João Lourenço, ministro da Defesa de Angola – por sinal também candidato do MPLA às eleições previstas para Agosto – disse hoje, na província do Huambo, que a paz e a reconciliação nacional permitiram ao Governo “trabalhar seriamente” para a melhoria de vida dos angolanos, contudo, “longe de satisfazer todas as necessidades”.
Não tivessem estas mensagens sido previamente aprovadas por sua majestade o rei de Angola, até se era tentado a dizer que João Lourenço “Malandro” estava a passar um atestado de incompetência a José Eduardo dos Santos por, nos últimos 15 anos, ter ficado “, “longe de satisfazer todas as necessidades” dos angolanos.
Mas não. Tudo faz parte de uma encenação eleitoral que pretende enganar, tal como aconteceu nos últimos 41 anos, os 20 milhões de angolanos pobres. É fartar vilanagem!
João Lourenço “Malandro”, que falava em representação do chefe de Estado no poder há 38 anos sem nunca ter sido nominalmente eleito, discursava hoje no acto central alusivo aos 15 anos do fim da guerra em Angola (paz é outra coisa), depois de décadas de guerra que o país enfrentou.
No seu discurso, o ministro/candidato descreveu todos os benefícios que o país conheceu desde a paz, em 2002, em todos os sectores da vida social e económica. Esqueceu-se, é claro, de reconhecer que Angola está no top dos países mais corruptos do mundo e lidera o “ranking” mundial da mortalidade infantil.
Segundo João Lourenço, a satisfação plena de todas as necessidades da “grande maioria da população” não foram ainda atingidas, devido “ao elevado crescimento demográfico, agravado com a crise resultante da baixa dos preços do principal produto de exportação, o petróleo bruto”.
Registou-se, de facto, um crescimento demográfico, apesar de muitos desses angolanos terem sido gerados com fome, nascerem com fome e morrem pouco depois com… fome. Utilizar isso como desculpa é de uma atroz mesquinhez e de um nanismo civilizacional só comparável ao que se passa na Guiné Equatorial e na Coreia do Norte.
Quanto à crise petrolífera, ela aconteceu há três anos e não há 15, data em que o regime assassinou aquele que considerava como a única fonte de todos os problemas e males do país, Jonas Savimbi. É mais uma porca e criminosa mentira que se junta a um manancial de outras que nos são contadas desde 1975.
“Os angolanos que acreditaram ser possível ultrapassar as nossas diferenças e fazer a paz já demonstraram serem também capazes de construir um futuro melhor”, sublinhou João Lourenço “Malandro”. O ministro/candidato ou o candidato/ministro sabe bem que o conceito de paz do MPLA se resume à imposição aos opositores políticos e sociais da subserviência e da bajulação perante o regime.
Na sua intervenção, o titular da pasta da Defesa de Angola e cabeça-de-lista do MPLA lembrou que este ano o país realiza eleições, acto normalizado “com a paz e a estabilidade que o país alcançou”. Normalizado? Só mesmo um Malandro seria capaz de querer passar-nos tamanho atestado de estupidez.
“Normalizamos o calendário de realização de eleições periódicas em cada cinco anos, estando previstas para Agosto do corrente ano, aquelas que serão as quartas eleições, após o estabelecimento da democracia e do multipartidarismo no nosso país”, frisou.
Bom. Diz o ministro da Defesa e corrobora o candidato do MPLA que o calendário eleitoral está normalizado. Ora então, se o calendário está normalizado, porque é que – em Abril – ainda se faz o discurso de – sic – “estando previstas para Agosto”?
João Lourenço exortou todos os actores políticos, os partidos políticos, o povo em geral, “a participar desta grande festa da democracia, com civismo e alto sentido de responsabilidade para a eleição do partido político e do Presidente da República, que assumirão a grande responsabilidade de dirigir os destinos de Angola, nos próximos cinco anos”. É uma exortação do ministro ou do candidato? Isso não interessa. Ética e moral são valores que não constam do dicionário, muito menos da prática, do MPLA.
“Estamos confiantes, inspirados na sabedoria dos nossos antepassados, na fé e no patriotismo dos angolanos, que vamos realizar eleições livres e justas, onde todos os eleitores conscientemente terão a oportunidade, a liberdade de decidir pelo futuro de Angola”, concluiu o Malandro.