Não estará na altura de o Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, “cobrar” as “relações intensas” entre Portugal e Angola que o levaram a felicitar o presidente angolano eleito mesmo antes de os resultados finais estarem publicados?
Numa altura em que João Lourenço se mostra disposto a “cortar” o pescoço aos representes coloniais que não se querem ajoelhar, uma palavrinha do homólogo (embora nominalmente eleito) português talvez ajudasse a amenizar os falcões.
Marcelo Rebelo de Sousa encontrou-se no dia 5 de Agosto de 2016, no Brasil, com o vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, e com o ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, e o embaixador de Angola no Brasil, Nelson Cosme.
Como se sabe e como, aliás, já aqui foi escrito, Marcelo Rebelo de Sousa é o político português mais habilitado (a par do primeiro-ministro da caranguejola, António Costa) para não só cimentar como também alargar as relações de bajulação e servilismo com o novo Presidente, João Lourenço. Marcelo sabe que, por enquanto apenas oficiosamente – Angola é JLo e JLo é Angola.
Angola é um dos países lusófonos com a maior taxa de mortalidade infantil e materna e de gravidez na adolescência, segundo as Nações Unidas. Mas o que é que isso importa a Portugal? Importante é dizer que, sob a batuta de João Lourenço, Angola deixará de ser um dos países mais corruptos do mundo.
Aliás, muitos dos angolanos (70% da população vive na miséria) que raramente sabem o que é uma refeição, poderão certamente alimentar-se com o facto de assistirem um dia destes, ao vivo e a cores, ao beija-mão de Marcelo Rebelo de Sousa ao novo “querido líder”, João Lourenço.
Os pobres em Angola estão todos os dias a aumentar e a diminuir. Aumentam porque o desemprego aumenta, diminuem porque vão morrendo. Mas a verdade é que esses angolanos não contam para Marcelo Rebelo de Sousa, tal como não contam para António Costa, tal como não contaram para Passos Coelho ou José Sócrates. Por isso, Portugal faz bem (isto é como quem diz!) em esquecer que temos 20 milhões de pobres.
Marcelo Rebelo de Sousa sabe que se o anterior presidente angolano, José Eduardo dos Santos, esteve 38 anos no poder sem ter sido nominalmente eleito, João Lourenço também tem categoria para lá estar uma porrada de anos.
É claro que, segundo a bitola de Marcelo Rebelo de Sousa, continua a haver bons e maus ditadores. Muammar Kadhafi passou a ser mau, Eduardo dos Santos ainda está na fase de transição e João Lourenço já tem o estatuto de excelente. E que mais podem querer os bajuladores que enxameiam os areópagos políticos de Lisboa?
Portugal continua de cócoras, tal como estava em relação a Muammar Kadhafi que, citando José Sócrates, era “um líder carismático”. Talvez um dia Portugal chegue à conclusão que, afinal, Eduardo dos Santos e João Lourenço (embora de colheitas diferentes) são fuba do mesmo saco.
Certo é que, em relação a Angola, Marcelo Rebelo de Sousa continua a pensar da mesma forma que Cavaco Silva, José Sócrates, Passos Coelho, Paulo Portas ou António Costa, para quem Angola nunca esteve tão bem.
Os políticos portugueses (com excepção dos do Bloco de Esquerda) fazem um esforço tremendo (se calhar bem remunerado) para procurar legitimar o que se passa de mais errado com as autoridades angolanas, as tais que estão no poder desde 1975.
Por alguma razão o próprio general Bento dos Santos Kangamba, sobrinho de Eduardo dos Santos e intelectual de elevada craveira, elogiou a eleição nominal (coisa que em Angola nunca existiu) de Marcelo Rebelo de Sousa, apelando ao seu papel como “mediador” nas relações entre os dois países.
“Neste momento não temos que ter dirigentes com muito fogo-de-artifício entre os dois países e sim com calma e paciência para ultrapassarmos os problemas. Portugal não pode ser o país onde se criam problemas a Angola, mas onde se resolvem os problemas de Angola, espero esse papel de mediador dele”, disse o general num português que, compreensivelmente, teve de ser traduzido para… português pelos jornalistas.
Bento dos Santos Kangamba destacou também a “política muito madura” em Portugal, que “beneficia a democracia” do país, tendo em conta a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa.
“Vamos bebendo a experiência de Portugal, de democracia aberta”, apontou, deixando o desejo de ver Marcelo Rebelo de Sousa realizar uma visita de Estado (leia-se de bajulação) a Angola.
“Seria um muito bom sinal. Não tem como os portugueses estarem contra Angola, não tem como os angolanos estarem contra os portugueses. Nós estamos condenados a viver juntos, a estar juntos, é a mesma língua, vivemos juntos, sãs as mesmas famílias, os nomes são iguais”, recordou o general do clã Eduardo dos Santos.
“Quando se ganham umas eleições em Portugal, a primeira ligação que se tem de fazer é conversar com os dirigentes angolanos e criar aquele ambiente muito forte entre irmãos”, disse ainda o general Kangamba, certamente ciente de que – como muito bem ensinou o anterior ministro da Defesa, João Lourenço – quando Angola espirra Portugal apanha uma pneumonia.
“A situação está sob o controlo de um Governo democrático. O poder não se vai à força, o poder é aquilo que aconteceu em Portugal, quem ganha governa. Mas alguns partidos em Angola têm levado uma má-fama, mensagens negativas de Angola, fora do país e têm de rever as suas políticas”, criticou o sobrinho presidencial, fazendo uso do que lhe mandam dizer.