O Governo declarou o fim da pior epidemia de febre-amarela do mundo em uma geração, depois de uma campanha de vacinação de 25 milhões de pessoas apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU) graças à qual não surgiu nenhum caso novo em seis meses.
Pelos vistos o final de 2016 está recheado de boas notícias. Será resultado se estar a aproximar 2017 e, talvez, a realização de eleições? Só acredita quem quer e, sobretudo, quem não vive em Angola onde a realidade é bem diferente.
Há poucos dias o Governo revelou que – segundo as suas contas – o número de crianças angolanas que morrem antes dos cinco anos é de 44 por cada mil nados vivos, uma redução significativa comparativamente aos últimos cinco anos, quando as taxas apontavam para 115 por cada mil. A Organização Mundial de Saúde situava a taxa em 156 e não em 115. Mas o que é que isso interessa.
O importante é repetir até à exaustão uma mentira conveniente. É o que se passa também quando o mesmo governo diz que Angola é aquilo que não é: uma democracia e um Estado de Direito.
No caso da saúde até nem custa mentir. Desde logo porque os que morrem integram esse “exército” de 20 milhões de pobres de cidadão escravos que, embora nascidos em Angola e vivendo em Angola, não são angolanos.
Recorde-se que o surto de febre-amarela teve início um ano atrás na capital, Luanda, e espalhou-se por todo o país e para a vizinha República Democrática do Congo. No total, mais de 400 pessoas morreram.
Mais de 15 milhões de angolanos e 10 milhões de congoleses foram vacinados durante a campanha coordenada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em um comunicado intitulado “O fim da epidemia de febre-amarela em Angola”, o Ministério da Saúde em Luanda disse que a campanha de vacinação deteve o avanço da doença.
Em Setembro, a OMS disse que o surto estava sob controlo, mas que era cedo demais para dizer que havia sido completamente erradicado, já que havia mais de 6 mil casos suspeitos da doença transmitida por mosquitos.
As campanhas de vacinação esgotaram o estoque global de 6 milhões de doses duas vezes este ano, obrigando os médicos a administrar um quinto de uma dose normal, táctica que a OMS diz proporcionar ao menos uma protecção temporária.
O risco de ocorrência de surtos globais aumentou nos últimos anos devido à urbanização e à mobilidade crescente da população, e foi particularmente agudo neste ano por causa do evento climático El Niño, que multiplicou a quantidade de mosquitos.
A febre-amarela é transmitida pelos mesmos mosquitos que propagam os vírus do Zika e da dengue.