O filme “A Ilha dos cães”, do realizador português Jorge António e rodado parcialmente em território angolano, vai ser exibido publicamente em Angola pela primeira vez na quarta-feira, na abertura do primeiro Ciclo de Cinema Messu, em Luanda.
Em exibição em Portugal desde 20 de Abril, “A Ilha dos cães”, que inclui uma das últimas interpretações do actor Nicolau Breyner, é uma adaptação do romance “Os senhores do areal”, do escritor angolano Henrique Abranches, uma ficção passada em São Tomé e Príncipe e Angola, ancorada em diferentes períodos históricos, abordando a escravatura e a descolonização.
Contudo, em Angola, nenhuma empresa de distribuição se mostrou disponível para avançar com a exibição do filme, que refere na sua sinopse retratar o país no período colonial e na actualidade, em salas de cinema da rede comercial.
A exibição do filme “A Ilha dos cães”, rodado em Luanda e no Namibe, na abertura do primeiro Ciclo de Cinema Messu, intitulado “Independência e os filhos da Independência”, acontece no auditório do Banco Económico, em Luanda, na quarta-feira, pelas 18:30.
Será assim a ante-estreia em Angola e contará com a apresentação do filme pelo realizador Jorge António, na presença do actor angolano Miguel Hurst, que integra o elenco, informou a organização do evento, que se prolonga até Julho.
“Messu” é a desconstrução da palavra Jikulamessu, que na língua nacional angolana quimbundo significa “ver” e o ciclo de cinema pretende, segundo os promotores, “assumir um papel no desenvolvimento e promoção do cinema, pela sua enorme riqueza, diversidade e potencialidade ao mesmo tempo que estabelece uma visão contemporânea de Angola e serve como mecanismo de apoio à produção nacional para o incentivo à execução de projectos artístico-culturais”.
“É uma proposta de promoção, reflexão e discussão em torno da criação cinematográfica angolana no mapa da modernidade e internacionalização artística dos séculos XX e XIX”, acrescenta a produção, a cargo da This is Not a White Cube (TINAWC).
Além da ante-estreia – e outra exibição em Agosto – da longa-metragem “A Ilha dos Cães” de Jorge António, serão ainda apresentados filmes históricos de Sarah Maldoror e António Ole, sessões com filmes de autores representantes do cinema angolano como Orlando Fortunato, Mariano Bartolomeu, Ruy Duarte, Ademir Ferreira, Maria João Ganga e de jovens promissores no panorama nacional.
Há ainda um fio narrativo de fantasia, a partir da presença de uma misteriosa e assassina matilha, numa ilha onde vivem sobretudo pescadores, ameaçados pela construção de um empreendimento turístico.
Em Abril, o realizador Jorge António revelou que não conseguia arranjar sala para o mostrar o filme aos angolanos, acrescentando que “o mais chato é que alguém tomou as decisões com base em dois parágrafos de uma sinopse e num trailer de dois minutos. Nem tiveram a decência de ver o filme.”
Carlos Almeida, director da ZAP Cinemas, disse que não tem salas disponíveis para mostrar “A Ilha dos Cães”, referindo que “a data de estreia não foi a melhor. Eu só tenho um cinema com seis salas… E com as estreias de ‘Velocidade Furiosa’ e do filme do Van Damme, que aqui corre sempre bem, não tinha escolha. Para mim é uma questão de rentabilização.”
Outro exibidor angolano, o Cinemax/Grupo Zahara, nem sequer justificou as razões do veto a este filme, levando a produtora Ana Costa a dizer que a situação lhe parece “inexplicável”.
Folha 8 com Lusa