “esta unidade fabril começa a resolver a cadeia de produção de ovos e frangos, que para nós constitui um grande impulso ao sector aviário”. Talvez assim, nas zonas mais inóspitas, possamos ver as jovens de cesto na mão a vender os ovos nas picadas, procurando um dia serem também milionárias.
Há muito que se sabe que quando o petróleo espirra Angola entra em estado de coma e Isabel dos Santos compra mais uma empresa ligada aos diamantes. Mesmo assim, os peritos dos peritos do regime olham sempre para o lado, não vão ser contaminados com essa epidemia da diversificação da economia.
As ligações económicas de Angola ao petróleo ilustram, aliás, um problema mais amplo em África; as nações produtoras que ligaram as suas fortunas exclusivamente ao crude encontram-se agora reféns da turbulência dos preços, correndo muitas o risco de um desastre colectivo de larga escala.
Como antídoto, o regime angolano esperava que novos empréstimos e investimentos da China, o maior parceiro comercial de Angola, conseguissem ajudar a conduzir a economia dependente do petróleo por entre as águas revoltas. Mas essa opção não está a resultar e o barco mete água por todos os lados.
Do ponto de vista da propaganda, Luanda e Pequim apresenta-se ao mundo como “irmãos e parceiros estratégicos de longo prazo”. No entanto, a verdade é que os importadores angolanos estão agora em dificuldades para pagar artigos básicos como medicamentos ou cereais.
Folha 8 com Lusa
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