Noticia a Angop que um acordo de cooperação no domínio da saúde, que abrange a prestação de serviços e a formação de quadros, foi rubricado hoje, em Luanda, entre o Ministério da Defesa Nacional e a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST).
Por Orlando Castro
Um acordo de cooperação no domínio da saúde… e quem representa o regime de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, é o ministro da… Defesa?
O referido acordo foi assinado pelo ministro da Defesa Nacional, João Lourenço, e pelo presidente da CEAST, Dom Filomeno Vieira Dias, na presença do ministro da Saúde, Luís Sambo, e de altas figuras da Igreja Católica, bem como altos oficiais das Forças Armadas Angolanas (FAA).
Então sendo um acordo no domínio da saúde, o ministro da… Saúde apenas esteve presente. E como se trata de saúde… nada como ter presentes altos oficiais das FAA.
Durante o acto, João Lourenço referiu que a assinatura do documento visa formalizar a cooperação existente há muitos anos entre as FAA e a Igreja Católica, no que toca à prestação de serviços de saúde e educação. Pois!
Salientou o ministro da… Defesa que, neste contexto, as unidades de serviços de saúde militar sempre prestaram assistência em comunidades onde há uma igreja ou paróquia e, de igual modo, a nível da educação, os militares têm vindo a beneficiar dos estabelecimentos de ensino que a Igreja Católica tem espalhado por todo o país. Pois!
“Acabamos de formalizar uma prática que tem sido exercida ao longo dos anos. As nossas instituições estão presentes em todo o país e ambas lutam pelos interesses nacionais”, disse João Lourenço. Pois!
Por seu turno, o presidente da CEAST, Filomeno Vieira Dias, frisou que a assinatura do protocolo representa a convergência de competências, valências e sinergias das duas instituições, com vista a melhor servir as comunidades.
“Esperamos que com esse protocolo se estabeleça um caminho para convergir com os serviços de saúde, em benefício das populações. A saúde é um elemento fundamental na segurança das populações e desenvolvimento das sociedades. Por isso, é um momento em que nos comprometemos com a segurança de todos”, sublinhou o prelado.
Contrariando os seus mais basilares princípios, a Igreja Católica está claramente “vendida” ao regime de sua majestade o rei de Angola, tendo sido, sendo e continuado a ser conivente nas acções de dominação, de prepotência, de desrespeito pelos direitos humanos. Aliás, a tese da libertação foi há muito – mas sobretudo nos últimos anos – manda às malvas pela hierarquia católica.
Ainda estão bem patentes na memória de alguns as informações de que, em 2011, foi celebrado um acordo entre o MPLA e a Igreja Católica para que esta o apoiasse na campanha eleitoral de 2012. Como as eleições de 2017 estão à porta, nada como assinar mais uns acordos com o Ministério da Defesa, testemunhados pelas Forças Armadas.
“Da parte do partido no poder agenciou o acordo Manuel Vicente, na condição de PCA da Sonangol a mando de Eduardo dos Santos, ao passo que da parte da Igreja estiveram alguns bispos do regime, Dom Damião Franklim e a Filomeno Vieira Dias de Cabinda, com orientações do militante cardeal Alexandre do Nascimento, escreveu na altura o Club K.
Que a hierarquia da Igreja Católica de Angola continua a querer agradar a Deus (José Eduardo dos Santos) e ao Diabo (José Eduardo dos Santos), aviltando os seus mais sublimes fundamentos de luta pela verdade e do espírito de missão, que deveria ser o de dar voz a quem a não tem, não é novidade.
Ao que parece, a enorme violação dos direitos humanos, a forma execrável como as autoridades tratam impolutos cidadãos, pouco interessa à Igreja Católica. Isto porque, de facto, o regime compra a sua cobardia dando-lhe as mordomias que a leva a estar de joelhos perante o MPLA.
Dom Filomeno Vieira Dias sabe que há cada vez mais gente a ser tratada de forma ignóbil pelo regime do MPLA. No entanto, desde que a Igreja não perca os seus privilégios vai fazendo o jogo dos poucos que têm milhões, estando-se nas tintas para os milhões que têm pouco ou nada.
Raros momentos de respeito pelas ovelhas
A Igreja Católica angolana disse recentemente – num raro e atrasado laivo de sanidade mental – que a falta de ética, a má gestão do erário público e a corrupção generalizada estão na origem da crise económica e financeira em Angola, e não apenas o petróleo, como tem dito o Governo.
Vamos repetir para ver se é mesmo verdade. A Igreja Católica – a de Angola, é claro – disse mesmo isso? Fala de falta de ética, má gestão do erário público e corrupção generalizada? Haja Deus!
O resultado deste apelo pela verdade foi, desde logo, a fúria dos acólitos de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos. Fúria consubstanciada num valente puxão de orelhas ao padre Quintino Candange que, na sua posição de director da Rádio Ecclesia, foi instruído para vir a público dizer o que o regime mandou dizer. Obediente, o padre prestou-se a mais esse frete.
A Nota Pastoral em referência, divulgada no dia 9 de Março de 2016, no final da primeira assembleia ordinária da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), fazia uma radiografia tão real quanto catastrófica para o regime que (nunca será demais dizer Haja Deus!) é responsável pela situação actual do país.
Os responsáveis católicos lamentaram “o agravamento preocupante da pobreza das populações e a paralisação paulatina dos agentes económicos”, devido às dificuldades na renovação de mercadorias por falta de poder aquisitivo”, bem como a “falta de critérios no uso dos fundos públicos, gastos exorbitantes, importação de coisas supérfluas, que não aproveitam às populações”.
“Aumenta assustadoramente o fosso entre os cada vez mais pobres e os poucos que se apoderam das riquezas nacionais, muitas vezes adquiridas de forma desonesta e fraudulenta”, acusava a CEAST que era peremptória ao afirmar que a crise actual em Angola deve-se também à “mentalidade de compadrio ao nepotismo, em acúmulo à discriminação derivada da partidarização crescente da função pública, que sacrifica competência e o mérito”.
A partidarização dos meios de comunicação social foi também criticada na Nota Pastoral, dizendo que esses meios públicos “devem estar ao serviço de todos”. O que é que a CEAST foi dizer. As hienas e restante carnívoros saltaram de imediato para a arena a pedir sangue.
Ao fazer uma radiografia do país, os bispos católicos citaram o aumento do índice da mortalidade de crianças e adultos, devido ao paludismo, diarreia e febre-amarela, a falta de água, a acumulação do lixo, desvio de medicamentos para farmácias ou unidade de saúde privadas, enquanto muitos hospitais têm falta de medicamentos e nem conseguem alimentar os doentes.
A seca no sul de Angola não passou ao lado da Conferência que apela à mobilização de todos para ajudar os que sofrem e exige uma definição de “políticas concretas que ponham fim a estes males crónicos”.
Os bispos classificaram de “grave a prevalência de espectáculos de conteúdo moral, científico e cultural, duvidoso penalizando a cultura das populações angolanas”.
O resultado parcelar, outros estão a caminho, não se fez esperar.