Um comando unificado entre a Polícia Nacional e as Forças Armadas (FAA) é acusado de ter cometido, na madrugada do dia 14 de Agosto, um assassinato selectivo, no município do Cassongue, província do Kwanza Sul, matando todos os homens, num total de 25. O Folha 8 esteve no local em reportagem.
Por Filipe Dambi (*)
“M ataram-nos como se fossemos cães sem dono. Os militares e polícias invadiram a aldeia a disparar durante toda a noite e madrugada como se fossem demónios. Nunca acreditei que o governo fosse perseguir desta maneira os Ovimbundus, por causa de uma religião”, denunciou Bumba Handalika.
Os populares disseram ao Folha 8 ter sido uma acção propositada dos militares para eliminar todos os crentes de Kalupeteka, “que sejam naturais do Sul e isso pode vir, um dia a provocar uma grande guerra, pois não vamos aceitar continuar a ser mortos desta forma, como se fossemos bandidos. Eles não fazem isso com as igrejas dos brancos, somente a dos pretos e que sejam sulanos. É mesmo tribalismo, pois no norte isso eles não fazem, porque se protegem. A Igreja Universal matou mais de 16 pessoas lá em Luanda, mas o tribunal absolveu-os e não lhes aconteceu nada, porque são brancos e estrangeiros. Isso não é racismo é a realidade, pois desde que isso aconteceu já assassinaram mais de 2000 dos nossos crentes, todos inocentes e ainda não estão cansados, como mostraram em Cassongue”, assegurou a nossa fonte.
Entretanto, para branquear a situação, os militares e a Polícia, face à onda de indignação popular, tomaram duas decisões; a primeira foi a exoneração do comandante municipal da Polícia (a corda rebenta do lado mais fraco) e a outra, a apresentação, nos órgãos de comunicação social do regime, das mulheres e crianças da aldeia, para se auto incriminarem.
“Nunca mais vou votar, neste governo. Eles são piores que os assassinos e bandidos que nós conhecemos, pois entram nas nossas casas de noite, arrastam-nos para fora e matam-nos diante das nossas mulheres e filhos, com muita maldade e frieza”, afirmou Bumba.
“Matam-nos como cães”
Os incidentes tiveram início, no dia 09.08, quando a Polícia de Cassongue, liderada pelo comandante, sem justificativo de perturbação da ordem, decidiu invadir uma aldeia onde viviam em pacífico isolamento, 18 famílias, sobreviventes do Massacre do Monte Sumy (Huambo) da Congregação Religiosa Luz do Mundo de Kalupeteka.
O problema começou quando os agentes, ao invés de dialogarem com as populações sobre o cometimento de algum ilícito, começaram a disparar indiscriminadamente contra os fiéis, resultando deste acto tresloucado, a morte de cinco cristãos, sendo duas crianças (de 10 e 12 anos de idade), uma mulher e dois homens, tal como Folha 8 noticiou no passado dia 12.
Diante deste massacre a população reagiu, em legítima defesa, lançando-se contra os agentes policiais, tendo desarmado e morto dois, com pedras e paus.
Esta acção determinou, o pedido de reforço militar, que foi desproporcional, pois vieram cerca de duas companhias de agentes da Polícia de Intervenção Rápida e igual das Forças Armadas, que sitiaram a aldeia proibindo qualquer habitante de sair dela, até às 23h50 do dia 13.08.
A partir daí começou uma verdadeira caça ao homem, com uma verdadeira chacina, durante toda madrugada, para matar os homens conotados com a Congregação Religiosa “Luz do Mundo”.
Do que F8 apurou, no local, apenas houve um sobrevivente, que conseguiu escapar desta barbárie, para a denunciar. Foi isso que terá levado o regime a levar como detidos, algumas mulheres, crianças e feridos sobreviventes, para a cadeia do Sumbe e posteriormente apresentados na comunicação social pública.
Recorde-se que das 18 famílias que habitavam a aldeia, cada era composta em média, entre 5 à 10 pessoas, num universo calculado de cerca de 180 cidadãos, agora deserta de civis, por uns terem sido presos e outros assassinados.
Ainda no local, sob o cheiro intenso de pólvora, o F8 localizou um membro do gabinete dos Direitos Humanos do FORDU, que informou integrar uma equipa destacada no terreno, para apurar in loco o que realmente se passou.
“Neste momento é prematuro qualquer informação fidedigna, pois estamos a fazer o levantamento e tentar encontrar sobreviventes e mesmo abordar alguns agentes policiais e militares, para nos explicarem quais as motivações do governo continuar a assassinar pessoas por motivações religiosas”, disse esse membro do FORDU.
O defensor dos Direitos Humanos disse lamentar, não poder fechar o relatório do Massacre do Monte Sumi, “porque sempre que o queremos fazer, acontece mais um incidente mortal, onde a polícia, não investiga, basta, por vezes um boato e logo, morre um inocente por ser conotado ou mesmo pertencente a congregação religiosa de Kalupeteka”, conclui.
Numa altura em que o MPLA prepara o seu VII Congresso, continua a espalhar o luto e a dor nas famílias angolanas, assassinando todos quantos não partilhem das suas ideias.
(*) Em Cassongue, Kwanza Sul