O sipaio, Estêvão Alberto, assume-se como Conselheiro de Imprensa. Antes de ter aterrado em Lisboa terá feito uma “luvuala” rodagem na Missão de Angola na ONU (Nova Iorque) e na Embaixada no Reino Unido. Imaginemos o que seria se não tivesse tanta experiência…
Por Orlando Castro
E o se o “mestre” Luvualu de Carvalho até sabia que os activistas pretendiam que a NATO atacasse Luanda, Estêvão Alberto não lhe fica atrás. Ainda não bate aos pontos Bento Kangamba e João Pinto, mas não tardará. Só é preciso deixá-lo falar.
Lembram-se da altura (o ano passado) em que Estêvão Alberto foi chamado a comentar um vídeo (também divulgado pela SIC) em que agentes da polícia se sua majestade o rei José Eduardo dos Santos, aparecem a massacrar fiéis da Igreja a Luz do Mundo, ocorrido no Monte Sumi, na província do Huambo?
Confrontado com as imagens, Estêvão Alberto não esteve com meias medidas e garantiu que o vídeo foi manipulado e não correspondia à verdade. Da mais recente reportagem da SIC (“Angola, um país rico com 20 milhões de pobres”) não disse que as imagens foram manipuladas mas, um dias destes, ainda volta à ribalta para dizer que foram recolhidas no Burkina Faso ou que fazem parte de um filme de ficção.
“Não estou surpreendido pela capacidade fabricadora, manipuladora, e manobradora destas imagens, refutamo-las, na sua totalidade porque não correspondem exactamente aquilo que aconteceu”, respondeu Estêvão Alberto.
Também não admira. Se calhar, bem vistas as coisas, nem o massacre existiu…
Um Conselheiro de Imprensa, mesmo que formado nas sarjetas da sabujice e caninamente domesticado, deveria saber que até para mentir é preciso ser inteligente. Coisa que, reconheçamos, Estêvão Alberto não é e dificilmente será.
Como não poderia deixar de ser (o patrão, patrono e domesticador manda e o sipaio obedece), o Conselheiro de Imprensa, Estêvão Alberto, aposta tudo (e a estratégia está a fazer escola no regime) em despejar um manancial de asneiras que dão suporte à sua missão em prol do “escolhido de Deus”.
Desta vez, a propósito da demolidora reportagem da SIC, não falou da NATO mas bem poderia dizer que a equipa de jornalistas portugueses contou com o apoio do Estado Islâmico e citar Luvualu de Carvalho para reeditar a existência de “mentiras grosseiras”.
“Esta reportagem da SIC é uma mentira redonda, porque as famílias dos indivíduos apresentados, tal como eles, na reportagem têm acesso a tudo o que Angola tem de melhor”, deveria ter dito Estêvão Alberto se, por acaso, o guião enviado pelo MPLA tivesse chegado a tempo.
“São uma mentira absoluta”, deveria ter afirmado Estêvão Alberto, dando o necessário dramatismo ao seu papel de palhaço da corte, neste caso, do embaixador Marcos Barrica. Tinha-lhe ficado bem. Não alteraria a postura anedótica mas teria somado pontos junto do seu domesticador.
Reconheçamos, contudo, que Estêvão Alberto até foi comedido. Se lhe tivessem puxado mais pela língua ele teria revelado que os jornalistas da SIC estavam a agir em causa própria porque a empregada da prima do tio do avô da cunhada do sobrinho da jornalista era da UNITA ou da CASA-CE.
Tal como Luvualu, Estêvão Alberto é um conselheiro itinerante na ignorância e residente na estupidez, razão pela qual considerou – e bem – que os angolanos que falaram à SIC fizeram “declarações de má-fé”, pelo que o regime não tem outra alternativa que não seja “repudiar com veemência todos as informações mentirosas que só visam desacreditar o Estado De Direito Democrático que é a Coreia do Norte, perdão, Angola”.
De qualquer modo, Estêvão Alberto fez muito bem em reagir à reportagem da SIC, mais uma que mostra que o rei dele vai nu. É preciso que a SIC, e todas as SIC do mundo, saibam que a verdade é um dom que Deus consagrou em exclusivo ao seu único representante na terra, ou seja, ao seu patrão – José Eduardo dos Santos.
Estêvão Alberto não disse, mas foi treinado e instruído para dizer que “o Governo de Angola tem tido abertura suficiente para termos encontros com quer que seja, quer aqui em Angola, quer na diáspora, para esclarecermos o que acharmos necessário”.
Estêvão Alberto tem estudado, é notório, as técnicas necessárias para que todos pensem que dormir com o José Maria é a mesma coisa do que dormir com a Maria José. Mas como os testes só têm sido feitos com os seus acólitos, falharam redondamente quando confrontados com a verdade não oficial.
Angola é um dos países mais corruptos do mundo. É um dos países com piores práticas democráticas. É um país com enormes assimetrias sociais. É o país com o maior índice de mortalidade infantil do mundo. Mas, conforme demonstrado pelos “Estevãos Albertos” do reino, é igualmente o país com o maior número de néscios por metro quadrado… no governo e estruturas afins.